A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday, 20 August 2011

PEDAÇOS DE FELICIDADE


Sucedem-se ruas e ruelas,
Cidades e cidadelas.
E a minha imaginação
Que não cabe nelas.
Entro em vidas de invenção
Como lobo sem alcateia
Que, na noite, ataca a aldeia.
É o seu natural instinto,
Fruto de seu corpo faminto.
A imaginação abandonei,
Para lá da galáxia que sei,
Onde penso que possam servir
Outros temas, noutro porvir.
Onde faça sentido a vida
E se dê graças, porque é tida.
Fecho os olhos e, por instantes,
Por entre planetas distantes,
Concebo vida, em profusão,
Onde os valores são razão.
E em pradarias de cativar,
Com o coração a transbordar
De emoção e de letícia,
Encontro, por lá, o meu guia.
E nem sei como expressar,
O que consigo experimentar.
E regresso, sem ligeireza,
Pelo desabar da incerteza.
E adormecida ou despertada
Apronto cada alvorada.
Meu imaginário, insatisfeito,
Fez bater, forte, o meu peito.
Faz viagens para me abanar,
E me obrigar, solene, a zarpar
Da sonolência dormente,
Onde não tenho parente.
E para embuçar a monotonia,
Escondo-me na filosofia.
E um hino, vou inventando,
Para comemorar, cantando,
Pequenos pedaços de felicidade
Que se escapam da verdade.
E, entre paredes, escondida,
Como que protegida por betão,
Receosa de ser agredida,
Sobrevivo, em reclusão.
Com alguma cor ajuntada
E objectos de funcionamento,
Para a vida ter fundamento,
Tento a tristeza extenuar.
Mas quando libertada,
Esteja perto ou afastada,
Não desejo regressar.

POR JOAQUINA VIEIRA
20/08/2011

DESPIDOS, DE TUDO ...


É a peste que passa, a cavalo,
Em vales e prados verdejantes.
Combinaram-se os elementos,
Acercaram-se as trovoadas,
Chuvas, vendavais, fortes ventos.
Os humanos pediram clemência,
Quando tormentas afloraram,
Dentro das suas passagens
Onde se passeiam miragens.
Entre árvores e flores silvestres,
Onde nasce a natureza agreste.
Por ali já passou a peste,
Negra, vestida de cavaleiro.
Os alforges sem dinheiro,
Sob a manto, a espada,
Dizimando um povo inteiro.
No rescaldo, e na dianteira
Montada em seu corcel,
Passeou-se, desdenhosa,
E num esgar rendilhado,
Escorreu o mundo inteiro,
Como se não fosse nada.
Para trás ficou a escuridão,
Dos que não tiveram perdão.
Mas escaparam os algozes
Que, em sua lide frenética,
Percorreram todo o chão,
Para encontrarem o tostão.
Seguiram, de longe, a peste,
Decadentes e sem pressa.
Encontraram tesouros, em frestas,
Ignorando quem os teria largado.
Mas ressurgiu o cavaleiro
E voltou, a peste, a semear,
Dando-lhes a lição derradeira,
Derrubando-os para a trincheira,
Onde já jaziam guerreiros.
Tudo, para todos, findara.
Morreram, não levaram nada!
Despidos de tudo nasceram,
Carregados de nada se foram.

Por Joaquina Vieira

03/08/2011

O TANGO


Vem comigo, João,
Vamos dançar o tango.
Ainda que não saibas dançar,
Deixa-te, por mim, levar.
Mexe os pés, depois as ancas,
Abana o corpo e a cabeça,
Como na dança do ventre.
Teus olhos fixos nos meus
Esquece o resto,no balanço,
Bastando que entres na dança.
Confia em mim, como sempre,
Que sei poder-te levar
Pelo salão da vida, rodopiando,
Ao meu corpo, ancorado,
De mente vazia, apenas.
Basta só confiares no tango,
Sentindo seus movimentos
Que falam de sentimentos.
Desejo que, só nós dois,
Nesta dança, os sintamos.
Nossas pernas entrelaçadas,
Como se estivéssemos
A construir nosso ninho.
Entrega-te, e ao teu corpo esguio,
Ao prazer do movimento,
E transforma-te noutro elemento.
Como o Universo te preza,
Na vida como na dança,
Tudo será claridade e esperança,
Bastando que te deixes guiar.
Em paz acabará nosso tango,
Há tanto tempo aguardado.
Nunca tenhas medo, João,
Que sempre te darei a mão.

Por Joaquina Vieira
20/08/2011

SOU QUEM....



É assim, não tenho culpa…
Se meu felino corpo,
Junto ao teu, se arrepie.
É assim, não tenho culpa…
Se, junto a ti, me venha o cio.
É que sou fêmea, de noite,
E só mulher, de dia.
É assim, não tenho culpa…
Por tudo o que sinto por ti.
É que alguém me fez mulher.
Hormonas correm, à desfilada,
No teu leito, de madrugada.
Sou mulher, para teu deleite.
Para quê, me questionar,
Terei mesmo de saber,
O porquê de te amar?
Antes de mais, sou amante
E quando, ao de leve, te toco,
Te desperto e te alteias.
E minha língua, húmida, molhada,
Ansiosa, teu esguio corpo percorre.
Sinto o estremecer do teu desejo.
Acendo-te e te quero em mim.
Sou a fêmea que te levanta,
Dessa tua aparente letargia.
E meu corpo te sacode
E te abana, como o vento,
E te aquece, como a chama,
Quando te derrubo,
Na minha cama, quente.
Sou vulcão, desbordado,
Quando presa a ti.
Entre ais, suspiros e abraços,
Eu sou, também, ventania.
Mas também sou mulher
E te recebo, se estás triste,
E te abraço, se desistes.
E, maviosa, te beijo
E, meu afecto, te dou.
Se algo está menos bem,
Não permito que desanimes.
Eu te ergo, num abraço,
E te elevo, com ternura,
Quando tua mente te derruba.
Sou quem Deus pôs no teu caminho!
Sou mulher, sou mãe, sou amiga,
E sou mais do que a mulher que sou.
Sou a companheira do teu trilho.

Por Joaquina Vieira

17/07/2011

EM TUA FONTE, BEBI.


Em ti me escondi,
Dentro de ti me refúgio.
Na tua sombra esqueci
Memorias, por mim, perdidas.
Foi na tua sombra
Que mergulhei minha vida
E onde, do calor, me protegi.
Foi em tua fonte que bebi.
Esperavam-me, teus braços abertos,
Eles já esperavam por mim.
Eu, mulher sorrateira,
Em tua claridade entrei,
Em minha mesa te saciei,
Em minha cama te deitei
E, teu corpo, cheirei.
Então, irrompeu a doçura
Do ser pleno de ternura que,
Bondoso, me sorria.
Bebemos da mesma fonte
Enquanto eu abria asas,
Dentro da sua sombra.
E  recebeu, no seu abrigo,
Outro ser, que viria a ser,
A sua estrela guia.
E, para trás, me deixou
Porque tomou ela o meu lugar.
Na sua sombra, frondosa,
Também ela se protegeu.
E o ser minúsculo que cresceu
É, hoje, a sua estrela, formosa.
Em momentos de agonia,
Então nela pensa e ela o guia.
Até aqui nos protegeu e,
Agora e para sempre, ansiamos
Sua presença em nossa vida.
A sua sombra, majestosa,
Foi ela que me deu o mote
E também a inspiração,
Para lhe lembrar que nós,
Eu e minha filha,
Somos a sua aspiração.
Criou o seu caminho,
Desenhou a sua casa,
Para que nós coubéssemos.
Partilhamos a sua vida.
Que nunca lhe falte a sombra,
A que sempre nos protegeu.
Nós, as duas, te guiaremos,
De mãos dadas,
 À sombra da vida,
Até à eternidade do amor.


POR JOAQUINA VIEIRA

ENCONTRO MARCADO


E eu, aqui, desamparada,
Distante, não conformada,
Em descontentamento de impotência
Que entra em minhas entranhas
E fere meus sentimentos.
Eu só aspiro proteger
Esse outro ser que espero.
Riscos de desespero!
Horas, a dois, passadas,
Sem conta, cheias de apelos,
Crispadas de saudade.
Quando ele está presente
E pressinto a alma rasgada,
Seu corpo dá o sinal
De sua mente em turbilhão.
E nada há que o contente.
Mas se ele está ausente,
Outros sentimentos desperta.
Temos encontro marcado
Dentro da nossa balsa,
Em mar revolto, inquietado.
Enquanto o meu pensamento,
Com o dele, está a meditar,
O seu mal-estar fundeia.
É cavalo forte, selvagem,
Em seus atos de bravura.
Nunca lhe faltou a coragem
Mas, neste difícil momento,
Aparenta estar sitiado,
Nesta sala de espera, impaciente,
Aguardando um diagnóstico.
Terá o peito a estoirar,
Eu sei, porque entendo
O ser inconformado que ele é.
Ele é o meu anjo da guarda!

Mas também o meu menino
Que, do meu colo, carece.
Quando as defesas o abandonam
Ameaça ruir, desmoronar-se.
Quando muros o cercam
E eu o posso encontrar,
Com um abraço de emoção
Ele entra em ação
E dá ouvidos à razão.
Ficarei, por aqui, sentada
Até que dele tenha sinal,
Até que, comigo, venha ter.
Assim se fazem encontros
Sejam de amor ou não.
Com o coração palpitante,
Fácil é perder a razão.
Mas não é hoje, eu sei,
Hoje não é esse dia.
E quando, para mim, voltar
Um abraço me irá dar.
Será de alegria e felicidade,
De esperança renascida.

Por: Joaquina Vieira
 12/07/2011

MEUS OLHOS

 

Meus olhos se espraiaram
E, em poeira, se espalharam
Entre a meda e a eira,
Entre a palha e o palheiro.

Dentro de espaços vazios
Onde as enxergas são frias,
Meus olhos que estão fechados,
No pó do caminho, enterrados,
Imaginam-se a deambular
Em jardins por colorir
Com flores por florir.
Mas estes meus olhos verdes,
Desmaiados, perdem a cor,
Entre sonhos jamais vividos,
Entre amores desvanecidos.
Mas, noutra noite, regressam
Onde novos sonhos afloram.
São outros mundos a que sobem,
A vidas, não minhas, se mostram.
A almas entornadas, confusas,
A outras dissipadas, difusas,
Que, em mim, se baralham.
A elas me quero aliar
De mente e coração abertos.
Mas limito-me só a espreitar
Porque, delas, não faço parte.
Meus olhos, pequenos, meigos,
Abertos, vastos enquanto dia,
Trazem-me o esplendor da cor.
Da cidade, de onde vem o odor,
Meus olhos a contemplam
E, dela, tudo assimilam.
Entre a noite e o dia se confundem
Na poeira de outros dias,
Nos rastos de outras noites.
Mas volta a calma a imperar
E meus olhos, pequenos e frios,
Em cada dia que volta,
Voltam, de novo, a brilhar.
Olhos meus que tudo fitam…

Por Joaquina Vieira

20/08/2011