Da ultima chuvada caída,
Perdida, sobrou uma gota,
Uma simples gota de água,
Uma pequena gota de vida
Que numa folha vivia.
Ainda que singela, a gotinha
Tinha uma vida para viver.
Querendo a vida refrescar
E novas paragens tentar,
Em queda livre, voando,
Num rio foi mergulhar.
E vindas da nascente do rio,
Outras gotas a avistaram.
Uma aqui, mais uma ali,
Mais gotinhas se juntaram.
E todas foram descendo
E o rio foram enchendo.
E o rio de gotas inchando,
Era um farto rio de vidas,
Vidas que sendo gotas,
Eram divinas gotas de vida.
E todas as gotas contam,
Como contam todas as vidas.
Ela era apenas uma gota
Mas também era uma vida.
Era simples e pequenina,
Insignificante utopia.
Nas margens do rio encalhou
E nas suas bordas sonhou.
Porque ela tinha um sonho
Que a perseguia, noite e dia.
Teria que desencalhar
Para, remando sem parar,
Poder vencer as correntes
E ir ao encontro do mar.
Em pequenos ou grandes rios,
Grande era a ambição,
Daquela pequena gota.
Com seus jeitos marotos,
Ela foi cantando
E encantando.
E outras gotas foi chamando.
Seria difícil a tarefa,
Tão bem ela o sabia.
Mas porque nada é impossível,
E que bem ela o sabia,
Devagar, foi rolando,
Seguindo um fio de esperança,
Seguindo o curso do rio,
Seguindo o curso da vida.
Porque a vida é esperança.
E ia pensando e teimando
Como haveria de encontrar
O tão ambicionado mar.
Pelo caminho surgiam
Obstáculos para superar.
Eram pedras, eram árvores,
E traiçoeiros predadores.
Mas persistente, a gotinha,
Cheia de energia da vida,
Avançava, não desistindo.
Até que, despertadas,
Outras gotas a escutaram.
E com ela o seu caminho seguiram,
Procurando a foz do rio
Para mergulharem no mar.
Mas não possuíam em si a força,
Para, com a gota, continuarem.
Mas a fé daquela gotinha
Era maior do que o rio.
Porque tinha uma ambição
E sabia do milagre da vida.
E persistente continuou,
Ainda que desacompanhada.
E armou-se de toda a fé
Que nem ela própria sabia
De onde pudesse provir.
Lá no fundo,ela sabia
Que ao mar chegaria.
Foi então que, um dia, cansada,
Avistou ao longe o mar.
Foi quando pela primeira vez,
A gota, por fim, descansou.
Era apenas uma gota
Que obedecia ao seu caminho.
E a gota chegou ao mar
Porque essa era a sua ambição,
Porque era esse o seu caminho,
O caminho da sua vida.
E no mar se diluiu.
No mar formado por gotas,
Por outras gotas de vida.
No grande mar de gotas
Tão grande como a sua fé,
Que é o Oceano da vida.
Alcançou o seu objetivo,
No início uma utopia.
Não era uma pretensão desmedida,
Era cumprir a sua jornada,
Honrando o prodígio da vida.
Não importou ser pequena.
Ela hoje vive no mar
Porque cumpriu sua vida.
Façamos então como ela,
E chegaremos ao nosso lugar,
Submetendo à nossa firmeza
Os estorvos do percurso.
Vamos fazer como a gota,
Afastando os espinhos
Para vivermos a história
Que ficará na memória,
Como a crónica da vida.
Sejamos então gotas,
Porque ainda que sozinhas,
Acharemos o nosso caminho
Aquele que depende de nós!
Escrevamos a nossa história,
A história da nossa vida.
Ainda que a registemos, sozinhos,
Agraciando o assombro da vida,
Seguindo os nossos caminhos.
AUTORA – JOAQUINA VIEIRA
25-07-2012