A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Sunday, 29 July 2012

O RIO DA ALMA - QUEM FOI ?


Porque me fizeram assim,
Quem assim me decidiu?
Poderia ser de outra forma?
Quem foi que me pôs aqui
E que, de seguida, partiu?
Matéria em fragmentos,
Pela Lua fui rejeitada.
Mas, desde logo, a perdoei,
Porque, por ela, me encantei.
Porque, da Terra, companheira,
Ela é a minha companhia.
Ela me inspira, ela me guia,
Mais do que aquela estrela distante,
Que apesar de tão brilhante,
O seu brilho não me alumia.
Mais do que o próprio Sol,
Que transforma a noite em dia
E que, por vezes, me asfixia,
Quando se torna abrasador.
Fui gerada sem forma nem cor,
Como tigela quebrada
Que havia que compor.
Vim de um acto de amor,
Por vontade de um criador
Que, de seguida, partiu
E nem sequer me ouviu.
E o meu olhar, envidraçado,
Porque o fizeram assim,
Assim, desta forma?
Não sei viver, em mim,
Não sei viver, assim.
Fui feita para ser amada,
De luz fui desenhada
E, neste mundo, largada.
Mundo frágil, frágil eu.
Pobre de mim, coitada,
Que fui aqui abandonada
E ninguém me disse nada.
Alguém que logo partiu
Porque assim o decidiu,
Porque assim teria que ser.
Para que me pudesse fazer,
Para que, alguém, pudesse ser.
E o que me deram, afinal,
De que foi que me dotaram,
Qual era, então, o meu dote,
Quando aqui me semearam?
Um dom intangível, sem preço,
Que enquanto viver, o mereço,
O miraculoso sopro da vida.
A sementeira de esperança,
Sob a forma de criança,
Para, a partir dela, crescer.
E porque foi a Terra a escolhida,
Porque aqui vim nascer?
E a forma com que nasci,
Foi alguém que a escolheu
E que, de seguida, partiu?
Vim para que pudesse viver,
E para alguém vir a conhecer.
Que a morte me não leve
Porque muito tenho para dizer.
Não foi por culpa minha,
Tudo isto acontecer.
Eu sou aquela que veio,
Porque alguém o decidiu
E, de seguida, partiu.
Não nasci por engano,
Vim à Terra para partir.
Mas, antes disso, agir.
Para, de amor, ser feliz,
Para gerar vida e renascer.
Faço parte da alvorada
E acordo ao amanhecer.
Não vim aqui para sofrer!
Vim, antes, para esquecer
E para, de novo, começar.
Eu nasci para aprender
E para meu mundo marcar.
Sei bem o quanto valho!
Sou uma carta de baralho,
Que, alguém, baralhou
E que, com ele, jogou.
Mas, de pronto, se retirou!
Não sou mais do que um fado,
Um fado triste, inacabado,
Mas que será, um dia, cantado
 Numa viela, ao luar.
Aqui me chamam “querida”.
Mas sou eu e a minha vida
Que aqui estamos a contar.
Mas quem comigo contou,
De pronto se retirou.
Aqui me trouxe para contar!
Alguém me queira cantar!

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA
29-07-2012