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Oh campos que ainda
cercais
Os muros da minha aldeia
Será que ainda recordais
Aquela menina buliçosa,
Perfeita como uma rosa,
Que rogava aos vendavais
Para que rasgassem a vil
teia,
Tecida pelos iguais,
demais,
Que lhe sitiavam o
pensamento,
Que se via livre, como o
vento?
Se nem sei quem me
modelou,
Onde achar modelo que me assista?
Sou apenas a forma que em
mim se instalou!
Só o Sol pode dizer o que
veio fazer.
Porque brilha ele? Apenas
por ser uma estrela?
Eu sou. Eu sou. Talvez um
raio que alguém derrubou.
Se pudesse voltar atrás,
brincaria na aldeia onde ficou meu lugar.
Ser-se criança é uma
bênção.
É ter-se a esperança no
sorriso,
É ter-se a espectativa no
olhar.
Construí muros e atirei
pedras na ribeira onde fiz minhas brincadeiras.
Andei de burro, em pelo,
sem nada oferecer.
Comi fruta de quintais
alheios.
O seu sabor a medo deu-me
a noção de que estava a crescer.
Queria conhecer outros
muros, outras aldeias.
Chorei, sempre revoltada, pelas
dores da rotineira pancada.
A juventude tem a sua
graça. Corri nela, muito, por poucas estradas.
Os caminhos de terra que
palmilhei, descalça, deram-me a força da corça.
Os ranchos de raparigas,
na monda, a cantarem ao desafio….
Ainda recordo as merendas
e a pressa para abrir as prendas.
As saias pelo joelho eram
para adultos se verem ao espelho!
Minha alma tudo me
ensinou. Um dia, deixou-me.
Ainda sinto o sabor a uva
molhada, quando roubada.
Construí castelos de
pedras! Adulteraram-se, de escuras que elas eram.
As mães preocupadas com as
suas ninhadas de seres por crescerem.
Eram sua tormenta, seu
prazer, seu presente.
Ecoava a oração, cantada
em coro, ao serão.
Os mais velhos cuspiam no
chão e faziam, de tudo, um chavão.
Eram tempos eternos, de
pura fantasia.
Até a própria ribeira
sorria.
Era farta a brincadeira,
junto à lareira.
O Céu era o que a doutrina
ensinava!
Mas eu já sabia que tudo
isso não era verdade.
Crenças e crendices sempre
foram, para mim, uma engano.
Mas invocava-se o nome de
santos para, entre blasfémias, se curarem enfermos.
Se tudo o que existe, no
planeta persiste,
Quem criou a fala e o
comando das coisas?
Na mocidade tudo são verdades,
até chegarem as comadres.
Nessa altura eu já não
contava com nada!
Minha boca calada,
consentida, já se isolava.
As vezes que levei ao colo,
parte da casa onde morava.
As saudades que tenho dos
ribeiros e dos outeiros onde esquecia os dias.
Hoje tudo me parece irreal.
Estão vagos os lugares das minhas batalhas.
Eterna será a criança, no
rebanho em que Deus mandava.
Afinal de que me vale
pensar, se sou apenas humana?
Já me perdi da criança que
saltava e gritava, cheia de esperança.
Minha parte divina ainda
chora e grita, aflita.
Não tenho, hoje, certezas.
Que sou, para merecer ter certezas?
Esta é minha versão da
visão que tenho das coisas.
Esta é uma forma de ser
poetisa.
Algo sei, ainda que haja
quem o não admita.
Eu sei que sou dona da
minha escrita.
Meu olhar para o verso ou para
a rima é de cristalina emoção.
Sou o som mais ínfimo, no
nascer de uma flor.
Sou o que sou, seja lá
isso o que for!
Tão pouco me interessa que
falem comigo, à pressa.
Esta noção, que aquece o
coração, só por mim é sentida.
Procuro, na solidão,
outras mãos que se juntem às minhas.
Preciso, ainda, que me
digam que eu sou qualquer coisa distinta.
Preciso saber, na minha
existência do nada, que uma mão me afaga.
Os caminhos são como setas
espetadas na madrugada,
Onde fica o saber do tudo
e do nada.
Qual o enigma que me
prende na minha saia de renda?
Nada há que valha a pena
contradizer!
Serei a eterna criança que
escreve e que dança
Neste mundo de ilusão onde
componho uma canção de embalar.
Aponto o meu dedo na direcção errada!
Escuto o vento. Ao meu
ouvido ele me fala, em segredo.
Tenho, como companhia,
tudo. Dou-me bem com alguém.
Viver a dois é tarefa
complicada, ainda que exista cumplicidade.
Pudera ser menina, para brincar
com pedrinhas.
Faria uma casa sem porta,
onde não entrasse a mentira.
Serei eu alguém que se
entretém com palavras insanas?
Sinto que cada palavra é
um universo paralelo onde me escondo!
Será por isso que me
ausento, mesmo estando presente?
Conto histórias e memórias
de coisas, de homens.
Tudo me parece fútil.
Mesmo falando com Reis.
O pensamento foge de mim e
me leva.
Faz de mim ave à deriva,
no vento.
Sou a flor a nascer,
Sou a folha a florescer!
Sou a rotação do Sol,
Sou o tesouro escondido!
Sou alma perdida,
Sou os muros caiados!
Sou as casas abandonadas,
Sou o adormecer de ideias!
Sou a que se resguarda, na
alma,
Sou a insónia da noite!
Sou a questão do sonho de
Verão!
Sou aquela que se apeia no
meio do caminho!
Sou a candeia que me
ilumina!
Autora: Joaquina Vieira
29/10/2016
DEDICADO AO FILÓSOFO ANGOLANO " DELFIM JANUÁRIO CATUMBELA "
NO DIA EM QUE COMPLETA 16 ANOS.
ESTE POEMA TEM O Nº 624 E CONSTA DE UMA NOVA OBRA ( TERÁ COMO TÍTULO: "E*** DO I*********O " ) QUE COMECEI A ESCREVER EM SETEMBRO DE 2015.
ESTE POEMA TEM O Nº 624 E CONSTA DE UMA NOVA OBRA ( TERÁ COMO TÍTULO: "E*** DO I*********O " ) QUE COMECEI A ESCREVER EM SETEMBRO DE 2015.
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