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Alpes Franceses |
Quando, sorte
minha, a encontrei,
Era pequenina, roliça.
Aprendeu a andar a
meu lado
Enquanto eu
trabalhava
Em casa, paciente,
por mim esperava.
E os seus hábitos,
quando eu chegava!
Que forma de
demonstrar seu amor.
Lambia-me e
seguia-me, ladrando.
Comigo aprendeu
algumas regras
Que, com amor, lhe
ensinava.
A uma ordem, ela se
sentava.
Com os outros
ladrava, sem parar.
Assustava qualquer
distraído.
Ela guardava o
nosso lar.
Seu tamanho era
insignificante
Mas, perante um
estranho,
Ela provocava tal
alarido.
À medida que foi
crescendo,
Nossa vida tomava.
Dormia e esperava.
Era doce, meiga, amiga.
A todos encantava.
Ajudou a crescer
quem a desejou.
Com ela brincou e
nunca a decepcionou.
As duas criaram
laços tais.
A minha cadelinha
fazia de modelo,
No sofá sentada,
direita, calada.
Minha filha
brincava com ela,
Como se fossem irmãs.
Punha-lhe ruídos,
nos ouvidos,
De música metálica,
barulhenta.
Aquele pequeno ser,
chamado Lady,
Nunca se queixou do
tormento.
Mas quando eu
regressava a casa
Ela mostrava-lhe os
dentes,
Como que a dizer: “
Basta,
Ainda não estás
contente?”
Veio, depois, outro
tempo.
Tudo roía, a seu
contento,
Quando, sozinha, em
casa.
Sempre, em algo, se
vingava.
Fora isso, ela era
paciente.
Foi connosco, pela
vida fora.
Na nossa, foi um
presente.
Vinham as férias
pela Europa.
Fronteiras para
atravessar.
A Lady, a meus pés
calada,
Nunca se denunciou.
Cada obstáculo
passado,
Ela subia para meu
colo
Onde se sentia mais
confortável.
Estava no seu mundo
e sonhava.
Até que veio a
doença.
Um problema no
coração
Era um martírio dar-lhe
a medicação.
Viajava, connosco,
todos os anos.
Certo dia, subimos a
uma montanha.
Estava já velhinha
e doente.
Numa mochila lhe
fizemos a cama.
Às nossas costas,
apreciava o ar frio.
Quando resolvemos
pô-la no chão
Foi um verdadeiro espetáculo,
Vê-la caminhar
sobre a neve
Cada vez que dava
um passo,
Levantava a outra
pata
Difícil de
entender, para ela,
Aquele manto
branco,
Que seu caminho
cobria.
Voltando, de novo,
à mochila,
Apreciava o branco
do chão.
Só as orelhas e os
olhos se viam.
Mas não foi em vão.
Naquele dia foi
fotografada
Por turistas que
passavam.
Imagem rara, uma
cadela branca,
Dentro de uma
mochila, toda encolhida.
Durante anos sempre
nos fez companhia
Até que se aproximou
o epílogo.
Tinha, pelo dono,
um apego especial.
Ele passara a ser a
sua principal companhia
Nos seus últimos
anos de vida,
Ele sacrificava o
seu almoço
E ia a casa, para
estar com ela.
Nos seus braços a
deitava
E, os dois, música
clássica escutavam.
Assim se ligavam
aqueles dois seres.
Ela teria aprendido
a apreciar, em especial,
A nona sinfonia de
Beethoven,
A Ave-maria de
Schubert,
O coro dos escravos
Hebreus, de Verdi.
Quando o seu fim se
aproximava,
O seu dono
ausentara-se, por pouco tempo.
Aguardou, cinco
dias, pelo dono.
Com a sua ausência,
deixou de se alimentar.
Ele regressou, à
pressa, para a salvar.
Nesse dia, a minha
cadelinha comeu, e comeu.
Olhou para o dono,
agradecendo o seu regresso.
Viveu, a soro e ao colo,
mais cinco dias.
Recordo o dia em que
nos deixou.
Fomos, à beira-mar,
dar o passeio que ela preferia.
Ainda, nas ondas do
mar, molhou as patinhas.
Ela que sempre adorou
correr, ao longo das praias.
Já no regresso a
casa, deitada na sua cama,
Feliz, pela família
junta,
Mas em sofrimento e
com emoção,
Deu um suspiro
maior.
Seu coração parava.
Era o momento que
ela esperava.
A família sempre
unida,
Na hora da
despedida
O dono, sua morte,
não aceitou.
Durante quase dois
dias,
No quarto da
música, às escuras,
Com o seu corpo nos
braços.
Os dois em profundo
retiro.
Limitei-me a
esperar
Que ele se
despedisse.
Desse ser que ele
tanto amava.
Viria a seguir,
para ele, a mais dura prova.
Fazer, com suas
mãos, uma cova
Para seu corpo
sepultar.
Na Serra de Sintra,
num lençol branco,
Com mensagens
gravadas.
Nós os três unidos,
chorando,
Ali a deixámos, em
repouso.
E o regresso a
casa, sem ela…
Foi um ser muito
amado. E feliz.
E como nos fez
felizes.
E como nos ensinou.
A amar,
incondicionalmente.
A LADY partiu em
02/05/1999
POR: JOAQUINA
VIEIRA
16/07/2011
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Bretanha - França
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