Sou poetiza, sou escrivã,
Sou dona da escuridão.
Latente, tenho o desejo
De, com minha pena,
Com todos, poder festejar.
Farrapos, fadas que
caem,
Palavras feridas que
saem,
Magoadas, nas utopias,
Que me abraçam, nestes
dias.
E, nas calendas, navego,
Entre gemidos e sinais.
Amo a todos e a meu ego,
Estimar-me-ão os demais?
Utopia, porque choras?
De tanto te sonhares, te
arriscas
A veres o animal que
comandas.
Sou poetisa da utopia
E a caneta se arrepia
Ante palavras sofridas,
Aos soluços, proferidas,
Por gente que tem
perdido,
Das suas vidas, o
sentido.
E, a elas, vou escutando
E, com elas, vou falando
E, por elas, vou
chorando.
E, por elas, me retiro,
Para o mundo das
utopias,
Onde minha voz quer
habitar.
Onde as crias se
levantam,
Desde a dor até ao
pranto,
Porque elas teimam em
viver.
Que modos tens, utopia,
Ao fazeres círculos,
profundos,
Nas almas deste mundo.
Não há razão que persista,
Nem valor que resista,
Neste mundo de traição.
Vou fazendo sementeiras,
De palavras, de
fronteiras,
Na desistência de
alguém.
Vem ser útil, utopia,
Vem versejar, amiga.
Mais inspirada irei
acordar,
Quando vierem outros
dias.
Mas se me vier a perder,
Por ti, no meu caminho,
Ninguém poderá dizer,
Que não parei de tentar,
Tua amizade tomar.
Neste mundo de
insensatez
Já só distingo a malvadez,
Que, outros, vão
semeando,
Onde antes se colhia o
pão.
Falas se lançam, ao
vento,
De ventres que vão inchando,
Apenas, de matéria
fétida,
Maculando qualquer estada.
Mas, na minha
veracidade,
Tu, raivosa, louca
utopia,
Alongas os meus gritos,
Na imperante escuridão.
Porque quero, em tudo,
pensar,
E quero, sobre tudo, afirmar,
E quero, muito, poder
fazer.
Quero dar, aos outros,
dias estivais,
Desviando os seus
vendavais.
E, no repouso utópico,
As fogueiras que estão por
arder,
E as crianças que estão
por nascer,
Que me venham preencher.
E qual será o fim do
poeta,
Quando a tinta se
esgotar?
O mundo se emudecerá,
Dentro das suas
muralhas,
Onde se esconde a
utopia,
Gene da mestria,
Que se atreve a sonhar.
Guerreiros da luz!
Vós que me escutais,
Só vós tendes o poder,
Para, deste lugar, me
elevar.
Assim, que morra a carne
Que, no mundo, foi
metade
De tudo o quanto vivi.
Fiz palavras
incessantes,
Que divulguei pelos
cantos,
E lhes dei vida, por
instantes.
Agora que já disse tudo,
A veia de poetisa se faz
muda.
Aninhou-se na utopia
Onde, à noite, sucede o
dia.
Meus caracóis
entrelaçados,
Pelo medo e com saudade,
Os irei embelezar,
Para, na utopia, ser
notada.
Autora: Joaquina Vieira
13/12/2012