Sobem, do mar, gotas de chuva
Que, nas nuvens, se detêm.
E as nuvens formam figuras,
Ora claras, ora escuras,
Que se desvanecem, além.
E nas tardes, ao acaso,
Nas planícies perdidas,
Nas planícies perdidas,
Onde vivem saudades
E esperanças vencidas,
Vivem mentes doridas,
Em corpos molhados.
No campo ou na campina,
Onde a chuva se faz sentir,
Molha a aridez duma fresta,
Onde tudo se revive.
Chuva que mora nas nuvens
E que se eleva no céu,
Pois aí é o seu domínio.
Mas, na cidade, pode cair,
Gotejando na hora dúbia,
Mas, na cidade, pode cair,
Gotejando na hora dúbia,
Quando os becos e recantos
Que por ela tanto ansiavam,
Que por ela tanto ansiavam,
Lavados, descobrem encantos.
E também cai, noite fora,
Quando os amados se esquecem
Quando os amados se esquecem
E amantes se abandonam,
Molhados, ao romper da aurora,
Encharcados de desilusão.
Encharcados de desilusão.
Porque é a carne que chora,
Quando os seres desacertados,
Quando os seres desacertados,
Sufocando os seus ódios,
Se enganam e se enroscam,
Deitados no mesmo leito.
Como o leito da solidão
Que, como os rios, passando...
Solidão, amiga da chuva,
Que se ergue do mar,
No pináculo das noites,
Em planícies distantes, remotas.
E o Céu que a guarda,
Permite então que ela parta,
Ficando nele a saudade.
Cai a chuva, em horas ambíguas,
Lavando as vielas imundas.
Mas, pela manhã, não lavou
Os odores, dores e desamores.
E os corpos desengonçados,
Desiludidos, tristes, amargurados,
Que são corpos que se odeiam,
Mas que dormem, juntos, no leito,
No leito molhado pelas gotas,
Da chuva da decepção.
São leitos de flúmenes de alma,
Rios de almas frustradas,
De almas acomodadas,
De almas na solidão.
E nesse momento se amam.
E a chuva e a solidão
Vão, então, com os rios...
AUTORA : JOAQUINA 13-07-2012