Viajando, fulminante,
A vida é o nosso instante.
Penetramos nele, a correr,
Sem o podermos escolher.
Somos fruto da incerteza,
Reflexo da fluência.
Somos o fluir do rio,
Somos a sua correnteza.
Somos o sentido contrário
Da sua própria natureza.
Opções são desgraças
Enleadas no cansaço.
O reflexo passa, a correr,
O reflexo passa, a correr,
Banhado no dom de ser.
Precária é a existência.
É caudal fluindo, livremente.
A vida vem manifestar-se
Mas o ego vem atrapalhar.
É urgente dissipá-lo.
O nosso fluxo permanente
É fruto da nossa existência.
Contida nele está a essência
Que à vida dá firmeza.
Somos inconstantes,
Porque seres pensantes
Colados ao instante.
Somos causa em formação,
Produto da alienação.
Somos o somatório
De vidas passadas
Revivendo a jornada.
Nosso elo é a alavanca…
Porta que se destranca…
Vivendo apressados,
Vamos adiando o futuro,
Quando somos, apenas,
O nosso pequeno curso.
Vivemos desassossegados,
Com desejos e vaidades,
Sempre sem balancear
Que contas iremos fazer.
Nós somos uma atitude!
Despejados neste mundo,
Vamos seguindo, ensaiando,
Ou querendo saber a verdade.
Assim, somos apenas desejo
Neste impasse de ensejo,
Sempre a aproximar-se de nós,
Para não morrermos sós.
Quem assim não pensar,
Não terá metas para cruzar,
Nem nada a concretizar.
Se aprendermos a fluir,
Como as águas que são dos rios,
Saberemos o ritmo da vida.
Chegaremos, pacificamente,
À raiz do problema.
Seguros, com confiança,
Dotados de esperança,
A lição que viemos aprender
É, somente, amar e sofrer.
E fazer.
Na busca da paz nos perdemos.
Um dia, finalmente, aprenderemos
Que tudo, em nós, tem um termo.
Nada somos nestes corpos
Que sabemos bem vestir.
Até esquecemos a alma
E, por ela, somos esquecidos.
Tão curto é o momento.
É a dor que nos atormenta
Que nos oculta o tempo.
Como seres racionais,
Como seres racionais,
Temos o domínio da mente.
Quando ela se desagrega,
Vai-se a vida,
Vai-se o tempo.
Acredito no poder
Do que podemos fazer,
Se nunca nos esquecermos
De que a vida é para se viver.
Não há acasos,
Não há acontecimentos.
Mas há a chuva
Que rega a semente.
Tudo passa, sem anuência.
De que vale a vontade
Se somos feitos pela metade?
Somos ignorantes,
Somos harmonía,
Somos os andamentos
Duma grandiosa sinfonía.
Ela não é ditame.
É o que brota
Da nossa fonte divina.
É o saber da criação,
É a corrente da vida.
Autora: Joaquina Vieira