A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday 15 October 2012

CAMINHANDO A ETERNIDADE



E quando a chuva aparece,
Há gente que fica contente.
Chove na seara e na prece,
Chove, do céu, na semente.
E chove, também, no tempo,
No tempo que se vai esvaindo,
Caminhando na eternidade.
E choram rostos, em lágrimas.
Chuvas, de prantos, caindo,
Choros da alma, acordada,
Alma à chuva, carpindo.
Mas tudo tem o seu tempo,
Até o nosso crescimento.
Vem, no tempo, a lavoura,
Trazer o amadurecimento,
Criando o ferro e o cimento,
Gerando o betão da aurora,
Da alva do envelhecimento,
Madrugada do sofrimento.
Mas, hoje, se alguém é triste,
É porque é tristonho o seu viver.
Mas se é pena ter de morrer,
Será penoso ter de viver?
Mas nascer, crescer e morrer,
É isso que é estar e ser,
É isso que é permanecer,
Enquanto o tempo quiser.
Com aguaceiros de lágrimas
E suores caindo na lama,
É assim que tem que ser,
Porque isso é estar e viver.
Porque  a vida não passa,
Tão só de um belo momento,
De um momento que passa,
Sitiado pelo tempo,
E pelo tempo, marcado.
É do tempo que nasce
Toda a dor e sofrimento.
Mas é na Terra que urge
A busca do suprimento:
O alimento para a mente,
Nas vastidões do conhecimento;
O nutrimento para o corpo,
Nos campos do descontentamento.
Mas não digam mal do tempo
Que ele me ajuda a padecer,
Nas labutas do momento.
Que venha a chuva molhar
E o vento atrapalhar,
Que eu serei, sempre, a aliada,
De quem criou este evento,
Que é cada um dos momentos
Que, unidos, são o meu momento.
Enquanto o tempo o permitir,
Com chuvas de suores e lágrimas,
Com ventos que são tormentos
E que também são momentos.
E se a chuva faz crescer
O que, da terra, vai nascer,
Que importa que a chuva caia,
Naqueles que vão morrer.
E a chuva dá-me prazer.
Vem a realidade beijar,
E a minha felicidade banhar.
Dentro da chuva, encharcada,
Eu me recrio, disfarçada,
Brincando no meu agrado,
Manejando o meu arado,
Com que semeio o momento.
E seja bom ou mau, o tempo,
Faça Sol na fria invernia
E chova no seco Verão,
Eu semearei o meu pão,
Nos campos do meu momento,
Que são de contentamento.
Que venham também os ventos,
Ventos daqueles que arrasam,
Ventos daqueles que varrem
Gemidos, uivos, lamentos,
Que, também, há nos momentos.
Porque há ventos de estremecer
E ventos de estarrecer
Que, até o céu, fazem tremer.
Mas que fazem enaltecer
Os corações solitários,
Inquilinos do seu sofrer.
Regou a chuva, o Sol aqueceu,
Tudo, com eles, prosperou.
A seca, na terra, abrandou,
E, na lavoura, ajudou.
Ela vem com os elementos,
Uma organização envolvente,
Que me cinge no seu manto,
Que me sacode e acorda,
Que se move e me recorda,
Que este é o meu momento,
Que este é o meu tempo.
Por isso nunca estarei triste,
Porque faço parte do tempo.
E se a chuva se ausenta,
Meu peito se desorienta.
Não vejo dor nos elementos.
Eles se manifestam, indiferentes,
Às dores dos impacientes.
E sei, há muito,  que o tempo,
Não altera meu pensamento,
Nem o meu procedimento.
Feliz, triste ou contente,
Contento-me com o meu tempo,
Sou feliz no meu momento.
Minha seara, meu pão,
Em campos de contentamento,
Semeados com o coração,
À chuva, ao vento, ao relento,
Nos campos do meu momento,
No tempo do meu viver,
Enquanto o tempo quiser.

Autora: Joaquina Vieira

15-10-2012