Pobre do homem rico!
Porque ele desconhece,
Porque ele nunca entendeu
Que nu, igual, sem nada,
Despojado de riquezas,
Assim, um dia, nasceu.
E que terá tantas tristezas
Na vida que lhe trará surpresas.
E que tantas elas serão!
E que marcas lhe deixarão.
Serão profundas, inesperadas,
Como as, por si, espalhadas.
E que profunda será a dor
Se não encontrar o amor.
Escuta, rico pobre senhor.
Apenas terás falsos poderes
Enquanto dinheiro houveres.
Terás barcos, casas, mulheres
E tudo o mais que quiseres.
Neste mundo te sentirás rei,
Mas sem trono, acima da lei.
Sem tropas para comandares
Mas com modestos a humilhares.
Acabarás, na penumbra, nas vielas,
Embriagado, à luz de velas.
Por atalhos, serras e serranias,
Buscarás amigos nas cercanias,
Até tua alma encontrares.
Tortuosos caminhos percorrerás,
Na luxúria onde errarás.
Terás mulheres exuberantes,
Do teu dinheiro, amantes.
E enquanto rico fores
Te ofertarão, até, flores.
Mas só enquanto tiveres sorte,
Ainda que não tenhas porte.
Com a vida de outros jogarás.
Com teus pés, os pisarás.
Humildes te suplicarão
Que lhes dês algum pão.
Contra a fome a lutarem
Para teus bolsos engordarem.
Tu, pobre rico, verás
Que sem nada, ficarás.
Porque, um dia, ela chegará,
O teu maior fantasma virá.
Chegará, de negro, vestida.
Carpideiras, fim da vida,
Nada vais poder fazer.
E morto te irás ver.
Poderás então perceber
Que havia uma outra porta
Que, à partida, cerraste.
Teu corpo outrora cuidado
Aos poucos se vai desfazendo
Exalando o fedor dos pobres
Que te serviram, sem banho,
Porque o teu sagrado dinheiro
Não o soubeste partilhar.
Triste sina, seres rico
Sem inteligência, em ação.
Passeaste a tua presunção
Entre feiras de vaidades.
Mas a vida é aprendizagem
E terás de voltar, um dia.
Voltarás como vassalo
E aprenderás a respeitar.
Terás nova oportunidade.
Preferirás ser trabalhador
Para encontrares o amor.
E, sem dinheiro, ser, senhor,
Poderás, por fim, ter valor.
Merecerás ser amado
POR: JOAQUINA VIEIRA
1/8/2011