A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Sunday 22 July 2012

RIOS DA ALMA - RIOS DA VIDA






























Nas páginas que vou gerando,
Escritas com a energia da vida,
Há frases de que transbordam,
Ribeiras, torrentes, caudais,
Tormentosos rios da alma.
Palavras que saem, correndo,
E que aliviam o meu ser.
Que vida amargurada, não vida,
Que amarga existência me resta,
Se nada vier para me salvar,
Se a motivação me escapar.
Se me fugir por entre os dedos,
Das mãos inertes, desertas,
Sem a inspiração que as guie.
Minha mente não resistiria,
Nem meu corpo deixaria
De fruir daquela energia,
Que vem do cimo da vida,
De lá, de onde vem o sopro,
De onde a alma se sente.
E de seda preta, vestida,
Choraria a minha razão,
Neste meu corpo mirrado,
Por cicatrizes de lutas, marcado,
Pela viagem, no tempo, minado.
Mas de um qualquer alçapão,
Desviarei, dos momentos,
O sangue que, sendo cálido,
Me aquecerá a estadia.
E de onde virá a alegria,
A das virgens inocentes,
Entregues às alegorias.
Ainda tenho muito para andar
Porque é vasto o céu estrelado.
E mesmo que de candeia acesa,
E com brasas em minhas mãos,
E ainda que durma no chão,
Irei, um dia, encontrar,
Quem, aqui, me tirou a razão.
Voltarei, um dia, a escavar,
As terras por semear.
E os pombos não voarão,
Nem as andorinhas virão,
Fora da sua estação.
Ai! Tanta é a exploração,
Neste mundo de escravidão.
Por isso, suprema razão,
Eu nele quero plantar,
Minha dor, minha flor,
A marca da minha razão.
Um sinal da minha presença,
Uma página, uma sentença.
Porque a fome voltará,
Um dia, como um bastão.
Virá, para substituir o pão,
E nem uma migalha restará,
Esquecida, no secado chão.
E, então, os deuses virão.
Voltarão, aqui, para reinar,
E não para descansar,
Neste planeta de batalhas,
Por sangue, inocente, manchado,
Pelo sangue da vida, extraviado,
Pelo desvario das mentes, maculado.
E expulsarão, por fim, os infames,
Aqueles que, seus irmãos, saquearam.
Aqueles que, por suas mãos,
Minaram destinos e espalharam,
A mentira, o ódio, a traição.
Aqui plantarão sementes,
Dentro do mar e dos ventos,
E nos vulcões que há na Terra.
Quem me dera ser encantada,
E em borboleta transformada:
Para assistir a toda a transfiguração
E ver, aqui, nascer outro condão;
Para que não se possa padecer,
De fome, de sede e de humilhação.
Para que se possa viver
De sonhos e de fantasias;
Para ver, inconstante, crescente,
A força da paz e da harmonia;
Para olhar para o lado, um instante,
E poder amparar o meu semelhante,
E me bastar isso, para ficar contente;
Para ver a alegria, na criancinha,
Num sorriso cativante, inocente;
Para ver partir a andorinha,
Mudando de continente;
E para, como ela, mas diferente,
Ver a minha vida, ao findar,
Dentro de um rio, lavada,
E poder partir, no fim da jornada,
Nas águas serenas, 
Serena, levada.

Autora: Joaquina Vieira

 22-07-2012