A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 1 January 2011

QUERO-TE!




Quero-te, até não saber estar,
Até meu peito se romper.
Dói-me o espírito de tanto sofrer.
Quero-te, até me esgotar, a chorar.
Quero-te, a ti, que não me sabes abraçar.
Quero-te, tanto, em sofrimento tal,
Que não sei criar-me mais mal.
Porque eu, assim te vejo,
Como tu, assim não me vês,
Quero-te tanto que posso afirmar
Que nunca te irei esquecer.
Porque, de tanto te querer,
Tal a acontecer significaria
Que eu própria me finaria.

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA

MOMENTO DE ALMA - FOLHA CAIDA



Achara-te, num dia frio,
Quando não havia Sol,
Quando não havia tento.
Soltei-te, num deserto,
Onde não havia gente,
Onde não havia alma.
Para que fosses livre.
Estavas, tu, ausente,
Minha folha caída,
À deriva, no vento.
Tombada, amachucada,
Tu, minha folha caída,
Vítima do tempo,
Qual cata-vento.
Veio a tempestade, agitada,
Agravar o teu sofrimento.
Despegaras-te do teu meio.
Deambulavas, sem Norte,
Sem casa nem beira.
Tua alma, sem abrigo,
Perdera-se no caminho.
Agora, porque és livre,
Se quiseres regressar,
Meu peito, teu ninho,
Vai poder abrigar-te.


AUTORA: JOAQUINA VIEIRA

MOMENTO DE ALMA - CANTA O VENTO






********************
No silêncio, canta o vento,
Nos mares, as aliadas marés.
Meu corpo, sem jeito, morreu
Entre montanhas crespadas.
No grito parado, ensurdeceu.
Dentro desta agonia que é meu ser,
Minha alma grita ao vento.
Dou-lhe asas para ser livre.
O corpo, no tempo, cedeu,
Por já não poder suportar
Escaramuças passadas, presentes.
Recuso-me a escutar......
Quero só o silêncio!
Ouvirei tudo e todos, mas em silêncio.
Careço de escutar as palavras caladas,
Aquelas que não atropelam.
Necessito apreciar o cantar dos passarinhos,
Sem constância de mim, nos seus ninhos.
Minha cabeça estala em cristais
De puro ouro e marfim.
Por onde anda a minha alma,
Perdida de si, perdida de mim?
Ouço a raiva imposta por outros,
Por a não conseguirem conter
No desabafo de tormento,
Em que tudo acontece ao momento.
Para que sirvo?
A quem servirá,
Esta dor que me atormenta,
Esta minha vida que pouco vale?
Aqui, neste presente,
Tenho sonhos que, de tão sombrios,
Nem me interessa onde morem,
Nem quais são os seus destinos.
Sei que, hoje, algo me atormenta.
Por isso escrevo!
Escrevo, porque ao escrever
Procuro a saída para esta frustração.
Ela corrói a alma,
O espírito, o corpo,
Sem que ninguém se aperceba…
Começo a dar-me por vencida
Nesta luta que me agonia,
Em que agonizo.
Faz meu sangue ferver,
Meu coração saltar.
E não vislumbro, para mim, salvação,
Nem lugar onde me agarrar.
Tenho um cravo espetado no peito,
Um espectro escondido no leito.
Já tão pouco me diz respeito,
Neste viver em que tento disfarçar,
Esta dor que sinto dominar,
Os versos que não ouso rabiscar,
As lágrimas que nem ensaio soltar.


AUTORA: JOAQUINA VIEIRA