Sou cobaia, sem nada que me
detenha,
Sou a minha maneira de ser
ou não ser!
Este diálogo secreto que
comigo acerto…
Peço ajuda ao vento,
Ausento-me do tempo,
Desapareço na ânsia de me
ver.
Procuro o meu corpo na sua
extensão,
Encontro nele a eterna
vastidão.
O infinito é pequeno!
A minha face acesa
Repousa em fogueiras.
Faço delas linhas ordeiras.
Tudo o que faço é um
desequilíbrio
Por onde passam todos os
trilhos.
Levanto lembranças de
franca amizade
Mas ateio guerras dentro do
tempo.
Crio noites desoladas e
apressadas
Onde saboreio o amor e o
desamor.
Sinto o odor da tua voz.
Vem com a nervura que me
costura
E chega a queimar o meu
palato!
Sou o reverso da alvorada
E entro no crepúsculo
alucinado.
Deixo que beijes a minha
emoção
E acaricio-te a alma
sanada.
Ela é o meu renascer sem
cansaço
E o silêncio dividido com
a espada.
Sou um todo deitada no
lodo
E verto minha essência nos
silêncios.
Conservo o desejo do beijo
silenciado
Porque castrada em festas
e amores.
Mas sou mil sois sob os lençóis!
Tua ausência me magoa, à
toa.
São muitas as vezes em que me
ausento
Mas sou, de mim, a criadora.
Construo fábricas de dores,
Lagos de lágrimas,
Jardins de flores,
Mas continuo presente
Dentro do meu presente.
Sou parte do céu,
Sou dele o arco-íris.
Retenho o sono
E são outras vidas que por
mim sonham.
Sou a angústia que me
sustenta,
Sou, no meu universo, o
reflexo.
Sou os prantos da minha
ausência,
Sou a consorte da morte,
Sou as horas que batem por
ti.
Sou, em ti, o feitiço!
Alargarei mares e rios só
para te ver
E darei rédeas à alma
acesa.
Cortarei abismos perseguidos…
A pele rasgada sobre ti…
Vem consumir o que restou
de mim,
Procura-me no presente e
no fim!
Verás que sou idêntica ao
vento!
Sou a alma transparente,
Sou a nocturna solidão,
Sou e serei a tua paixão
Encalhada em qualquer
estação.
Autora: Joaquina Vieira
24/08/2016