A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 24 March 2012

OLHOS SE PRENDEM...



É nesta sala impessoal,
É a espera, neste aeroporto.
Espero uma debanda,
Para além da outra banda.
Espero sentada, olhada,
Nesta espera tangente,
No meio de outra gente.
É uma sala tão grande,
Imensa de gente sombria.
Mas entre os sisudos há alegres,
São crianças em correria.
Diariamente se vivem vidas,
No meio de tal ambiente.
Uns dormem e outros sentem.
Assim se amontoam vidas
Tão diferentes em destinos,
Embora se sintam iguais.
E juntos, como os pardais,
Fazem lembrar uma árvore,
Por vendavais fustigada.
Assim os corações se sentem,
Como dentro de alambiques,
Como fogo em aguardente.
Fervilham emoções!
Sinto, sem olhar distraído,
Para não pensarem comigo.
Cruzam-se vidas, por momentos,
Numa linguagem tangente,
Onde os olhos se prendem.
Gente descontraída da sorte,
Outra mais simples, sem Norte.
Todos eles esperam o seu destino.
Eu, sentada, escrevo a demora,
Como quem espera a aurora.
Onde o Sol aquece e se estende,
Ficam presos sentimentos,
Numa espera paciente
Onde se rangem os dentes
De quem é activo, depressivo.
Ao meu lado, alguém apressado,
Porque não tem paciência,
Para ver o tempo passar.
Estrangeiro desta rotina,
Apenas se quer equilibrar.
Mas isto não é para ele!
É esbanjamento rotineiro,
É só a vida a passar,
Sem a poder reclamar.
Dentro desta mesma sala,
Dentro deste mesmo ambiente,
Cabem os calados, contentes.
Menos as crianças
Que não entendem,
A espera cravada na gente.
É tempo de me pôr a caminho
Para um frio de rachar.
Espera-nos alguém muito querido
Que o luso fado, sofrido, levou.
Saudades de a voltar a abraçar.
Aqui olhando à minha volta,
Vejo gente que se nota.
São de vários continentes.
Assim, todos calados,
Esperam, embaraçados.
São pessoas diferentes,
Em costumes e linguagem.
Mas neste mundo global
Onde eu estou inserida,
Aqui sentada, medito.
Sem o ambiente a meu lado
Eu também estaria calada.
Não fosse ele apressado,
Ele, o tempo que não espera,
Mesmo pelo tempo de espera.
Vou então para outra esfera,
Onde meu espírito, em espera,
Se possa, por fim, aquietar.
Dentro deste espaço,
Dentro desta espera,
Já me sinto a sufocar.

Autora: Joaquina 
24-03-2012

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