Pela porta entreaberta,
Meu olhar se perde
Na largueza da penumbra,
Meu pensamento, vazio,
Ao vazio se entrega.
Pensamentos sombrios
Amontoam-se no meu
pensar.
Será do dia, ou vem da
noite,
A luz que quer entrar.
Corpo esguio,
silencioso,
O que entra hesitante,
receoso,
Vindo da desconhecida
névoa.
O mundo que, para lá,
existe,
Será que me interessará?
Sou uma alma errante,
Por vezes, hesitante.
Deambulo, no silêncio,
Entre o vazio e o medo.
Frágil, minha alma
avança.
Ainda que se sinta
acorrentada,
Como que vá para o
degredo,
Vestindo seu traje de
festa.
Ela espreita, incerta,
para fora,
E descobre os raios da
aurora
Que ora entram, ora
saem.
É neste modo de hesitar
Que nosso encontra se
dá.
E as duas voamos,
Para lá deste pensar.
Minha alma abandona-me,
Desnudada, num deserto.
Pés descalços, areia
quente,
Sinto que estou no
inferno.
Quem me roubou o
optimismo,
Com o qual, antes, me
cobria.
Ainda hoje me aproximo
Da porta que está entreaberta,
Mas não sei como a
passar.
Quem, de mim, roubou,
O véu que me tapava,
Que tudo me mostrava.
Já morei em castelos
Onde fiz minha mortalha.
Já fui amazona, noutras
eras,
Galopando, em liberdade,
Com o rosto descoberto.
Hoje tenho medo de
passar
Pela porta entreaberta.
Que ofusca meu olhar,
Neste tempo, temente.
Meu corpo treme do frio,
Onde deixou a semente.
Fundi-me, entre
castanheiros
E outras árvores
bravias.
Já fui lenha de lareira
E já, comigo, se
construíram
Navios de ousadia.
Hoje, sinto-me temerosa,
Lendo o esvair da vida,
No fim de cada dia que
acaba.
No meu corpo ainda resta
A força da antiga
guerreira
Que, em outras vidas,
Antigas existências,
Ousou ser aventureira.
Mas vou ignorar esta
porta
E avançarei, no
desconhecido.
Farei planos, concretos,
E plantarei oásis,
reais,
Nas miragens do deserto.
AUTORA: JOAQUINA VIEIRA
28/01/2012