A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday 28 February 2012

RIOS DA ALMA - MARES, MARÉS E LAMENTOS



Marinheiros de esquecidas marés,
Fantasmas em ondas presentes,
Cruzam-se, comigo, ao chegarem
À praia dos desentendimentos,
Onde me venho expurgar.
E escondo o meu rosto, magoado,
Entre as minhas mãos impotentes.
Navegando, por minha conta,
Recordo os que se afogaram
Quando procuravam escapar
Da miséria que, em suas terras,
Os escravizava, encalhados.
Já nem eu não lhes posso valer,
Porque, nem a mim, sei valer.
Em ondas mansas me baloiço,
Num balanço que vai durar,
Enquanto meu fim não chegar
E que não me cabe decidir
Mas que me cabe suportar.
Eu, no meu barco, à deriva, errando,
Tu, companheiro, por mim, passando,
Nesse teu jeito de lamentação
Que eu lamento não lamentar:
-Acredita e ergue a proa
Porque à praia irás chegar.
Vagabundo que navegas no tempo,
Naquele que, para ti, vai chegar:
-Sorri para dentro da alma
Para que ninguém te veja chorar.
Que triste lamento, este tempo,
Tempo que não aduba a coragem
Que não sobra para nos amarmos.
Entre encontros e desencontros
Que, somados, formam a vida,
Vive-se a vida feita de anos,
De enganos e de desenganos.
Existência que é feita de tempo,
De tempo que tudo leva,
No tempo que é o nosso perder.

AUTORA: JOAQUINA  

28-02-2012

CHORAR


Creio, porque sementes lancei,
Que, quando o meu dia deixar,
A maior riqueza te doarei.
É um tesouro não escondido,
Porque, por mim, foi descoberto,
Mareando na barca do amor.
Vale mais que toda a prata e ouro,
Que alguém possa acumular.
É um misto de muitas peças,
Todas de desmedido valor,
Porque são concebidas de amor.
E são geradas em momentos,
Instantes de ternura e encanto
Que, com ternura, evoco,
Que, com encanto, revejo.
São o cimento e os alicerces
Que suportam a casa da vida.
São as lembranças, as recordações
Que me sufocam de saudade
Que nem a sei disfarçar.
Que me provocam emoção,
E que me fazem chorar,
Do nosso tempo, que é passado,
E de emoção, porque é perdido,
Apesar de saboreado e vivido.
São memórias que voltarão
À tua alma, que serenará,
Porque reviver, ela saberá.
Recordar-me-ás, com carinho,
Pelo tempo que dispusemos,
Pelas vidas que entrelaçámos,
Pelos sonhos que sonhámos,
Pelos carreiros que percorremos.
Quando me sento, para escrever,
Sei que eles me vão inspirar.
É como a minha alma expurgar
Porque tudo o que sai de mim,
Dos confins da minha mente,
São os meus estados de alma.
Enquanto estivemos juntas,
Absorvidas com detalhes,
Que são retalhos de vida,
Nem podemos exprimir,
Nem sequer confessar,
Como nos amávamos.
Foi no silêncio que fazia
Que, tantas vezes, escutava,
Os lamentos da tua alma.
E quando te via esgotada,
Os teus cabelos afagava,
Até te deixares adormecer,
Confiante, nos meus braços.
São tempos que já não voltam,
Porque nada pode voltar.
São as águas das fontes
Que, ao mar, se vão juntar.
E é num mar de emoções,
O meu Oceano de recordações
Que, as saudades, doces saudades,
Me provocam, ainda, a sensação
De que gatinhas, perto de mim.

PARA  A ÂNGELA, MINHA FILHA

AUTORA: JOAQUINA
28-02-2012