A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday 1 October 2015

MEU SUSPIRO, O PRIMEIRO, MEU AMOR DERRADEIRO



Como entender a existência
Se turbilhões de incertezas
Dispersam o que sinto,
Embaciam o que vejo?
Filósofos, poetas, artistas,
Legaram as suas vidas, as suas arestas,
Em todas as épocas da História,
Indagando as suas consciências,
Grandes como as suas existências.
Existência de que me ocupo,
Numa apetência constante,
Remando nas ondas da desistência.
Mas se tudo o que digo
E tudo o que sinto
São de tamanha pequenez…
Nunca saberei, realmente,
Se o mistério da existência
É um desafio arrebatador
No labirinto da mente,
Onde se concebem mundos,
Onde o pano cai, fundo.
Viajo, desamparada,
Entre atitudes e palavras.
Quem sopra, ao meu ouvido
A miséria que me é servida
Pelo corpo, através dos sentidos?
Sobre nada tenho certezas.
Sei, apenas, que pertenço
Ao porte da minha fraqueza.
Ídolos de ouro e de prata
São alpendres que matam.
Poderia citar tanta gente
Que viveu os seus apogeus.
Mas, como tantos outros
Que também eram gente,
Partiram sem deixar rastro,
Das suas existências,
Dos seus mastros.
Será que me fecundaram
Com essência de poetisa,
Como trave basilar,
Como abelha-mestra?
Sinto este fluir de incertezas
Que me destapam o medo,
Por tudo o que faço ou não faço,
Por aquilo que, em mim, mato.
O meu mundo, o mais profundo,
É um mundo paralelo
Simétrico a outros mundos.
Mundos que se tocam, na encruzilhada,
Na estrada da simetria,
Onde os mundos, feridos, são criados.
Eu sou tudo isto,
Eu sou um pouco de nada.
Sou a farpa estilhaçada
Em mente repartida,
Apátrida, alugada,
Onde me dispo,
Onde me abandono.
Existem os reinos,
Dos outros, montados…
A guerra, começo de nada…
Encruzilhadas, recomeços…
E aparece a mente para dividir
E para pôr um fim à vida vivida.
Mas, será isto que a vida é?
Torço-me, em dorsos,
E abalroa-me a consciência,
E intriga-me a ciência.
Serei, apenas, uma página
De um livro, meu corpo,
Levitando no infinito?
Ou serei uma marioneta de energia,
Força de outra dimensão?
Uma metáfora feita melodia,
Cantada no espaço,
Suspensa nos tempos inimagináveis,
Desde a manhã da criação?
Meu corpo, parte de um todo,
Escondido da imaginação,
Suspenso no espaço, enfrenta,
As ondas da deserção.
Porque eu sei!
Eu sei que, após todas as encruzilhadas,
Após todos os recomeços,
Como anjo caído de estrelas perdidas
E de planetas esquecidos,
Regressarei ao meu berço,
Meu suspiro, o primeiro,
Meu amor derradeiro.
Voltarei a Andrómeda,
Meu lar,
Meu doce lar.

Autora: Joaquina Vieira