Depois da ausência
tornou,
Quem nunca se quis
ausentar,
Quem, sempre, teima em
voltar,
Quem nunca, de mim,
voou.
E para voltar ao seu
ninho,
Sempre encontra o
caminho,
Sem nunca se ter perdido
Nas encruzilhadas do
acaso,
No ocaso das caminhadas,
Por vezes, armadilhadas,
De destinos, sortes,
ciladas.
Trazia o sabor a
chocolate,
Numa mistura de saudade.
Algo, dentro dele, se
reparte
Mas, ainda assim, ele
parte,
Apenas para poder
pensar,
Para compreender e
meditar.
Parte para ter que
voltar.
Porque voltar é
recomeçar
E partir sem separação,
É balancear a missão,
É escutar o coração.
E entre o dever e as
lembranças
De quando parecíamos
crianças,
De quando o mundo era
anil,
Germinam saudades mil.
E pesa o feito, e o por
fazer,
E logo pensa em voltar.
Seu génio reclama,
insaciado,
Num emaranhado de
emoções
Que não é capaz de
decifrar.
Vem com a alma
preenchida,
De lugares cheios,
vividos,
Por povos, vários,
repartidos.
Quando se instala a
insatisfação,
Os seus gestos denunciam
Um ser diferente, na
indiferença.
Procura, com a mente, a
concepção,
Trabalhando com afinco e
paixão,
Derramando por vários
labores,
Suores, talento, arte
e criação.
Desespera porque sem
tempo,
Que se escoa com a vida,
Que a vida é feita de
tempo,
Que o tempo é cheio de
vida,
Que a vida é pouca de
tempo.
E procura deixar
sementes,
Que outros já renegaram,
Ou porque nunca
tentaram,
Ou porque, receosos,
tementes,
Da incerteza de
falharem.
Tolhidos, na acomodação,
É a forma de secarem,
As límpidas ondas da
criação.
Frenadas logo à
nascença,
Desperdício, tristeza,
traição.
E neste planeta que ama,
Ele só pretende gravar
O preço da sua
existência.
Uma marca que resista,
Par além do tempo que
avista,
Num tempo em que não
exista.
E aos elementos se
entrega,
Cultivando a rebelião.
Sua história é sensação.
Seu temperamento
inquieto,
Transforma-se em
ansiedade.
Traz energia no regresso,
E, na bagagem, traz
progresso,
Em ideias por
concretizar,
Em marcas que quer
deixar.
E já que nada pode
levar,
Ele tudo quer tocar,
Para que algo possa
ficar.
Algo que fique, sem
tempo,
Algo que fique na História.
Para que uma história de
vida,
Resista ao tempo, na
memória.
Memória de quem, com
tempo,
Possa apreciar sua
história.
E findo o tempo de
partir
E sem tempo para voltar,
Quer a
sua pegada deixar,
Para o tempo que há-de
vir.
Autora: Joaquina Vieira
08/010/2012