Marinheiros de esquecidas marés,
Fantasmas em ondas presentes,
Cruzam-se, comigo, ao chegarem
À praia dos desentendimentos,
Onde me venho expurgar.
E escondo o meu rosto, magoado,
Entre as minhas mãos impotentes.
Navegando, por minha conta,
Recordo os que se afogaram
Quando procuravam escapar
Da miséria que, em suas terras,
Os escravizava, encalhados.
Já nem eu não lhes posso valer,
Porque, nem a mim, sei valer.
Em ondas mansas me baloiço,
Num balanço que vai durar,
Enquanto meu fim não chegar
E que não me cabe decidir
Mas que me cabe suportar.
Eu, no meu barco, à deriva, errando,
Tu, companheiro, por mim, passando,
Nesse teu jeito de lamentação
Que eu lamento não lamentar:
-Acredita e ergue a proa
Porque à praia irás chegar.
Vagabundo que navegas no tempo,
Naquele que, para ti, vai chegar:
-Sorri para dentro da alma
Para que ninguém te veja chorar.
Que triste lamento, este tempo,
Tempo que não aduba a coragem
Que não sobra para nos amarmos.
Entre encontros e desencontros
Que, somados, formam a vida,
Vive-se a vida feita de anos,
De enganos e de desenganos.
Existência que é feita de tempo,
De tempo que tudo leva,
No tempo que é o nosso perder.
AUTORA: JOAQUINA
28-02-2012