Na forja que é o tempo
Se moldam os elementos
Dos quais me vejo feita.
Mas na forja do ferreiro
Se dobram os instrumentos
Que fazem a vida melhor.
Assim, meu corpo inteiro,
Moldado e modelado,
Quando velho e cansado
Será, no fim, repatriado
À forja que o fez nascer.
É um aglomerado de átomos
Que veio do pó e do vento
E que se prepara, dia a dia,
Para o eterno momento.
Quem sou eu, afinal?
Bibliotecas já esgotei
Em busca do sentido da vida.
Mas nunca encontrei um sábio
Que me pudesse convencer
Da origem, de onde nascem
As ideias que me inundam.
Já vi o nascer do Sol,
No seu infinito mistério
E vi o nascer das ondas
Que o mar traz para a praia.
Já vi os pesqueiros pescarem,
Seres vivos, em desesperação,
E vi o nascer das sementes
Que me servem de alimento.
Mas nunca vi o nascer das ideias
Que me assaltam o pensamento.
Fabrico ideias, nesta mente,
Que me deixam descontente.
É nela que tento encontrar
Um sentido para aqui estar.
Mas também sei contemplar
Toda a beleza que me cerca
E que, para mim, parece nascer.
Mas são meus momentos sombrios
Que, quando expostos ao luar,
Me constrangem a recuar.
Nascem, em mim, contrafeitos,
Todos os amores-perfeitos
Que enfeitam a minha janela.
Quando o sono se arreda
Eu espreito através dela
E percebo a minha filosofia,
Atada em minhas mãos.
Escuto, então, o meu coração
Que me diz que sou, apenas,
Uma filha da contradição
Habitando a imensidão.
POR JOAQUINA VIEIRA
22/10/2011