A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 15 September 2012

MINHA PENA, MINHA SORTE



Busco ensejos de distensão,
Correndo, desnorteada,
Na vida, caixa cercada.
Mas só encontro pedaços,
Destroços da minha paz.
Se escapo para Oriente,
Logo a minha consorte,
A omnipresente morte,
Se assoma e me acena.
Ela será a minha pena,
Ela será a minha sorte.
Espreita-me de soslaio,
Como se eu fora seu aio,
E gesticula, enviando sinais
A mim, como aos demais.
Ela surge, de rompante,
Aparecendo a cada instante,
Em cada recanto antigo,
Como versos ainda sem rima.
Mas se a ela me dirijo,
Acabo esvaziada na rotina.
E é a tristeza que ainda redobra
A minha lendária insatisfação,
Ao ponto de deixar derrotado
O meu cercado coração.
À tona, a nada me agarro,
Nadando dentro da vida.
E vejo-me, a cada momento,
Esbracejando, perdida.
Estará a vida escondida,
Algures, atrás da linha?
Então, se assim for,
Vou deixar a saudade
No ventre da escuridão.
Viverei a vida, a que tiver,
E farei dela meu lema.
E viverá em cada poema
Que minha mão e minha pena
Tiverem tempo para escrever.
Não apressarei a despedida
Enquanto me agarrar à vida.
E vivo em qualquer recanto,
Na berma da rua, na viela,
Até que me venha buscar, ela.
E creio que jamais saberei
Qual será o melhor instante,
O momento que será o certo.
É um futuro sem futuro
Que não me pode pertencer.
Porque nada me pertence,
Porque nada tem futuro.
Tão pouco o próprio futuro!
Vou assim continuando
A amar cada momento.
Porque a vida são momentos
Presentes, passados sem futuro.
Porque está tudo no presente,
Um presente sem futuro.
E embora contrariada
Pelos obstáculos da vida,
Será ela a minha inquilina,
E viverá escondida a meu lado.
Será ela quem de noite me afoga,
Em sonhos passados, de outrora?
A morte, não tendo caminhos,
Apenas persegue a vida.
Já me sinto preparada
Para bater em retirada,
Quando o palco se apagar.
Poderão todos bater palmas
Porque, no fim, é de palmas,
Que esperam merecer, as almas.





Autora: Joaquina

14.09.2012