A CONDESSA SEM CHETA

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MY BOOK

Monday 12 September 2011

MOMENTO DE ALMA - MUSAS INSPIRADORAS


Dias dramáticos, vividos,
Cravados em suas mentes,
Apartaram-nas do mundo.
Vidas, evitadas, em conventos,
Mulheres fechadas, ardentes,
Que, por castigo ou temor,
Renunciaram ao amor.
Em troca de quatro paredes
De pedra, glacial, trabalhada.
Empurradas para o sacrifício,
Para a reclusão indesejada,
São vidas perdidas, encarceradas,
Sementes que não vingaram,
Cientistas por florescer
Que doenças não curaram.
Famílias ricas as depositavam
E, assim, delas se isentavam.
Gastas por rituais, pelo tempo,
Calavam, em silêncio, o sofrimento.
Vieram guerras e elas abrigadas
Mas, ainda assim, violadas,
Por selvagens, mal trajados,
Imbecis, brutos e armados.
A barbárie, de arma na mão,
Contra mulheres em reclusão.
E, assim, seres nasceriam
Mas à vida nunca viriam
Porque era ofensa, indignidade
Que, contra a sua vontade,
Dessem à luz um bastardo,
Um filho não desejado.
E seu sangue derramaram
E à morte se entregaram
Porque não suportaram
A clausura da afronta.
E inspiradoras musas
Para sempre se perderam.
E se pintores as achassem
Decerto que coloririam
Belos rostos que ficassem
E que nunca morreriam.
E em vez de natureza morta
Ou arvores e frutos de horta,
Viveriam os seus dias,
Rodeado de belas mulheres.
Musas inspiradoras, telas,
Frescas fontes de alegria,
Em museus, seriam visitadas.
Eu, por elas, passaria,
E, sem saber da sua sorte,
Também, nelas, me inspiraria.
Pobre fortuna, ocultas mulheres,
Sem escolhas e sem direitos,
Vidas feitas do acaso,
Com mães de ocasião
Que, a elas, não tinham direito.
Quem vem a este mundo
É porque tem o direito de viver
E é crime faze-las sofrer.
Pobres infantas, perdidas
Entre corredores sombrios.
Mudas, nem procuravam alivio,
Entre becos injustificados,
Onde tudo lhes era proibido.
Em tempo constrangido
E de obrigada aceitação,
Recolhiam-se, em oração.
Davam a vida pelos demais,
Como se as suas vidas
Não interessassem mais.
E criaram doces, hortas, jardins,
Dando alas à imaginação,
Para matar o tempo, perdidas.
Dores de coração, sofridas.

POR JOAQUINA VIEIRA
12/09/2011

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