A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday, 26 July 2012

O RIO DA ALMA - GOTA DE VIDA, GOTA DE AMOR


Da ultima chuvada caída,
Perdida, sobrou uma gota,
Uma simples gota de água,
Uma pequena gota de vida
Que numa folha vivia.
Ainda que singela, a gotinha
Tinha uma vida para viver.
Querendo a vida refrescar
E novas paragens tentar,
Em queda livre, voando,
Num rio foi mergulhar.
E vindas da nascente do rio,
Outras gotas a avistaram.
Uma aqui, mais uma ali,
Mais gotinhas se juntaram.
E todas foram descendo
E o rio foram enchendo.
E o rio de gotas inchando,
Era um farto rio de vidas,
Vidas que sendo gotas,
Eram divinas gotas de vida.
E todas as gotas contam,
Como contam todas as vidas.
Ela era apenas uma gota
Mas também era uma vida.
Era simples e pequenina,
Insignificante utopia.
Nas margens do rio encalhou
E nas suas bordas sonhou.
Porque ela tinha um sonho
Que a perseguia, noite e dia.
Teria que desencalhar
Para, remando sem parar,
Poder vencer as correntes
E ir ao encontro do mar.
Em pequenos ou grandes rios,
Grande era a ambição,
Daquela pequena gota.
Com seus jeitos marotos,
Ela foi cantando
E encantando.
E outras gotas foi chamando.
Seria difícil a tarefa,
Tão bem ela o sabia.
Mas porque nada é impossível,
E que bem ela o sabia,
Devagar, foi rolando,
Seguindo um fio de esperança,
Seguindo o curso do rio,
Seguindo o curso da vida.
Porque a vida é esperança.
E ia pensando e teimando
Como haveria de encontrar
O tão ambicionado mar.
Pelo caminho surgiam
Obstáculos para superar.
Eram pedras, eram árvores,
E traiçoeiros predadores.
Mas persistente, a gotinha,
Cheia de energia da vida,
Avançava, não desistindo.
Até que, despertadas,
Outras gotas a escutaram.
E com ela o seu caminho seguiram,
Procurando a foz do rio
Para mergulharem no mar.
Mas não possuíam em si a força,
Para, com a gota, continuarem.
Mas a fé daquela gotinha
Era maior do que o rio.
Porque tinha uma ambição
E sabia do milagre da vida.
E persistente continuou,
Ainda que desacompanhada.
E armou-se de toda a fé
Que nem ela própria sabia
De onde pudesse provir.
Lá no fundo,ela sabia
Que ao mar chegaria.
Foi então que, um dia, cansada,
Avistou ao longe o mar.
Foi quando pela primeira vez,
A gota, por fim, descansou.
Era apenas uma gota
Que obedecia ao seu caminho.
E a gota chegou ao mar
Porque essa era a sua ambição,
Porque era esse o seu caminho,
O caminho da sua vida.
E no mar se diluiu.
No mar formado por gotas,
Por outras gotas de vida.
No grande mar de gotas
Tão grande como a sua fé,
Que é o Oceano da vida.
Alcançou o seu objetivo,
No início uma utopia.
Não era uma pretensão desmedida,
Era cumprir a sua jornada,
Honrando o prodígio da vida.
Não importou ser pequena.
Ela hoje vive no mar
Porque cumpriu sua vida.
Façamos então como ela,
E chegaremos ao nosso lugar,
Submetendo à nossa firmeza
Os estorvos do percurso.
Vamos fazer como a gota,
Afastando os espinhos
Para vivermos a história
Que ficará na memória,
Como a crónica da vida.
Sejamos então gotas, 
Porque ainda que sozinhas,
Acharemos o nosso caminho
Aquele que depende de nós!
Escrevamos a nossa história,
A história da nossa vida.
Ainda que a registemos, sozinhos,
Agraciando o assombro da vida,

Seguindo os nossos caminhos.


AUTORA – JOAQUINA VIEIRA

25-07-2012