A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday 9 July 2015

O RIO DA ALMA - A VIDA




Viajando, fulminante,
A vida é o nosso instante.
Penetramos nele, a correr,
Sem o podermos escolher.
Somos fruto da incerteza,
Reflexo da fluência.
Somos o fluir do rio,
Somos a sua correnteza.
Somos o sentido contrário
Da sua própria natureza.
Opções são desgraças
Enleadas no cansaço.
O reflexo passa, a correr,
Banhado no dom de ser.
Precária é a existência.
É caudal fluindo, livremente.
A vida vem manifestar-se
Mas o ego vem atrapalhar.
É urgente dissipá-lo.
O nosso fluxo permanente
É fruto da nossa existência.
Contida nele está a essência
Que à vida dá firmeza.
Somos inconstantes,
Porque seres pensantes
Colados ao instante.
Somos causa em formação,
Produto da alienação.
Somos o somatório
De vidas passadas
Revivendo a jornada.
Nosso elo é a alavanca…
Porta que se destranca…
Vivendo apressados,
Vamos adiando o futuro,
Quando somos, apenas,
O nosso pequeno curso.
Vivemos desassossegados,
Com desejos e vaidades,
Sempre sem balancear
Que contas iremos fazer.
Nós somos uma atitude!
Despejados neste mundo,
Vamos seguindo, ensaiando,
Ou querendo saber a verdade.
Assim, somos apenas desejo
Neste impasse de ensejo,
Sempre a aproximar-se de nós,
Para não morrermos sós.
Quem assim não pensar,
Não terá metas para cruzar,
Nem nada a concretizar.
Se aprendermos a fluir,
Como as águas que são dos rios,
Saberemos o ritmo da vida.
Chegaremos, pacificamente,
À raiz do problema.
Seguros, com confiança,
Dotados de esperança,
A lição que viemos aprender
É, somente, amar e sofrer.
E fazer.
Na busca da paz nos perdemos.
Um dia, finalmente, aprenderemos
Que tudo, em nós, tem um termo.
Nada somos nestes corpos
Que sabemos bem vestir.
Até esquecemos a alma
E, por ela, somos esquecidos.
Tão curto é o momento.
É a dor que nos atormenta
Que nos oculta o tempo.
Como seres racionais,
Temos o domínio da mente.
Quando ela se desagrega,
Vai-se a vida,
Vai-se o tempo.
Acredito no poder
Do que podemos fazer,
Se nunca nos esquecermos
De que a vida é para se viver.
Não há acasos,
Não há acontecimentos.
Mas há a chuva
Que rega a semente.
Tudo passa, sem anuência.
De que vale a vontade
Se somos feitos pela metade?
Somos ignorantes,
Somos harmonía,
Somos os andamentos
Duma grandiosa sinfonía.
Ela não é ditame.
É o que brota
Da nossa fonte divina.
É o saber da criação,
É a corrente da vida.


Autora: Joaquina Vieira

JOAQUINA VIEIRA - A CONDESSA SEM CHETA
































A VIDA DA RITA

Era tanto o que tinha para dizer
Que, um livro, resolvi escrever.
Gosto de histórias de vida,
Com tempo, bem contadas.
Assim rasgo minhas estradas.
Um dia parei e ouvi alguém.
Só carecia de desabafar.
Vinha de uma solidão de espantar.
Ansiava ser escutada.

Foi nesse dia que tudo começou.
Um novelo se desenrolava.
Era uma senhora, no fim do seu destino.
Derramou, sobre mim, todo o seu brilho.
Carreguei, com ela, o seu fardo
Que mais parecia um fado.
Foi assim que em sua vida entrei.
De início escutava-a, incrédula,
Como se tudo fosse uma invenção.
Quando ela se me apresentou
Como a Condessa Sem Cheta,
Questionei aquela cabeça.
Estaria ela já fora do mundo?
Sua mente estaria confusa?
Mas não! Ela era uma alma,
Um raio de Sol a brilhar
Que até a mim iluminava.
Assim fui conduzida,
Por subidas e descidas,
Numa vida bem preenchida.
Com altos e baixos, lá conseguiu
A atenção pretendida.
Com tal vigor e emoção
Que unimos nossos destinos.
Eu, encantada, escutava
Aquela alma que não chorava,
Mas que sua dor derramava.
Fizemos então um acordo
Que era uma promessa
E que não tinha pressa.
Um dia, a seu pedido,
Escreveria a sua vida, o seu viver.
Ela partiu. Ficou o compromisso
De escrever o ensinamento
Que continha a sua vida.
Para que se pudesse saber.
Dei forma ao seu pedido,
O seu último desejo.
Juntei todas as peças,
Qual puzzle já partido,
Em mil vidas vivido.
Vidas feitas de momentos,
Angústias e tormentos.
E que tormentos!
Faço minhas as suas palavras
Que apresento com saudade
No livro da sua vida.

Foi grande esta senhora.
Na vida teve firmeza.
Viveu tudo, até a tristeza.
Para a recordar, sem demora,

Eis o livro da CONDESSA.

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Carta à Rita

Rita, minha saudosa amiga.
O teu livro, o livro sobre a tua vida, acaba de sair. Ele te retrata muito bem. Todas as tuas mensagens estão lá. Sabes como é a sociedade em que viveste! Ela, entretanto, mudou para pior. No teu tempo, apesar de as coisas serem difíceis para as mulheres, tu conseguiste construir algo. Não podes calcular como gostaria que visses o livro sobre a tua vida. Sei que o irias aprovar. A menina da capa parece-se contigo, na tua juventude, quando estudavas em Coimbra. Os tempos mudaram desde a derradeira vez que nos encontrámos. E já lá vai um tempo. Pressinto que, onde quer que te encontres, deves estar satisfeita por veres que cumpri a promessa. O livro, apesar dos interesses económicos que minam tudo e dos constrangimentos culturais de um povo manipulado e distraído com peripécias de gente que conheceste bem, está em todo lado. A internet é um bom meio de divulgação. Tal como tu, em vida, ele anda a viajar pelo mundo.
Tenho pensado muito em ti, Rita! Recordo tanta coisa que me ensinaste! Com essa tua generosidade e boa disposição permanentes. Irias rir muito com o que se está a passar. Estou a lutar para que não voltes a morrer. Assim o farei, enquanto por aqui andar. Sei que me acompanhas e te ris dos muitos imprevistos por que estou a passar. Se pudesses, tu me dirias para não me estar a maçar com os espertalhões das editoras que prometem muito e nada dão. Só pensam neles e no momento. No entanto, o livro anda por aí, nas mãos de muita gente. Tua vida foi um exemplo para mim. Será para tantos outros.
Tenho muitas saudades tuas.
Tua amiga de coração
JOAQUINA VIEIRA HISTÓRIA DA CONDESSA (RITA)