Sucedem-se ruas e ruelas,
Cidades e cidadelas.
E a minha imaginação
Que não cabe nelas.
Entro em vidas de invenção
Como lobo sem alcateia
Que, na noite, ataca a aldeia.
É o seu natural instinto,
Fruto de seu corpo faminto.
A imaginação abandonei,
Para lá da galáxia que sei,
Onde penso que possam servir
Outros temas, noutro porvir.
Onde faça sentido a vida
E se dê graças, porque é tida.
Fecho os olhos e, por instantes,
Por entre planetas distantes,
Concebo vida, em profusão,
Onde os valores são razão.
E em pradarias de cativar,
Com o coração a transbordar
De emoção e de letícia,
Encontro, por lá, o meu guia.
E nem sei como expressar,
O que consigo experimentar.
E regresso, sem ligeireza,
Pelo desabar da incerteza.
E adormecida ou despertada
Apronto cada alvorada.
Meu imaginário, insatisfeito,
Fez bater, forte, o meu peito.
Faz viagens para me abanar,
E me obrigar, solene, a zarpar
Da sonolência dormente,
Onde não tenho parente.
E para embuçar a monotonia,
Escondo-me na filosofia.
E um hino, vou inventando,
Para comemorar, cantando,
Pequenos pedaços de felicidade
Que se escapam da verdade.
E, entre paredes, escondida,
Como que protegida por betão,
Receosa de ser agredida,
Sobrevivo, em reclusão.
Com alguma cor ajuntada
E objectos de funcionamento,
Para a vida ter fundamento,
Tento a tristeza extenuar.
Mas quando libertada,
Esteja perto ou afastada,
Não desejo regressar.
POR JOAQUINA VIEIRA
20/08/2011