A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday 6 August 2012

O RIO DA ALMA - NAS ASAS DO TEMPO



Nas asas do tempo que passa,
Nas ondas do vento que sopra,
De mim nasceste e voaste.
E os temporais que enfrentaste!
Mas as ciladas dos caminhos,
Fizeram-te sofrer e crescer.
Filha do vento e do tempo
Que foste arrastada e esgotada,
Nos domínios de um furação.
Viveste a meio da ponte,
Onde os costumeiros algozes,
Carrascos de todos os tempos,
Verdugos na rosa-dos-ventos,
Te quiseram roubar o Norte.
E voltaste ao porto de abrigo,
A esta Terra que é tua.
Vieste provida da certeza
Que, no meio da correnteza,
Uma mão te iria encontrar
E que te haveria de amparar.
Então, no teu caminho ondulante,
Rogando como um viajante,
Era a minha vez de rogar.
Sabia que comigo virias ter.
Eu te procurava por este mundo,
Por tantas paragens, sem saber
Onde te poderia descobrir.
Coragem e rios foram precisos.
Dela tive que me prover,
A eles tive que domar.
Porque profundos e caudalosos
Quase me puderam afogar.
Mas a tua luz era forte,
Tão certa como o teu Norte,
E por isso te pude encontrar.
E valeu a pena por ti esperar.
E pisar as tuas pegadas,
As escolhas que tu traçaste.
E leve como uma pena,
De mim tu te acercaste.
E com o medo perdido,
Porque pela esperança batido,
Eu só desejava ser mãe.
Essa era a minha missão.
E arrastada pelo chão,
Ignorado o tempo e o vento,
Neste planeta te esperei.
Era aqui o nosso encontro.
Tu eras a minha sede,
Eu era a tua fonte
Onde havias de saciar
Teus segredos, comigo.
Primeiro cheguei eu.
Se não fosse para te encontrar,
Eu nunca teria voltado.
Mas eu esperava por ti.
Já tinha tudo cumprido.
Não precisava de voltar
A esta Terra de guerras,
A este paraíso, em eras.
Só tu para me fazeres encarar,
Toda a dor que vim encontrar.
És o anjo que me guia
Nos dias de Inverno, frios,
Nos dias de Agosto, acesos.
Tudo venceu, o amor.
Teu sofrimento fragmentado,
Faz parte da tua jornada.
O tempo deu-nos razão.
Sobre o rugido do leão,
As nossas vidas serão
Um rasto de luz, no tempo.
Tu e eu já alcançámos
Que somos feitas de pureza.
Tal como a pétala na flor
Que se vai desprendendo,
Mas deixando o seu odor.
O sofrimento convive
Com o adeus e com a partida.
Agora sabemos que o encontro,
Feito de amor e sofrimento,
Estava escrito no tempo.
Era o vento do destino.
Para mim pouco peço,
Menos até do que mereço.
Mas tu, persegue a tua fé,
Aquela que eu não soube ter.
Escuta o teu coração
E faz do sofrimento, canção,
Uma canção de dor, um fado,
O bálsamo da alma, emoção.
Este caminho é a passagem
Onde terás que abandonar,
Tudo o que nele encontrares.
Porque a ele tudo pertence,
Porque ele tudo te empresta.
Mas nesse caminho gravarás
A obra que criarás.
É assim que marcarás,
Com a tua pegada pequena,
Este sublime planeta.
Nele fazes tua aprendizagem,
É esta a tua paragem.
Vive em paz e harmonia
E, em simplicidade, serás feliz.
E quando eu tiver que partir,
Deixarei aqui, será oferta,
Uma memória para te consolar.
E, nos tempos, nos encontraremos,
De novo, noutras moradas.
Se meu amor te não bastar,
Ninguém mais te amará
Mais do que eu te amei.
Foste meu botão em flor
Onde depositei meu amor.
Arranquei-o das veredas
E por debaixo das pontes.
E procurei-o nas nascentes
Que nutriram minhas fontes.
Busquei-o nos altos montes,
Para não te faltar o alimento
Que tua alma veio buscar
Com todas as suas forças.
E que essa tua certeza
Te dê forças, também,
Para cumprires a tua missão.
Dei-te o que tinha e não tinha,
Até minha alma te cedi.
E fiquei só com o amor.
Ousada, que sejas forte,
Que sejas, da alma, consorte,
Que sejas cada vez melhor.
E se as minhas lágrimas
Te puderem confortar,
Saciarei um lago, translúcido,
Para que nele te possas banhar.
E que as minhas emoções,
As que vêm de dentro de mim,
Acredita, fruto de mim,
Pétala da minha flor,
Elas nunca terão fim.
E choro as minhas mágoas
Se, por alguma culpa minha,
Algo não pudeste aprender
E que poderia ter-te ensinado.
E agora que pairas bem longe,
Eu dou-te espaço para voares,
Chorando eu, de melancolia.
Pelo que tivemos que esperar,
Por atravessarmos o tempo,
Cada uma no seu momento,
Fica para sempre a saudade.
Sinto sempre a tua carência,
Mais ainda o tempo que passa,
No interior da tua ausência.
Ai dos instantes que nos escaparam.
Mas aqueles que são eternos
Para sempre permanecerão,
Porque serão gravados nos tempos.

Autora : Joaquina Vieira

06-08-2012