A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 3 September 2011

MOMENTO DE ALMA - VENS, SUAVE E ESGUIA ...


Vens, suave e esguia,
Como anjo que me guia.
Entras, tranquila, em minha vida
E ingressas, calma, em minha mente.
Apareces com rosas na mão
E, como um espírito ardente,
Acalmas o meu coração.

Vens, suave e esguia,
Trabalhar a minha vontade,
Como anjo que me auxilia.
Entre espaços te movimentas,
Tu que me segues e guias.
Toda tu te movimentas,
Como se move a energia.
Segues-me, por todo lado,
E descobres meu pensamento,
Mesmo que só para mim guarde
O que vai na minha mente.

Vens, suave e esguia,
As minhas horas habitar.
És a menina bonita
Que me ampara e me acode
Nos momentos mais sombrios.
És tu quem me alegra,
Sempre que a alegria
Se esvai, em desvario.
Cuidas de mim, noite e dia,
Pois como anjo vives, dentro de mim.
Há anjos que são humanos,
Não residindo no céu.
Eles escutam-me, a toda a hora,
Desde o romper da aurora
Até que se acabe o dia.

Vens, suave e esguia,
Deitar-te na minha cama
E ao meu ouvido murmurar,
Palavras doces, amáveis, gentis.
Quando, contigo a meu lado, sonho,
Vejo-me a passear por castelos murados
Onde ninguém ousa entrar.
Mas tu, meu anjo guia, só tu,
Por minhas portas podes entrar.

POR JOAQUINA VIEIRA
03/09/2011

PENAS MINHAS


Penas minhas que se avivam
No nascer de cada noite.
Ainda que de veludo se vistam,
Minhas penas, companheiras,
 Vêm comigo pernoitar.
Minhas penas atingidas,
Afundadas em lagos profundos,
Acabarão por emergir,
Destacando-se no meu brasão.
Nasça o dia ou caia a noite,
Minha alma, com ar sombrio,
Vem comigo interferir.
Não sendo um pássaro, alada,
Sou de penas revestida.
E se de opiniões contrafeitas
Por mitos e discórdias,
Poderei ser um anjo
Que, em mim, grita?
Só sei que sou a escrita,
Neste penoso pensar,
Em meu corpo descoberto,
Neste embaraço desperto.
Se levantar minhas penas,
Quem comigo pode ficar?
Virá depois o tempo,
O meu tempo reclamar.
E se nada de mim restar,
Ficarão as minhas penas,
Na minha escrita, amenas.
E libertadas no tempo,
No seu caminho voarão.
Elas ficarão onde eu não ficar,
Assim, de veludo, vestida.
E voltarão renascidas,
E comigo irão festejar,
Enquanto existir o dia
E a noite não chegar.

Por Joaquina Vieira

07/08/2011

VEM DAS LENDAS...


Ciclópica apreensão,
A que se instalou em meu peito.
Não sei por onde andou
Nem que anjo a alcançou.
Vem do tempo que faz tempo
E que nem sei, num rosário, contar.
Vem das lendas de outro tempo,
Do tempo que nem sei lembrar.
Que a tristeza nasça,
Por defeito, em meu jardim.
Sempre sentirei odores,
Para temperar, até ao fim,
Meu coração apertado
Com cordas, subjugado
Em movimentos abreviados,
Nas mãos do destino lançado.
Pobre de mim, tristeza!
Na minha ausência batalhas
E perco, de todo, o sentido.
E ainda que me apareças
Assim, vestida de cetim,
Nada há, que saiba, de ti.
Nem sequer onde moras
E onde teces meus sentimentos
Que, guardados estarão
Nalguma estação de Verão
Onde as flores vão florir.
Talvez para que, tu, de mim,
 Não venhas a poder rir-te.
Vou, o mau estar presente,
Enterrá-lo como má semente.
Para que dele germine a esperança
Que possa alagar o tempo,
Nesta agonia feita sentimento.
Prefiro ficar na beira da estrada, só,
Para que, de mim, não haja dó.
Assim, comigo sozinha, saberei
Diluir-me em mil pedaços,
Feitos de memorias e laços,
Onde a solidão seja capaz
De, dali me resgatar,
E à minha alma, adormecida,
Para que, num suspiro atroz,
Me traga, de novo, à vida.
Adeus tristeza, até um dia.
Amanhã serei, acredita, outra.
Acordarei, num novo dia,
E todas as flores florirão
E se abrirão, de alegria,
 Enchendo o meu coração.
Meus pensamentos voarão
E quedarão as penas, no chão.
Vou sentir-me renovada
E, com nova roupa, lavada,
E, dos teus braços, libertada.
Adeus tristeza, passada.

02/08/2011

POR JOAQUINA VIEIRA

ESTREITA É A HORA...


Que se amotinem todos mares
E, colossais, vagas se levantem.
Que os oceanos transbordem
E afundem os continentes.
Que a paz, sonho saqueado,
Aborde a alma dos descontentes.
Que caia tudo em volta, em desordem,
 Num plano que não tem horas.
Estreita é a hora para mudar.
Que se ergam vozes altaneiras
E se forjem novas posturas,
Novas formas de pensar,
De estar, de sentir, de agir.
Que venham os elementos
E, todos juntos, que formem
Uma ementa de sofrimento,
De ais, de lamentos e gemidos.
Só assim os humanóides
 Poderão entender, finalmente,
 O que andam, por aqui, a fazer.
Também eu, sendo humana,
Frágil perante a natureza,
Sou sorvida pelo turbilhão
Que é a existência, um furação.
 Mas defendo a minha razão
E resisto, na convulsão.
Então, sentimentos me assaltam.
São a tristeza e a revolta,
Dentro de mim a morar.
Meus sonhos habitam, bem alto,
Onde ninguém pode entrar.
Agora, meu corpo pequeno,
Carece de ser abanado
Pelo vento que abana as arvores
E leva, consigo, a revolta
Desta morfologia, quase morta.
E se os vulcões desatarem,
Também eles, a chorar,
Que vertam lágrimas,
Vermelhas de lava, ardentes,
E que tudo levem pela frente.
Que a espécie que nada respeita
E que pensa ser dominante,
Toda a riqueza abandone
E, à pressa, debande,
Fugindo, sem destino.
Pompeias de desatino!
Mas eu acredito em algo,
 Algo muito mais poderoso,
Que por nós olha e guia.
Este é o alvorecer que,
Para aqui estar, encontrei.

POR JOAQUINA VIEIRA
03/09/2011

SEM DESTINO



Quando as palavras ocorrem
Com o peso de um passarinho,
Deposito-as em teu ninho,
Num canto do teu sorriso.
Alongo o meu olhar
Pelos ângulos dos teus braços
Que se traduzem em abraços,
A luzirem, ao luar.
Deixo antever, devagar,
A sombra da minha história
Num desfiar da memória.
É leve e brilha, a pupila
Que cintila e levita, em ti,
Sem que isso me prenda
No rendilhar de uma renda.
Brincamos ao faz de conta
E és tu quem conta
E sou eu a tonta,
Até ao clarear do dia.
Depois,
Jogamos às palavras,
Com emoções mais pesadas,
Espreitando, nelas, a margem
Do voo que está por voar.
E assim vamos,
Construindo coisas simples,
Sem destino.
Não sabemos nada!
Assim vimos!
Sozinhos, somos um par.

Por Joaquina Vieira

19/07/2011

EU SOU A CANÇÃO


Eu sou a canção,
Mas sou, também, a objecção.
Sendo o ponto central
Eu sou a minha percepção.
Sou a água da fonte
E o rio e a nascente.
Se sou a água e o fogo
E a terra e o vento,
Sou todos os elementos.
Sou o trabalho e a dedicação
E sou tudo o que existe.
Eu sou o bater do coração
E sou, até, uma oração.
Eu sou uma contradição.
Eu sou a luz que, em mim, brilha
E sou a treva que me martiriza.
Eu sou a superfície e o fundo
E sou, eu só, no meu mundo.
Eu sou o bom e o mau
E o belo e o feio.
Sendo igual a todo mundo,
Eu sou o produto do meio.
 Mas, também, penso que sou
O lugar tangente àquele onde estou.
E se, algo, julgo faltar-me,
Estou pronta para lutar.

Talvez eu queira demais,
Até ir além do que devia querer.
Por isso, por mais que o procure
E faça por o encontrar,
Vejo-me no caminho, despida,
E volto, então, à oração,
Encontre o caminho, ou não..

Por Joaquina Vieira
03/09/2011