A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday, 24 March 2012

ARCA DAS FILOSOFIAS


Não posso continuar calada!
Lá para os lados do outeiro,
Há gente sorrateira
Que me quer afrontar.
Qualquer janela, portada,
Dura mais do que eu.
Quem saberá quem fui eu?
Passei só, por aqui,
Aqui fui passageira.
Tudo experimentei.
Na fonte onde fui beber,
No ventre da minha mãe,
Onde me propus nascer.
Trazia, comigo, emendas,
Na casa onde outros nasciam.
Mas, no tempo já vencido,
Sentenças e recados espalhei.
Sobre tudo, eu quis dizer.
Embrenhei-me pelo mato,
Como bicho caricato,
Tudo tentando apreender,
Meu corpo, a experiências, oferecer.
E pus corações a baterem.
Alguns deles eram ladrões
E meus sonhos roubaram.
Que estou eu, aqui, a dizer
Se eu não existo, a viver,
Fora duma redoma almofadada.
Queria deixar, como testemunho,
Que a mente é um instrumento,
Para este mundo suportar.
Casas, terras, bens, matérias,
Que interessam aos demais,
Àqueles que não pensam,
Para além do seu umbigo.
Neste mundo tão diverso,
Tudo me parece ao inverso.
As arcas das filosofias,
Em segredo, assaltei.
Mas nada, de lá, retirei.
Deixarei o meu querer,
Numa campa, a descansar.
Que, nunca mais, ninguém,
Ouse, a mim, recordar.
Foram tantos os avisos!
Minha alma me gritava
Que o caminho não era por ali.
Mas fechei meu coração,
A tudo o que me rodeava.
Não, não procuro a sorte,
Nem digo que sim, à morte.
Não quero dinheiro!
Prefiro a roseira!
Poderiam, até, me crucificar
Mas já não há pena de morte.
Assim, continuarei na fonte,
Na fonte da vida,
A beber.

Autora: Joaquina
24-03-2012

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