A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday, 12 September 2011

SOBRE AS NUVENS TE ESPERO


Que importa o que eu penso?
É que debaixo do Sol,
Sobre as nuvens encobertas,
Reina o mais sublime esplendor.
Lá te descubro, meu amor.
Trazes nas asas o sentimento
E no peito o coração revestido
De penas e amores perdidos.
Nos gestos denuncias a brandura
Que me encaminha para ti.
E mesmo quando sozinha,
Sei que pensas em mim.
E teus cabelos brancos,
Eles já te inocentam.
No teu jeito apressado,
Entre sombras e estilo,
Vejo o filósofo que há em ti.
Eu passeio, lentamente,
Tu deslizas, acelerado.
Mas em ti mora algo mais
Que nem tu mesmo compreendes.
Vives de noite com duendes,
Entre fadas e varinhas mágicas
Que te levam e por ti velam
Em belos sonhos coloridos.
A alta madrugada a passar,
E tu do descanso ausente,
Porque sabes que és a frente
De árdua missão por findar.
Nos intervalos estou eu,
Aninhada no teu colo.
Tenho que os aproveitar
Antes que alguma ideia,
Te faça nela te concentrares.
É em nossa cama deitados,
Que momentos de pura alegria
São, em nosso abraço, partilhados.
Pequenos momentos, só meus,
Inspirados, impares em fantasia.
Meu corpo em ti suspira
De ternura e de emoção,
Sossegando meu coração.
São nossos, são momentos!
E interrogo-me se te conheço,
Desta vida ou de outra.
Vem o dia e és o furacão
Que ninguém mais acompanha.
Tu, querendo em tudo tocar,
Eu, a andar, sem te alcançar.
Mas a idade, penso, amigo,
Virá, um dia,  te acalmar.
Vive a vida, do teu jeito,
Mas traz-me no teu peito,
Pois quero ser para ti,
O teu porto de abrigo.
Se a vida te escorraçar
Para dentro de um convento,
Contigo vou querer ficar.

POR JOAQUINA VIEIRA

23/8/2011 

MOMENTO DE ALMA - MUSAS INSPIRADORAS


Dias dramáticos, vividos,
Cravados em suas mentes,
Apartaram-nas do mundo.
Vidas, evitadas, em conventos,
Mulheres fechadas, ardentes,
Que, por castigo ou temor,
Renunciaram ao amor.
Em troca de quatro paredes
De pedra, glacial, trabalhada.
Empurradas para o sacrifício,
Para a reclusão indesejada,
São vidas perdidas, encarceradas,
Sementes que não vingaram,
Cientistas por florescer
Que doenças não curaram.
Famílias ricas as depositavam
E, assim, delas se isentavam.
Gastas por rituais, pelo tempo,
Calavam, em silêncio, o sofrimento.
Vieram guerras e elas abrigadas
Mas, ainda assim, violadas,
Por selvagens, mal trajados,
Imbecis, brutos e armados.
A barbárie, de arma na mão,
Contra mulheres em reclusão.
E, assim, seres nasceriam
Mas à vida nunca viriam
Porque era ofensa, indignidade
Que, contra a sua vontade,
Dessem à luz um bastardo,
Um filho não desejado.
E seu sangue derramaram
E à morte se entregaram
Porque não suportaram
A clausura da afronta.
E inspiradoras musas
Para sempre se perderam.
E se pintores as achassem
Decerto que coloririam
Belos rostos que ficassem
E que nunca morreriam.
E em vez de natureza morta
Ou arvores e frutos de horta,
Viveriam os seus dias,
Rodeado de belas mulheres.
Musas inspiradoras, telas,
Frescas fontes de alegria,
Em museus, seriam visitadas.
Eu, por elas, passaria,
E, sem saber da sua sorte,
Também, nelas, me inspiraria.
Pobre fortuna, ocultas mulheres,
Sem escolhas e sem direitos,
Vidas feitas do acaso,
Com mães de ocasião
Que, a elas, não tinham direito.
Quem vem a este mundo
É porque tem o direito de viver
E é crime faze-las sofrer.
Pobres infantas, perdidas
Entre corredores sombrios.
Mudas, nem procuravam alivio,
Entre becos injustificados,
Onde tudo lhes era proibido.
Em tempo constrangido
E de obrigada aceitação,
Recolhiam-se, em oração.
Davam a vida pelos demais,
Como se as suas vidas
Não interessassem mais.
E criaram doces, hortas, jardins,
Dando alas à imaginação,
Para matar o tempo, perdidas.
Dores de coração, sofridas.

POR JOAQUINA VIEIRA
12/09/2011

CRUZANDO O TEMPO


Cruzando o tempo,
O corpo vai cedendo
E o coração abdicando.
É a tristeza que se instala
Na estação que se apresenta.
E, nesta diária experiência,
Sem, comigo, me entender,
Meu instinto que é meu irmão,
Acalma, sossega a comoção.
É que, na vida, se apresentam,
Por vezes, tristes instantes que,
Sendo difíceis de suportar,
Não encontro forma de disfarçar
A desordem que me invade.
Qual a minha finalidade,
Porque insisto em ter razão?
É bem dentro, nas entranhas,
Que sinto a contradição,
Dos acasos que, no tempo,
Rasgaram o meu coração.
De que sou feita, afinal,
Porque insisto em lutar?
E, agora, neste hangar,
Onde largo um arpão,
Sem comentários, sem razão?
Desço através do sentimento
Onde não estou a contento,
E posso entrar em confronto
E perder, até, a razão!
E, com a energia de um vulcão,
Acode a ira a denunciar-me
E a pretender despedaçar
Os momentos de união.
E os sentimentos afloram,
Quando tenho desencontros
Com quem me dá a mão.
Minha vida, batalhada,
Tecida é, em combates,
Entre lutas e recuos.
Se entro em contradição,
Já nem sei por onde ando
Nem onde me situar.
Então, meu espírito me acode
E me estende uma mão.
Sou matéria circulante
Quando me movimento
E voo, em voadura rasante.
Serei apenas uma caminhante,
Perdida em ruelas estreitas,
Entre o corpo e a mente,
Onde se constroem ingenuidades.
E passa, então, o momento,
Ficando a ferida e o sentimento,
Por não saber respeitar quem,
Em mim, não sabe acreditar.
E entramos em convulsão,
Escoriando a emoção.
Só que o momento não é próprio
Para atingir o coração,
Com uma simples discussão,
Seja ela séria, ou não!
A paz que Deus me enviou,
Como a anseio partilhar,
Com bem-estar e harmonia.
Triste matéria, esta, viva,
Que grita, algures, em mim,
Que quero acalmar, por fim,
Porque tudo acaba, tem um fim.
É que, depois da discórdia,
Acorda e vence a concórdia
Que reparte, de peito aberto,
Abraços de coração.

POR JOAQUINA VIEIRA


12/09/2011