Que importa o que eu penso?
É que debaixo do Sol,
Sobre as nuvens encobertas,
Reina o mais sublime esplendor.
Lá te descubro, meu amor.
Trazes nas asas o sentimento
E no peito o coração revestido
De penas e amores perdidos.
Nos gestos denuncias a brandura
Que me encaminha para ti.
E mesmo quando sozinha,
Sei que pensas em mim.
E teus cabelos brancos,
Eles já te inocentam.
No teu jeito apressado,
Entre sombras e estilo,
Vejo o filósofo que há em ti.
Eu passeio, lentamente,
Tu deslizas, acelerado.
Mas em ti mora algo mais
Que nem tu mesmo compreendes.
Vives de noite com duendes,
Entre fadas e varinhas mágicas
Que te levam e por ti velam
Em belos sonhos coloridos.
A alta madrugada a passar,
E tu do descanso ausente,
Porque sabes que és a frente
De árdua missão por findar.
Nos intervalos estou eu,
Aninhada no teu colo.
Tenho que os aproveitar
Antes que alguma ideia,
Te faça nela te concentrares.
É em nossa cama deitados,
Que momentos de pura alegria
São, em nosso abraço, partilhados.
Pequenos momentos, só meus,
Inspirados, impares em fantasia.
Meu corpo em ti suspira
De ternura e de emoção,
Sossegando meu coração.
São nossos, são momentos!
E interrogo-me se te conheço,
Desta vida ou de outra.
Vem o dia e és o furacão
Que ninguém mais acompanha.
Tu, querendo em tudo tocar,
Eu, a andar, sem te alcançar.
Mas a idade, penso, amigo,
Virá, um dia, te acalmar.
Vive a vida, do teu jeito,
Mas traz-me no teu peito,
Pois quero ser para ti,
O teu porto de abrigo.
Se a vida te escorraçar
Para dentro de um convento,
Contigo vou querer ficar.
POR JOAQUINA VIEIRA
23/8/2011