A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday 3 August 2015

EU - MARIA JOAQUINA VIEIRA




Eu, Maria Joaquina Vieira,
Discípula da alma,
Refugiada na Lua,
Serena e nua,
Intacta no mundo.
A vocês, terrestres,
Ofensores e ofendidos,
Comprados e vendidos,
Porque, na vida, perdidos
E, da morte, esquecidos,
A vós me confesso.
Sim, a vocês, humanos,
Alienados na multidão,
Sementeira da podridão,
Disfarçada escravidão.
De onde venho,
Quem sou eu?
Símbolo de segredos,
Arca de tesouros.
A cada inspiração
Sinto o meu condão.
Sou a espora que atina
E sou, também, a libertina.
Sou a alma, calma,
Sou o fogo que afaga.
Sou a vertente dos rios,
Sou o aqui que não domino.
Tudo aparece, de repente,
Como que o meu querer seja,
Apenas dor ardente.
Quem aqui me apresentou,
Quem aqui me depositou
Neste corpo alugado?
Tudo o que sei
É que sou corpo e alma que,
Em vibração, me acalma.
Quem me quer questionar?
Será esta a minha verdade?
Sei o que quero,
Sei o que sinto.
Na minha revolta, não minto.
Tenho a noção do tempo.
Dele e da sua urgência,
Que não tem clemência.
Que me marca,
Que me dobra,
Que faz de mim sobra.
Algo a que não pertenço
Mas a quem sempre venço.
Assim me apresento.

Sou a escritora malfadada
Na dor e no pecado.
Corre nas minhas mãos,
O fluir do momento,
O fio do sofrimento.
Sou vibração,
Pura emoção.
De tanto escrever
E a alma revelar,
Virá um dia, talvez,
Alguém se questionar.

Autora: Joaquina Vieira


02/08/2015






















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EU

A vida deu-me tudo. Deu-me pai, deu-me mãe e deu-me trabalho, também. Era eu pequenina e o meu coração de menina já amava o pouco que tinha. Meus pequenos olhos tudo absorviam.
Desde cedo me apercebi que aquela não era a vida que eu ambicionava.
Aprendi a ler e a ver. Então, medi distâncias entre cidades e caminhos. Sentia que havia algo mais para lá do que via. Fabriquei sonhos maiores do que eu. Vagueei neles, por mundos que não conhecia mas que sabia existirem. Passei horas a imaginar em como fugir daquele lugar. Ainda era menina e já sabia que não queria aquele destino.
Meu corpo se moldava ao povo que me ensinava. Até minha mente se desenvolver e sentir sede de outro saber. Sempre irrequieta e curiosa, vivia ansiosa porque o corpo não se desenvolvia. Ainda não concebia que seria com esse corpo que teria que construir o meu caminho e as minhas pontes. Fui domada e cercada por outras mentes enquanto a minha, noutro mundo, se refugiava.
Tive fome de tudo. Desde os rebuçados à cultura. Foram os livros os meus aliados e também os meus amigos. Foram eles que me mostraram outras filosofias. Eu, menina descalça, desdentada, esfarrapada e suja, já tinha o meu corpo vergado, ainda ele não estava formado. Satisfazia a minha ansiedade com rebuçados embrulhado em papéis de várias cores.
Até que chegou o meu dia, aquele que desejava. O dia em que, de tudo, me libertaria.
Mas a vida era muito mais rigorosa e crítica. Embarquei em sonhos medonhos onde a sede e o calor me deram lições.
Seria eu, apenas, uma jovem mulher num corpo franzino?
Ou haveria algo mais forte que me dominava e vencia?
Sei agora que, desde sempre, morava comigo uma alma muito antiga. Ela me castigava com a dura verdade, no propósito da vida.
Dormi ao luar, debaixo de um manto de estrelas que não me cobriam, tal a sua grandeza. Aos poucos amadureci, vendo esqueletos que vinham da guerra, amansados como feras.
A vida não passava de uma mansarda escondida no tempo, dentro dos meus elementos. Depois de muito ler e escrever, também eu desenvolvi a minha filosofia.
Apenas me via como um corpo do qual me utilizava e servia. Até que o deus que me guiava me apontou a alma que, também, no meu corpo vivia.
Observava a Via Láctea, os cometas e as estrelas como mundos de onde a alma provinha. E cada vez mais ausente me sentia.
 Contestei tudo. Até aqueles que me deram a vida. Mas ainda continuava a ser a menina que comia rebuçados.
Ausentei-me desta realidade, deste mundo criado e do qual nada sabia. Os sonhos me alimentaram e da terra me afastaram, até descobrir que o que eu imaginava era possível e verdadeiro.
Comecei então a aceitar que tinha vindo de outro lugar. Mas como entender esta sede de saber, neste planeta habitado?
Sentia-me encurralada e entrincheirei-me, no trabalho e noutras guerras que me atormentavam.

Hoje chamo a vida, como chama ardida.
Aceito este planeta azul como minha morada.
Aceito que estou numa barca e de passagem.
Tenho, por isso, muita coragem, para fazer a travessia que, sem me lembrar, decidi abraçar.
Depois de ver seres viventes, rastejando como serpentes, abandonados pelas estradas, vítimas da maldade alheia, achei que tinha chegado a hora de deixar as minhas memórias.
 Meu coração acordou para o caminho da vida e mostrou-me quem sou. Sou alma sabida, mas desprevenida, que tudo quer vivenciar. Talvez porque não queira voltar. Por isso tenho esta vertente que veio comigo, a vontade de ler escrever e avaliar a minha vida.
Os espelhos distorcem o meu olhar e o meu corpo, já não ereto, mas ainda discreto. Como água a chegar ao lago. De tanto andar à roda, faço de nora.
Sou a pura nascente,
A morte sedenta,
A vida que me atormenta,
O castigo que me fustiga,
Lembrando quem mora comigo.
Um dia, se me descobrirem, saberão que passei por aqui, não apenas a existir, mas a tudo a assistir. De tão curvada, já não importa o que ainda possa vir.
Mas, minha vinda, não foi em vão. Abraçou o condão da vida para, através da escrita, outros servir.
Quando o corpo não acalma, escrevo com a alma. Esta que aqui se apresenta como uma indigente, esperando à porta da sua alma, sou eu.

Autora: Joaquina Vieira

31/7/2015


Sim. Assim sou eu e assim é a Terra onde nasci. Mas procuro deixar algo para o tempo que virá. Tarefa difícil. Reina neste pobre País, a mais incrível depravação. Interessa apenas viver o momento e, dentro dele, usar todos os meios para a satisfação dos sentidos (humilhação do próximo, morticínio nas estradas, vaidade, arrogância, ostentação, sexo, etc) e desfrutar de vícios (álcool, drogas, indigência, subsidiodependência, etc).
Instalaram-se no aparelho de Estado os piores dos piores exemplares da espécie humana. Com diplomas comprados e lugares arranjados, é considerada como normal toda a corrupção e iniquidade que destruirá as gerações vindouras. Aos jovens da geração atual, aqueles que ainda não foram apanhados pela droga e pelo álcool, só lhes resta emigrarem. Dizem os instalados que foram feitas reformas e que o País está melhor. Pura mentira. Apenas foram roubados os reformados e pensionistas.
Voltarão a ser roubados quando o preço do petróleo subir para o preço anterior (110 dólares o barril) e quando o Euro voltar a valorizar-se. Sim! Só as quedas do petróleo e do Euro disfarçam a calamidade que está para ser paga pelos que irão nascer (dívida de 130% do P.I.B.). Entretanto, a vilanagem instalada e que é auxiliada por uma infame propaganda televisiva faz crer que vivemos num mar de rosas. E os patifes lá vão colocando os imbecis que são os seus viciados filhotes e enteados. Os seus vícios são pagos pelos impostos de quem trabalha. Estes, os que trabalham e que pagam impostos acabam, também, por verem os seus filhos arrastados por aqueles incapazes.
O mundo dos livros não foge à regra. Nas prateleiras dos centros comerciais e livrarias só são expostos os livros dos políticos mais afamados (ladrões e saqueadores condenados ou não - normalmente não - ou candidatos a tal atividade). Quem não se recorda do lançamento do livro de um fantástico e filósofo político. Na apresentação do mesmo compareceram antigos presidentes (Mário Sai Ares e Polvo da Silva) e antigos magistrados de grande prestígio planetário (Noronha do Falecimento e Pinto Matreiro). Soube-se, posteriormente, que o livro não fora escrito pelo famoso político e que ele próprio comprou 30.000 exemplares. Uma obra-prima da literatura portuguesa, a par de muitos outros livros publicados por vedetas televisivas. Basta que na capa do livro apareça o rosto de uma dessas vedetas. Claro que todos sabemos que não são eles que os escrevem. Não lhes sobra tempo para isso. Enfim, que se leiam “AS FARPAS”. Perante tal panorama ( não vale a pena voltar a referir o papel nefasto das editoras que queimam os talentos que possam surgir, roubando-lhes os trabalhos que lhes chegam por email ) e porque não tenho qualquer hipótese de competir com a podridão instalada, continuarei a escrever e a guardar os meus trabalhos.
O tempo me irá dar razão. E fará justiça à minha obra.
Ninguém espere que seja mais uma, igual a tantos outros. Nunca o serei.
Repito que não tenho qualquer interesse em publicar mais trabalhos inéditos porque serei, de imediato, roubada. Apesar disso, vou continuar a escrever e aparecerei com novas páginas, quando achar oportuno.

Não invejo a vida dos falsos famosos. Os cemitérios dos séculos passados, hoje parques de estacionamento, tal como os cemitérios de hoje, que terão o mesmo destino, estiveram ou estarão cheios de instalados. Deles não rezou nem rezará a História.









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