A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday 14 September 2011

PLANADORES



Gente que se move, inócua,
Pela vida, planando.
Levados pelos ventos,
Em labirintos da mente, fechados,
Sem nunca encontrarem nada
Que justifique a sua chegada.
Da vida, cedo se ausentaram
E, distraídos do mundo,
Voaram do propósito da criação.
Aqui, jamais encontraram
Uma justificação para estarem.
Sua marca poderiam deixar se,
O seu umbigo deixassem de mirar.
O que fizeram com o cérebro
Com que foram presenteados?
Seus talentos, congénitos, por si,
Jamais foram descobertos.
Do mundo sendo, apenas, um acidente,
E, de tudo, distraídos, desaparecidos,
São bocas com línguas afiadas e dentes
A mastigarem cadáveres inofensivos.
Desperdiçam a sua energia
Em festanças e distracções,
Tramando vidas e amigos.
Assim a vida se esvai,
Por entre penas, por entre nadas.
Folhas derrubadas por ventos,
Como suas vidas, caídas.
E nada há que os afecte!
Mas o dia, esse dia está certo,
Como certo esteve o de ontem.
A muitos lhes basta a comida na mesa
E, em frente dos olhos, a televisão.
A roupa está sempre à mão,
O programa em antevisão.
O dinheiro, na sua conta pousado,
Do esforço de outros, saqueado.
E lá continuam, planando,
Como se fossem apenas abutres,
Em cima das copas das árvores.
Não existe, para eles, a saudade,
Porque de nada de notável se recordam,
Porque esforços não despenderam,
Nem para ajudar, jamais, alguém.
Passaram, sempre ao lado, mais além.
A vida se vai, para eles, esgotando,
Assim, devagarinho, sem alarido.
Sentados na poltrona da vida,
Não pensam, não agem, estão.
São tão iguais, que não se distinguem
No meio da manada, amansada, que pasta,
Esperando, por eles, ser devorada.
Mas há outros que, remando,
Vão vencendo a corrente adversa,
E ousam apontá-los e enfrentá-los
E que se atrevem a sonhar, intervindo.
É quando, por fim, os planadores,
Servindo-se de seus ferozes lacaios,
Também estes planadores,
Reagem com bestial violência, primária.
Todos eles, deste mundo, partirão
Sem nunca aprenderem nada.
Porque estiveram assim, servidos.
Vestiram-se de presunção
Ou serviram com devoção,
Planando, planando, em vão.
E, no fim, o que lhes resta?
Pobres coitados, bem vestidos,
Morrerão inúteis, planando.


Por Joaquina Vieira