A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday 30 August 2011

A MINHA FILHA



Vem, a mim,
Fruto do meu ventre.
Marca o encontro,
Dentro da agitação.
Para ti, plantei futuros,
Com sementes que semeie.
Percorri a saudade,
Como que a pedir caridade.
Por esses encontros marcados
Veio interpor-se, entre nós,
A distância, as águas do mar,
A Terra, o fogo, as estrelas,
Para que eu te deixasse
Partir, seguir tua estrada.
Assim, deixo no tempo
Um marco de saudades.
E mesmo que plantado,
Eu sei que não nascerá nada.
Teu sonho já conquistaste.
Meu coração, por ti arrastado,
Ainda sofre de amor e saudade.
Eu te encontro, nos meus sonhos,
Dentro do espaço que criaste.
Vai, filha minha, corre a esperança,
Vive a alegria de quando eras criança.
Voa, ser místico, com tuas asas,
E trás, para mim, um pouco de saudade.
Transforma-te, filha minha, em arte
E lança tua obra ao vento!
Um dia, poderás ser semente,
Não a semente que nasce do ventre,
Mas aquela que espalhares,
A que, aos quatro ventos arrojares.
Nela seguirá tua herança,
Em folha de papel em branco.
E se, nos teu momentos,
De mim te lembrares,
Aí, eu estarei contigo,
Para te encaminhar.
O tempo, curto, te ocupa,
Como ocupa tua mente.
Serás, de mim, a semente
Germinada no meu ventre.
E entre vidas e mundos,
Encontros estão marcados.
Desencontros no tempo,
Onde nasce a semente.
Vai, minha filha,
Plantar searas,
Que as levará o vento.
Elas que matem a fome
A todos os que forem sedentos,
E dá, sempre, a mão,
Àquele que não tenha pão.
Acode ao desfavorecido.
Tudo o que deres, dobrado,
Por ti, será recebido.
Só te quero abençoar,
Por esse teu coração.
Que nunca te falte uma mão
Para a estenderes ao perdão.
E se, sempre, assim o fizeres,
Serás sempre abençoada
E ficarei tranquila, aqui sentada.
Mas quando chegar nosso tempo,
Seja aqui, ou noutro planeta,
De novo, o nosso tempo virá
Para a saudade matarmos.
Eu, tua mãe de carne e coração,
Tua irmã de espiritualidade,
Já me desapeguei daquele apego
Que sentia, por ti, filha adorada.
.
Por Joaquina Vieira

23/8/2011

A ESPERA ( TUDO É INCERTO... )


Tudo, na vida, é incerto.
Até o tempo, até o vento,
Até, mesmo, a minha espera.
Espero aqui, espero ali,
Em espera estive e estarei.
Esperou, também, minha mãe.
Por mim esperou, no ventre.
Cansados meses de espera!
Esperou por mim. Tanta espera.
Chegou, por fim, a minha vez.
Por tudo esperei, por tudo.
Pelo que via e pelo que não via.
Esperei por quem não veio,
Por quem nunca apareceu.
E assim a vida se perde
Em esperas, no tempo, perdidas.
É uma espera permanente.
Não sei quem fez o tempo,
Nem a espera,
Dentro do tempo.
E assim se gastam os órgãos,
Nesta espera latente.
E quem quer que se faça gente,
Estará em espera, para sempre.
E espera a árvore
Que venha o vento.
Espera que, para bem longe, leve,
Que conduza a sua semente,
E esperará a semente.
E espera o humano, no tempo.
É um ciclo premente,
Esta coisa do tempo.
Ninguém sabe quem o inventou,
Nem quem por ele, já passou.
Assim continua, a espera,
Dentro de uma pequena esfera,
Que o Homem designa por Terra.

Por: Joaquina Vieira
4/8/2011

AS ESTAÇÕES


Meu colo de nuvens, em letargia,
Trazendo, em si, a melancolia,
Vai atravessando as estações.
E assim subo e assim desço
Dentro da minha estação.
Nela aluguei meu tempo,
Nela me deitei no chão.
A terra que me fertilizou,
Era terra húmida, fértil.
Dela nasci, seu rebento.
As estações foram passando
E, nelas, me fui cunhando.
Na primeira, a Primavera,
Me rebolei e retoquei.
Aprendi, como criança,
A semear e a recolher
Mas, também, a admirar.
Nela me recriei,
Colhendo e semeando.
E alimentei o jardim
Que ia nascendo, em mim.
Tudo era belo e atraente,
Mas algo faltava ali,
Que apelasse ao sentimento.
Dele colhi flores silvestres
E enchi minha cesta, de amoras.
Admirei a variedade sem saber
Que, dela, viria a sentir saudades.
E veio o VERÃO.
Vivi, plenamente, essa estação
Que me levou para bem longe.
Para onde tudo era diferente,
E criei asas de papel
E pensamentos fieis.
Mas, também, iniciações
Que meu corpo dilaceraram.
E receptiva a experiências,
Foi no Verão que saciei,
A sede de abrigar o coração,
Tudo era quente,
Como quente era a estação.
Veio, então, o fogo,
Tentar queimar minhas mãos,
Minhas experiências em gestação.
Tudo fiz, tudo usurpei,
E a tudo me entreguei.
Eu era um pássaro alado,
Que chegava do oriente.
Era mística, descontente,
Apenas uma alma errante,  
Divagando por entre o vento.
E era o jardim verdejante
Que, também, havia em mim.
Minhas lágrimas afloraram
E, para meus rios, correram.
Rios que tive que atravessar.
E sopraram furacões
Que me abalaram as emoções
E demoliram as alegrias
Que, na Primavera, vivera.
Sonhei com a felicidade
E acordei com a saudade.
Em minha cama me deitei
E, envolta em lã, despertei.
E rumei, vida a cima, vida abaixo.
Tardava em encontrar o riacho,
Aquele que me daria,
A alegria, por um dia.
Por ele teria que remar
E não podia transbordar,
Nesse riacho sem margens.
Veio por fim, a bifurcação,
A separação de dois rios.
Eu ali sentia as margens.
Até que mereci encontrar
Minha razão de viver.
Já posso, pelo Outono, esperar
E nele mergulhar, tranquila.
Nele me entregarei ao sono
E repousar este corpo cansado,
Mas ainda acordado.
Assim, meu Outono espero,
Como quem espera uma pérola.
Até lá, minha obrigada estação.
Nunca serei dona do mundo,
Nem sequer dona de mim.
Mas encontrei meu lugar,
Na margem do meu rio,
À beira-mar do meu Mar.
Posso, agora, por fim,
Sorrir, sonhar, chorar…

Por Joaquina Vieira

30/08/2011

Saturday 20 August 2011

PEDAÇOS DE FELICIDADE


Sucedem-se ruas e ruelas,
Cidades e cidadelas.
E a minha imaginação
Que não cabe nelas.
Entro em vidas de invenção
Como lobo sem alcateia
Que, na noite, ataca a aldeia.
É o seu natural instinto,
Fruto de seu corpo faminto.
A imaginação abandonei,
Para lá da galáxia que sei,
Onde penso que possam servir
Outros temas, noutro porvir.
Onde faça sentido a vida
E se dê graças, porque é tida.
Fecho os olhos e, por instantes,
Por entre planetas distantes,
Concebo vida, em profusão,
Onde os valores são razão.
E em pradarias de cativar,
Com o coração a transbordar
De emoção e de letícia,
Encontro, por lá, o meu guia.
E nem sei como expressar,
O que consigo experimentar.
E regresso, sem ligeireza,
Pelo desabar da incerteza.
E adormecida ou despertada
Apronto cada alvorada.
Meu imaginário, insatisfeito,
Fez bater, forte, o meu peito.
Faz viagens para me abanar,
E me obrigar, solene, a zarpar
Da sonolência dormente,
Onde não tenho parente.
E para embuçar a monotonia,
Escondo-me na filosofia.
E um hino, vou inventando,
Para comemorar, cantando,
Pequenos pedaços de felicidade
Que se escapam da verdade.
E, entre paredes, escondida,
Como que protegida por betão,
Receosa de ser agredida,
Sobrevivo, em reclusão.
Com alguma cor ajuntada
E objectos de funcionamento,
Para a vida ter fundamento,
Tento a tristeza extenuar.
Mas quando libertada,
Esteja perto ou afastada,
Não desejo regressar.

POR JOAQUINA VIEIRA
20/08/2011

DESPIDOS, DE TUDO ...


É a peste que passa, a cavalo,
Em vales e prados verdejantes.
Combinaram-se os elementos,
Acercaram-se as trovoadas,
Chuvas, vendavais, fortes ventos.
Os humanos pediram clemência,
Quando tormentas afloraram,
Dentro das suas passagens
Onde se passeiam miragens.
Entre árvores e flores silvestres,
Onde nasce a natureza agreste.
Por ali já passou a peste,
Negra, vestida de cavaleiro.
Os alforges sem dinheiro,
Sob a manto, a espada,
Dizimando um povo inteiro.
No rescaldo, e na dianteira
Montada em seu corcel,
Passeou-se, desdenhosa,
E num esgar rendilhado,
Escorreu o mundo inteiro,
Como se não fosse nada.
Para trás ficou a escuridão,
Dos que não tiveram perdão.
Mas escaparam os algozes
Que, em sua lide frenética,
Percorreram todo o chão,
Para encontrarem o tostão.
Seguiram, de longe, a peste,
Decadentes e sem pressa.
Encontraram tesouros, em frestas,
Ignorando quem os teria largado.
Mas ressurgiu o cavaleiro
E voltou, a peste, a semear,
Dando-lhes a lição derradeira,
Derrubando-os para a trincheira,
Onde já jaziam guerreiros.
Tudo, para todos, findara.
Morreram, não levaram nada!
Despidos de tudo nasceram,
Carregados de nada se foram.

Por Joaquina Vieira

03/08/2011

O TANGO


Vem comigo, João,
Vamos dançar o tango.
Ainda que não saibas dançar,
Deixa-te, por mim, levar.
Mexe os pés, depois as ancas,
Abana o corpo e a cabeça,
Como na dança do ventre.
Teus olhos fixos nos meus
Esquece o resto,no balanço,
Bastando que entres na dança.
Confia em mim, como sempre,
Que sei poder-te levar
Pelo salão da vida, rodopiando,
Ao meu corpo, ancorado,
De mente vazia, apenas.
Basta só confiares no tango,
Sentindo seus movimentos
Que falam de sentimentos.
Desejo que, só nós dois,
Nesta dança, os sintamos.
Nossas pernas entrelaçadas,
Como se estivéssemos
A construir nosso ninho.
Entrega-te, e ao teu corpo esguio,
Ao prazer do movimento,
E transforma-te noutro elemento.
Como o Universo te preza,
Na vida como na dança,
Tudo será claridade e esperança,
Bastando que te deixes guiar.
Em paz acabará nosso tango,
Há tanto tempo aguardado.
Nunca tenhas medo, João,
Que sempre te darei a mão.

Por Joaquina Vieira
20/08/2011

SOU QUEM....



É assim, não tenho culpa…
Se meu felino corpo,
Junto ao teu, se arrepie.
É assim, não tenho culpa…
Se, junto a ti, me venha o cio.
É que sou fêmea, de noite,
E só mulher, de dia.
É assim, não tenho culpa…
Por tudo o que sinto por ti.
É que alguém me fez mulher.
Hormonas correm, à desfilada,
No teu leito, de madrugada.
Sou mulher, para teu deleite.
Para quê, me questionar,
Terei mesmo de saber,
O porquê de te amar?
Antes de mais, sou amante
E quando, ao de leve, te toco,
Te desperto e te alteias.
E minha língua, húmida, molhada,
Ansiosa, teu esguio corpo percorre.
Sinto o estremecer do teu desejo.
Acendo-te e te quero em mim.
Sou a fêmea que te levanta,
Dessa tua aparente letargia.
E meu corpo te sacode
E te abana, como o vento,
E te aquece, como a chama,
Quando te derrubo,
Na minha cama, quente.
Sou vulcão, desbordado,
Quando presa a ti.
Entre ais, suspiros e abraços,
Eu sou, também, ventania.
Mas também sou mulher
E te recebo, se estás triste,
E te abraço, se desistes.
E, maviosa, te beijo
E, meu afecto, te dou.
Se algo está menos bem,
Não permito que desanimes.
Eu te ergo, num abraço,
E te elevo, com ternura,
Quando tua mente te derruba.
Sou quem Deus pôs no teu caminho!
Sou mulher, sou mãe, sou amiga,
E sou mais do que a mulher que sou.
Sou a companheira do teu trilho.

Por Joaquina Vieira

17/07/2011

EM TUA FONTE, BEBI.


Em ti me escondi,
Dentro de ti me refúgio.
Na tua sombra esqueci
Memorias, por mim, perdidas.
Foi na tua sombra
Que mergulhei minha vida
E onde, do calor, me protegi.
Foi em tua fonte que bebi.
Esperavam-me, teus braços abertos,
Eles já esperavam por mim.
Eu, mulher sorrateira,
Em tua claridade entrei,
Em minha mesa te saciei,
Em minha cama te deitei
E, teu corpo, cheirei.
Então, irrompeu a doçura
Do ser pleno de ternura que,
Bondoso, me sorria.
Bebemos da mesma fonte
Enquanto eu abria asas,
Dentro da sua sombra.
E  recebeu, no seu abrigo,
Outro ser, que viria a ser,
A sua estrela guia.
E, para trás, me deixou
Porque tomou ela o meu lugar.
Na sua sombra, frondosa,
Também ela se protegeu.
E o ser minúsculo que cresceu
É, hoje, a sua estrela, formosa.
Em momentos de agonia,
Então nela pensa e ela o guia.
Até aqui nos protegeu e,
Agora e para sempre, ansiamos
Sua presença em nossa vida.
A sua sombra, majestosa,
Foi ela que me deu o mote
E também a inspiração,
Para lhe lembrar que nós,
Eu e minha filha,
Somos a sua aspiração.
Criou o seu caminho,
Desenhou a sua casa,
Para que nós coubéssemos.
Partilhamos a sua vida.
Que nunca lhe falte a sombra,
A que sempre nos protegeu.
Nós, as duas, te guiaremos,
De mãos dadas,
 À sombra da vida,
Até à eternidade do amor.


POR JOAQUINA VIEIRA