E quando a chuva
aparece,
Há gente
que fica contente.
Chove na seara e na
prece,
Chove, do céu, na
semente.
E chove, também, no
tempo,
No tempo que se vai esvaindo,
Caminhando na
eternidade.
E choram rostos, em
lágrimas.
Chuvas, de prantos,
caindo,
Choros da alma,
acordada,
Alma à chuva, carpindo.
Mas tudo tem o seu
tempo,
Até o nosso crescimento.
Vem, no tempo, a
lavoura,
Trazer o amadurecimento,
Criando o ferro e o
cimento,
Gerando o betão da
aurora,
Da alva do
envelhecimento,
Madrugada do sofrimento.
Mas, hoje, se alguém é
triste,
É porque é tristonho o
seu viver.
Mas se é pena ter de
morrer,
Será penoso ter de
viver?
Mas nascer, crescer e
morrer,
É isso que é estar e
ser,
É isso que é permanecer,
Enquanto o tempo quiser.
Com aguaceiros
de lágrimas
E suores caindo na lama,
É assim que tem que ser,
Porque isso é estar
e viver.
Porque a vida não passa,
Tão só de um belo
momento,
De um momento que passa,
Sitiado pelo tempo,
E pelo
tempo, marcado.
É do tempo que nasce
Toda a dor e sofrimento.
Mas é na Terra que urge
A busca do suprimento:
O alimento para a mente,
Nas vastidões do
conhecimento;
O nutrimento para o
corpo,
Nos campos do
descontentamento.
Mas não digam mal do
tempo
Que ele me ajuda a
padecer,
Nas labutas do momento.
Que venha a chuva molhar
E o vento atrapalhar,
Que eu serei, sempre, a
aliada,
De quem criou este
evento,
Que é cada um dos
momentos
Que, unidos, são o meu
momento.
Enquanto o tempo o permitir,
Com chuvas de suores e
lágrimas,
Com ventos que são
tormentos
E que também são
momentos.
E se a chuva faz crescer
O que, da terra, vai
nascer,
Que importa que a chuva
caia,
Naqueles que vão morrer.
E a chuva dá-me prazer.
Vem a realidade beijar,
E a minha felicidade
banhar.
Dentro da chuva,
encharcada,
Eu me recrio,
disfarçada,
Brincando no meu agrado,
Manejando o meu arado,
Com que semeio o
momento.
E seja bom ou mau, o
tempo,
Faça Sol na fria
invernia
E chova no seco Verão,
Eu semearei o meu pão,
Nos campos do meu
momento,
Que são de
contentamento.
Que venham também os
ventos,
Ventos daqueles que
arrasam,
Ventos daqueles que
varrem
Gemidos, uivos,
lamentos,
Que, também, há nos
momentos.
Porque há ventos de
estremecer
E ventos de estarrecer
Que, até o céu, fazem
tremer.
Mas que fazem enaltecer
Os corações solitários,
Inquilinos do seu
sofrer.
Regou a chuva, o Sol
aqueceu,
Tudo, com eles,
prosperou.
A seca, na terra,
abrandou,
E, na lavoura, ajudou.
Ela vem com os
elementos,
Uma organização
envolvente,
Que me cinge no seu
manto,
Que me sacode e acorda,
Que se move e me
recorda,
Que este é o meu
momento,
Que este é o meu tempo.
Por isso nunca estarei
triste,
Porque faço parte do
tempo.
E se a chuva se ausenta,
Meu peito se desorienta.
Não vejo dor nos elementos.
Eles se manifestam,
indiferentes,
Às dores dos
impacientes.
E sei, há muito, que o tempo,
Não altera meu
pensamento,
Nem o meu procedimento.
Feliz, triste ou
contente,
Contento-me com o meu
tempo,
Sou feliz no meu
momento.
Minha seara, meu pão,
Em campos de
contentamento,
Semeados com o coração,
À chuva, ao vento, ao
relento,
Nos campos do meu
momento,
No tempo do meu viver,
Enquanto o tempo quiser.
Autora: Joaquina Vieira
15-10-2012