A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Friday, 14 December 2012

A ESCURIDÃO



Sou poetiza, sou escrivã,
Sou dona da escuridão.
Latente, tenho o desejo
De, com minha pena,
Com todos, poder festejar.
Farrapos, fadas que caem,
Palavras feridas que saem,
Magoadas, nas utopias,
Que me abraçam, nestes dias.
E, nas calendas, navego,
Entre gemidos e sinais.
Amo a todos e a meu ego,
Estimar-me-ão os demais?
Utopia, porque choras?
De tanto te sonhares, te arriscas
A veres o animal que comandas.
Sou poetisa da utopia
E a caneta se arrepia
Ante palavras sofridas,
Aos soluços, proferidas,
Por gente que tem perdido,
Das suas vidas, o sentido.
E, a elas, vou escutando
E, com elas, vou falando
E, por elas, vou chorando.
E, por elas, me retiro,
Para o mundo das utopias,
Onde minha voz quer habitar.
Onde as crias se levantam,
Desde a dor até ao pranto,
Porque elas teimam em viver.
Que modos tens,  utopia,
Ao fazeres círculos, profundos,
Nas almas deste mundo.
Não há razão que persista,
Nem valor que resista,
Neste mundo de traição.
Vou fazendo sementeiras,
De palavras, de fronteiras,
Na desistência de alguém.
Vem ser útil, utopia,
Vem versejar, amiga.
Mais inspirada irei acordar,
Quando vierem outros dias.
Mas se me vier a perder,
Por ti, no meu caminho,
Ninguém poderá dizer,
Que não parei de tentar,
Tua amizade tomar.
Neste mundo de insensatez
Já só distingo a malvadez,
Que, outros, vão semeando,
Onde antes se colhia o pão.
Falas se lançam, ao vento,
De ventres que vão inchando,
Apenas, de matéria fétida,
Maculando qualquer estada.
Mas, na minha veracidade,
Tu, raivosa, louca utopia,
Alongas os meus gritos,
Na imperante escuridão.
Porque quero, em tudo, pensar,
E quero, sobre tudo, afirmar,
E quero, muito, poder fazer.
Quero dar, aos outros, dias estivais,
Desviando os seus vendavais.
E, no repouso utópico,
As fogueiras que estão por arder,
E as crianças que estão por nascer,
Que me venham preencher.
E qual será o fim do poeta,
Quando a tinta se esgotar?
O mundo se emudecerá,
Dentro das suas muralhas,
Onde se esconde a utopia,
Gene da mestria,
Que se atreve a sonhar.
Guerreiros da luz!
Vós que me escutais,
Só vós tendes o poder,
Para, deste lugar, me elevar.
Assim, que morra a carne
Que, no mundo, foi metade
De tudo o quanto vivi.
Fiz palavras incessantes,
Que divulguei pelos cantos,
E lhes dei vida, por instantes.
Agora que já disse tudo,
A veia de poetisa se faz muda.
Aninhou-se na utopia
Onde, à noite, sucede o dia.
Meus caracóis entrelaçados,
Pelo medo e com saudade,
Os irei embelezar,
Para, na utopia, ser notada.

Autora: Joaquina Vieira

13/12/2012