Minha alma, desconcertada,
Com farrapos vestida,
Tenta esconder minha dor
Que, de tanta nudez, suspira
Por abrigo e por amor.
Se ela se satisfizer
Com brocados e pedrarias
Recorrerei a tempos idos,
Onde as damas os usavam
E ornavam seus vestidos.
Procurarei outros bálsamos,
Para curar os ferimentos
Por onde espreita a alma
Que, de tanta dor vivida,
Vive em estado de alerta.
Meu corpo, despido porte,
Com trapos, sem honrarias.
Que uns e outras o abrigam,
De todas as intempéries.
Mas, com a angustia do mundo,
Como, minha alma, serenar?
Procuro, somente, um abrigo
Para a minha alma acolher.
E se ela assim o exigir,
Me vestirei de bordados
Que tapem as minhas carnes,
Que abriguem minha alma
Porque a sinto descontente.
Como me ressinto deste desprazer
De que meu corpo não pode falar.
De onde vem o desconforto?
Vem do corpo, vem da alma?
Vou, a fundo, investigar
De onde vem o sofrimento.
Nem que tenha de voar
Para dentro de outro tempo.
Será que lá encontrarei,
Algum remédio, a solução?
Algo que aguente o bater
E que blinde meu coração.
Mas faltava a angustia somar-se
A este momento tremendo.
E meu corpo, assim assustado,
Será que treme de medo,
Ou estremece, antes, de arrepio?
Ou está apenas a manifestar
Este meu estado ansiedade,
Por se sentir abandonado,
Pela alma errante, hirta.
Se tiver que vestir o corpo
Com brocados e bordados,
Farei todos os caminhos
Para minha alma alcançar.
Eu sei que, meu corpo, reclama
Trapos para o vestir.
É que a alma, inocente,
Apenas não está contente,
Com todo este sentir.
Do outro lado vem o sinal
Para o meu corpo aguentar.
A alma tem que sobreviver,
No corpo terá que habitar.
Ela, lá, mora a gosto
E não consente distração.
Ela sabe o que tem pela frente,
Ela conhece bem sua missão.
Todo este descontentamento
Vem só do momento presente,
Deste mundo descontente
Que, aos poucos, meu corpo mina.
Mas minha alma, despida,
Nem sequer se contradiz.
Nada reclama, nada precisa.
Requer só a minha atenção,
Para que o corpo não sofra,
Em vão…
POR JOAQUINA VIEIRA
14/09/2011
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