Eu, Maria Joaquina Vieira,
Discípula da alma,
Refugiada na Lua,
Serena e nua,
Intacta no mundo.
A vocês, terrestres,
Ofensores e ofendidos,
Comprados e vendidos,
Porque, na vida, perdidos
E, da morte, esquecidos,
A vós me confesso.
Sim, a vocês, humanos,
Alienados na multidão,
Sementeira da podridão,
Disfarçada escravidão.
De onde venho,
Quem sou eu?
Símbolo de segredos,
Arca de tesouros.
A cada inspiração
Sinto o meu condão.
Sou a espora que atina
E sou, também, a libertina.
Sou a alma, calma,
Sou o fogo que afaga.
Sou a vertente dos rios,
Sou o aqui que não domino.
Tudo aparece, de repente,
Como que o meu querer seja,
Apenas dor ardente.
Quem aqui me apresentou,
Quem aqui me depositou
Neste corpo alugado?
Tudo o que sei
É que sou corpo e alma que,
Em vibração, me acalma.
Quem me quer questionar?
Será esta a minha verdade?
Sei o que quero,
Sei o que sinto.
Na minha revolta, não minto.
Tenho a noção do tempo.
Dele e da sua urgência,
Que não tem clemência.
Que me marca,
Que me dobra,
Que faz de mim sobra.
Algo a que não pertenço
Mas a quem sempre venço.
Assim me apresento.
Sou a escritora malfadada
Na dor e no pecado.
Corre nas minhas mãos,
O fluir do momento,
O fio do sofrimento.
Sou vibração,
Pura emoção.
De tanto escrever
E a alma revelar,
Virá um dia, talvez,
Alguém se questionar.
Autora: Joaquina Vieira
02/08/2015
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EU
A vida deu-me tudo. Deu-me pai, deu-me mãe e deu-me
trabalho, também. Era eu pequenina e o meu coração de menina já amava o pouco
que tinha. Meus pequenos olhos tudo absorviam.
Desde cedo me apercebi que aquela não era a vida que
eu ambicionava.
Aprendi a ler e a ver. Então, medi distâncias entre
cidades e caminhos. Sentia que havia algo mais para lá do que via. Fabriquei
sonhos maiores do que eu. Vagueei neles, por mundos que não conhecia mas
que sabia existirem. Passei horas a imaginar em como fugir daquele lugar. Ainda
era menina e já sabia que não queria aquele destino.
Meu corpo se moldava ao povo que me ensinava. Até
minha mente se desenvolver e sentir sede de outro saber. Sempre irrequieta e
curiosa, vivia ansiosa porque o corpo não se desenvolvia. Ainda não concebia
que seria com esse corpo que teria que construir o meu caminho e as minhas
pontes. Fui domada e cercada por outras mentes enquanto a minha, noutro mundo,
se refugiava.
Tive fome de tudo. Desde os rebuçados à cultura. Foram
os livros os meus aliados e também os meus amigos. Foram eles que me mostraram
outras filosofias. Eu, menina descalça, desdentada, esfarrapada e suja, já
tinha o meu corpo vergado, ainda ele não estava formado. Satisfazia a minha
ansiedade com rebuçados embrulhado em papéis de várias cores.
Até que chegou o meu dia, aquele que desejava. O dia em que, de tudo, me libertaria.
Mas a vida era muito mais rigorosa e crítica.
Embarquei em sonhos medonhos onde a sede e o calor me deram lições.
Seria eu, apenas, uma jovem mulher num corpo franzino?
Ou haveria algo mais forte que me dominava e vencia?
Sei agora que, desde sempre, morava comigo uma alma
muito antiga. Ela me castigava com a dura verdade, no propósito da vida.
Dormi ao luar, debaixo de um manto de estrelas que não
me cobriam, tal a sua grandeza. Aos poucos amadureci, vendo esqueletos que
vinham da guerra, amansados como feras.
A vida não passava de uma mansarda escondida no
tempo, dentro dos meus elementos. Depois de muito ler e escrever, também eu
desenvolvi a minha filosofia.
Apenas me via como um corpo do qual me utilizava e
servia. Até que o deus que me guiava me apontou a alma que, também, no meu
corpo vivia.
Observava a Via Láctea, os cometas e as estrelas como
mundos de onde a alma provinha. E cada vez mais ausente me sentia.
Contestei tudo. Até aqueles que me deram a vida. Mas ainda continuava a ser a menina que comia rebuçados.
Contestei tudo. Até aqueles que me deram a vida. Mas ainda continuava a ser a menina que comia rebuçados.
Ausentei-me desta realidade, deste mundo criado e do
qual nada sabia. Os sonhos me alimentaram e da terra me afastaram, até
descobrir que o que eu imaginava era possível e verdadeiro.
Comecei então a aceitar que tinha vindo de outro
lugar. Mas como entender esta sede de saber, neste planeta habitado?
Sentia-me encurralada e entrincheirei-me, no trabalho e noutras
guerras que me atormentavam.
Hoje chamo a vida, como chama ardida.
Aceito este planeta azul como minha morada.
Aceito que estou numa barca e de passagem.
Tenho, por isso, muita coragem, para fazer a travessia
que, sem me lembrar, decidi abraçar.
Depois de ver seres viventes, rastejando como
serpentes, abandonados pelas estradas, vítimas da maldade alheia, achei que
tinha chegado a hora de deixar as minhas memórias.
Meu coração acordou para o caminho da vida e mostrou-me quem sou. Sou alma sabida, mas desprevenida, que tudo quer vivenciar. Talvez porque não queira voltar. Por isso tenho esta vertente que veio comigo, a vontade de ler escrever e avaliar a minha vida.
Meu coração acordou para o caminho da vida e mostrou-me quem sou. Sou alma sabida, mas desprevenida, que tudo quer vivenciar. Talvez porque não queira voltar. Por isso tenho esta vertente que veio comigo, a vontade de ler escrever e avaliar a minha vida.
Os espelhos distorcem o meu olhar e o meu corpo, já
não ereto, mas ainda discreto. Como água a chegar ao lago. De tanto andar à
roda, faço de nora.
Sou a pura nascente,
A morte sedenta,
A vida que me atormenta,
O castigo que me fustiga,
Lembrando quem mora comigo.
Um dia, se me descobrirem, saberão que passei por
aqui, não apenas a existir, mas a tudo a assistir. De tão curvada, já não
importa o que ainda possa vir.
Mas, minha vinda, não foi em vão. Abraçou o condão da
vida para, através da escrita, outros servir.
Quando o corpo não acalma, escrevo com a alma. Esta que aqui se apresenta como uma indigente, esperando à porta da sua alma, sou
eu.
Autora: Joaquina Vieira
31/7/2015
Sim. Assim sou eu e assim é a Terra onde nasci. Mas
procuro deixar algo para o tempo que virá. Tarefa difícil. Reina neste
pobre País, a mais incrível depravação. Interessa apenas viver o momento e,
dentro dele, usar todos os meios para a satisfação dos sentidos (humilhação do
próximo, morticínio nas estradas, vaidade, arrogância, ostentação, sexo, etc) e
desfrutar de vícios (álcool, drogas, indigência, subsidiodependência, etc).
Instalaram-se no aparelho de Estado os piores dos
piores exemplares da espécie humana. Com diplomas comprados e lugares arranjados,
é considerada como normal toda a corrupção e iniquidade que destruirá as
gerações vindouras. Aos jovens da geração atual, aqueles que ainda não foram
apanhados pela droga e pelo álcool, só lhes resta emigrarem. Dizem os
instalados que foram feitas reformas e que o País está melhor. Pura mentira.
Apenas foram roubados os reformados e pensionistas.
Voltarão a ser roubados quando o preço do petróleo
subir para o preço anterior (110 dólares o barril) e quando o Euro voltar a valorizar-se. Sim! Só as quedas do petróleo e do Euro disfarçam a calamidade que está
para ser paga pelos que irão nascer (dívida de 130% do P.I.B.). Entretanto, a
vilanagem instalada e que é auxiliada por uma infame propaganda televisiva faz
crer que vivemos num mar de rosas. E os patifes lá vão colocando os imbecis que
são os seus viciados filhotes e enteados. Os seus vícios são pagos pelos
impostos de quem trabalha. Estes, os que trabalham e que pagam impostos acabam,
também, por verem os seus filhos arrastados por aqueles incapazes.
O mundo dos livros não foge à regra. Nas prateleiras
dos centros comerciais e livrarias só são expostos os livros dos políticos mais
afamados (ladrões e saqueadores condenados ou não - normalmente não - ou
candidatos a tal atividade). Quem não se recorda do lançamento do livro de um
fantástico e filósofo político. Na apresentação do mesmo compareceram antigos presidentes
(Mário Sai Ares e Polvo da Silva) e antigos magistrados de grande prestígio
planetário (Noronha do Falecimento e Pinto Matreiro). Soube-se, posteriormente,
que o livro não fora escrito pelo famoso político e que ele próprio comprou
30.000 exemplares. Uma obra-prima da literatura portuguesa, a par de muitos
outros livros publicados por vedetas televisivas. Basta que na capa do livro apareça o rosto de uma dessas vedetas. Claro que todos sabemos que não são eles
que os escrevem. Não lhes sobra tempo para isso. Enfim, que se leiam “AS
FARPAS”. Perante tal panorama ( não vale a pena voltar a referir o papel
nefasto das editoras que queimam os talentos que possam surgir, roubando-lhes
os trabalhos que lhes chegam por email ) e porque não tenho qualquer hipótese
de competir com a podridão instalada, continuarei a escrever e a guardar os
meus trabalhos.
O tempo me irá dar razão. E fará justiça à minha obra.
Ninguém espere que seja mais uma, igual a tantos
outros. Nunca o serei.
Repito que não tenho qualquer interesse em publicar
mais trabalhos inéditos porque serei, de imediato, roubada. Apesar disso, vou
continuar a escrever e aparecerei com novas páginas, quando achar oportuno.
Não invejo a vida dos falsos famosos. Os cemitérios
dos séculos passados, hoje parques de estacionamento, tal como os cemitérios de
hoje, que terão o mesmo destino, estiveram ou estarão cheios de instalados.
Deles não rezou nem rezará a História.