A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday, 28 February 2013

UNIVERSO DE SENTIMENTOS


Minha alma inconstante,
Não me soltes, um instante.
Sozinha, não sei viver.
Vamos, ambas, divagar
Nos prados, pelas estradas,
Nos desertos e nas cidades.
Bailemos, companheira,
E celebremos esta vida.
As outras, eu não recordo.
Vestiremos trajes de festa
E, disfarçadas, na floresta,
Ajudaremos caminheiros,
Oferecendo as nossas mãos,
Aos que acharmos, fatigados,
De suas andanças, moídos.
Nada nos é dado como certo!
Vamos fazer um concerto,
Dentro das nossas ameias.
E flutuaremos nos ares,
Até os tristes reconhecermos.
Não me deixes, a mim, não!
Posso até ser bem divertida
Se, comigo, conviveres.
Dormiremos num moinho
Onde antes se moía o grão.
Vem comigo, alma minha,
Ensina-me a fazer o pão.
Iremos depois ocupar-nos,
Entre os montes e a cidade,
Dos que foram abandonados
E se fizeram prisioneiros
Da precária subsistência,
Cativos do mundo inteiro.
Porque lhes faltou a coragem
E entraram na engrenagem
Que, suas almas, escolheram.
Peregrinemos, dando alento
Aos que dormem ao relento,
E resgataremos, dando perdão,
Aos que nos cantos mais escuros,
Expiando passados obscuros,
Bebem e dormem nas ruas
Que as têm como casas suas.
Onde as estações perduram,
Encharcando os seus corpos,
Aquecendo seus desamores.
Querendo esquecer-se de si,
Ficaram ainda mais pobres,
Porque suas almas perderam,
Há muito, os seus endereços,
Não tendo casa para habitarem.
Mas eu estou aqui, e para ti.
Alma minha, ampara-me,
Pelo universo de sentimentos,
Todos levados pelos ventos.
Pela miséria que vejo, perene,
Em que vivem desafortunados,
Numa existência paralela,
Enfeitada de desencantos.
Não me deixes, alma minha,
Porque ancorada em ti,
Me tocará a inspiração.


Autora: JOAQUINA VIEIRA