A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 28 January 2012

NO DESCONHECIDO


Pela porta entreaberta,
Meu olhar se perde
Na largueza da penumbra,
Meu pensamento, vazio,
Ao vazio se entrega.
Pensamentos sombrios
Amontoam-se no meu pensar.
Será do dia, ou vem da noite,
A luz que quer entrar.
Corpo esguio, silencioso,
O que entra hesitante, receoso,
                Vindo da desconhecida névoa.
O mundo que, para lá, existe,
Será que me interessará?
Sou uma alma errante,
Por vezes, hesitante.
Deambulo, no silêncio,
Entre o vazio e o medo.
Frágil, minha alma avança.
Ainda que se sinta acorrentada,
Como que vá para o degredo,
Vestindo seu traje de festa.
Ela espreita, incerta, para fora,
E descobre os raios da aurora
Que ora entram, ora saem.
É neste modo de hesitar
Que nosso encontra se dá.
E as duas voamos,
Para lá deste pensar.
Minha alma abandona-me,
Desnudada, num deserto.
Pés descalços, areia quente,
Sinto que estou no inferno.
Quem me roubou o optimismo,
Com o qual, antes, me cobria.
Ainda hoje me aproximo
Da porta que está entreaberta,
Mas não sei como a passar.
Quem, de mim, roubou,
O véu que me tapava,
Que tudo me mostrava.
Já morei em castelos
Onde fiz minha mortalha.
Já fui amazona, noutras eras,
Galopando, em liberdade,
Com o rosto descoberto.
Hoje tenho medo de passar
Pela porta entreaberta.
Que ofusca meu olhar,
Neste tempo, temente.
Meu corpo treme do frio,
Onde deixou a semente.
Fundi-me, entre castanheiros
E outras árvores bravias.
Já fui lenha de lareira
E já, comigo, se construíram
Navios de ousadia.
Hoje, sinto-me temerosa,
Lendo o esvair da vida,
No fim de cada dia que acaba.
No meu corpo ainda resta
A força da antiga guerreira
Que, em outras vidas,
Antigas existências,
Ousou ser aventureira.
Mas vou ignorar esta porta
E avançarei, no desconhecido.
Farei planos, concretos,
E plantarei oásis, reais,
Nas miragens do deserto.

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA
28/01/2012