Não encontro aptidão
Para vencer a extensão
Do desespero que sinto.
Para carregar a constância
Da comoção despertada,
Por a mentira instalada,
Sitiando o meu recinto,
Por verdade ser tomada.
Em noites de Lua cheia
A minha sombra devaneia.
Tropeça na minha ânsia,
Pintada de sangue e areia.
E minha alma não se alheia,
Dos vaivéns que lhe conferem
Uma existência paralela.
Encosto-me à minha janela
Que me ampara na refrega.
O Sol e o vento não me ferem.
Mas abano, como abana ela,
A árvore de grande porte,
A mais poderosa, a mais forte.
Meu corpo, pano de vela,
À tempestade se entrega.
Como folha lançada ao vento,
Vai e vem, na maré esperada.
Mas durmo meu sono, repousada,
Sem achar culpa, sem lamento.
Tudo o que sou é tudo o que conta,
E invento-me em cada intento.
Tudo o que tenho, não é de monta,
Mas me basta e me contento.
E, na espera do tempo, disperso
Num pedaço de folha velha, um verso.
Um verso lançado ao vento,
Um verso ao céu, ao sofrimento.
Desfeito, contra as rochas, o tormento,
Emoções dão à costa do esquecimento.
É tudo o que me poderá restar.
Dará, um dia, para recordar?
Eu venho de um outro mundo,
Um Deus, comigo, jogou fundo.
Depositou-me onde o mal persiste,
Onde tudo é tirado e nada resiste.
Numa arca de segredos,
Eu, embrulhada em medos,
Nada tiro, nada darei,
Só desatinada restarei.
Mas existe em mim outro Universo,
Vastíssimo, por desbravar, diverso.
Minha mente, activa, aponta o sentido.
Aqueço o meu gelo derretido,
Na voraz caldeira do meu pensar.
E, incapaz de desabafar,
Dou por mim a lacrimejar.
E me vejo eu e a maresia,
Recordando a ida invernia,
Redobrada de amarguras.
Doe e magoa ao relembrar,
Tudo o que tive que ultrapassar.
Tantas foram as desventuras
Que a ninguém ousei contar.
Choros retidos, lágrimas maduras,
Que vim agora entregar,
Às pacientes ondas do mar.
Era intenso o meu pesar
E ninguém o pode escutar.
Tão profundo era o rasgão
E ninguém me deu a mão.
No entretanto vou calando
O sofrimento de mim.
Faço de conta, até cantando,
Que tudo está bem, assim.
E assim vou indo, até ao fim.
E o coração resiste
A este penoso pensar?
Nada mais subsiste,
Até o poder para amar.
E o que fazer do desgosto,
Daquele que vai sobrar?
Em mim o vou encerrar.
Agirei como que com gosto,
Para ninguém suspeitar.
E desafogada, por fim,
Da magoa que mora em mim,
Enfrentarei a libertinagem,
A crueldade, o desamor,
Bem mais fortes do que a dor.
Dor que se cravou e dói, assim,
E que ameaça fender a margem
Do rio da minha coragem.
Autora : Joaquina Vieira
(Página renovada e reposta porque adequada ao momento)
Julgava, na minha ingenuidade, que a maldade, a corrupção, a perversão e a mais cruel e desumana destruição dos valores da Humanidade estavam afastadas do mundo dos livros. Descobri, absolutamente espantada, que estava enganada. São publicados, promovidos e expostos para venda os livros dos maiores destruidores da esperança de uma Nação. Aparecer na televisão ou ser um político corrupto são condições necessárias e suficientes para se ser considerado um autor de sucesso. O Zé Povinho vai-se entretendo com as revistas cor-de-rosa. Os livros de autor (bem pagos por estes), queimados ao fim de algum tempo, vão enriquecendo as editoras. Os novos talentos são obrigados a enviarem para as mesmas, por email, os trabalhos que julgam ter qualidade para serem publicados. A partir desse momento nunca mais saberão qual o destino que lhes estará reservado. São, de imediato, desmotivados. Os seus sonhos são, a partir do momento em que enviam as suas obras por email, imediatamente destruídos.A verdade é que, num país tão pouco culto e tão pequeno, as editoras estão riquíssimas. Porquê? Descubram.
Copia-se, facilmente, o conteúdo do email e envia-se para qualquer parte do mundo. Será publicado, com outro título e noutra língua ou vai alimentar a industria dos filmes para dvd. Ao autor que tinha tantos sonhos só lhe resta emigrar e deixar de escrever. O ladrão enriquece, sem qualquer escrúpulo.
Esta geração que se está a forjar, nada terá a que se agarrar.