Minha alma inconstante,
Não me soltes, um
instante.
Sozinha, não sei
viver.
Vamos, ambas, divagar
Nos prados, pelas
estradas,
Nos desertos e nas
cidades.
Bailemos, companheira,
E celebremos esta vida.
As outras, eu não
recordo.
Vestiremos trajes de
festa
E, disfarçadas, na
floresta,
Ajudaremos caminheiros,
Oferecendo as nossas
mãos,
Aos que acharmos, fatigados,
De suas andanças, moídos.
Nada nos é dado como
certo!
Vamos fazer um concerto,
Dentro das nossas ameias.
E flutuaremos nos ares,
Até os tristes reconhecermos.
Não me deixes, a mim,
não!
Posso até ser bem
divertida
Se, comigo, conviveres.
Dormiremos num moinho
Onde antes se moía o
grão.
Vem comigo, alma minha,
Ensina-me a fazer o pão.
Iremos depois ocupar-nos,
Entre os montes e a
cidade,
Dos que foram
abandonados
E se fizeram
prisioneiros
Da precária subsistência,
Cativos do mundo
inteiro.
Porque lhes faltou a
coragem
E entraram na engrenagem
Que, suas almas,
escolheram.
Peregrinemos, dando
alento
Aos que dormem ao
relento,
E resgataremos, dando
perdão,
Aos que nos cantos mais
escuros,
Expiando passados obscuros,
Bebem e dormem nas
ruas
Que as têm como casas
suas.
Onde as estações
perduram,
Encharcando os seus
corpos,
Aquecendo seus
desamores.
Querendo esquecer-se de
si,
Ficaram ainda mais
pobres,
Porque suas almas perderam,
Há muito, os seus endereços,
Não tendo casa para habitarem.
Mas eu estou aqui, e
para ti.
Alma minha, ampara-me,
Pelo universo de
sentimentos,
Todos levados pelos
ventos.
Pela miséria que vejo,
perene,
Em que vivem
desafortunados,
Numa existência
paralela,
Enfeitada de
desencantos.
Não me deixes, alma
minha,
Porque ancorada em ti,
Me tocará a inspiração.
Autora: JOAQUINA VIEIRA