A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday, 19 March 2014

CARTA DE AMOR




É para ti! Ficarás surpreendido com esta carta. Na era do digital já ninguém escreve cartas.
Imagino-te a abrir o envelope. Vejo o teu espanto. É apenas uma carta. Como não recebes nenhuma há muito tempo, não sabes o que esta carta contem. Elas estão em desuso, mas eu vivo nos dois tempos.
Antes de mais quero dizer-te que confio mais na minha mão do que no teclado do computador. Tenho a sensação que estou a ser espiada por algo imaginário que está por detrás do ecrã.
O que vou aqui confessar é segredo nosso. Não quero intermediários entre nós.
Quero abraçar o muito que fizeste por mim.
Meu amor por ti, sempre foi ardente. Ele vive dentro do tempo. Foste por mim escolhido, quando eu corria perigo. Ninguém no mundo, por mim, iria mais fundo. Por isso te dedico todas as horas que viver. Podia pegar no telefone, ou noutro meio ao meu dispor, só para te chamar de amor. Mas eu sou ainda aquela que por ti iria à guerra. Que ergueria barreiras e que abriria o peito, desarmado, para dizer, bem alto: é este o homem, o meu amado. É aquele que tudo fez, que tudo me deu. Desde noites de ardor, até ao acalmar da dor.
Não esqueço, amor, que cumpriste a promessa de ficares a meu lado. De me embalares em doces palavras, no calor do teu peito, dentro do mesmo leito.
Eu te amo, como se ama a alma em chama.
Os sonhos retidos foram todos cumpridos. Todos revestidos de loucura, de fantasia, quando ainda não sabíamos o que queríamos.
Foram belos os momentos inconscientes, as viagens por outros continentes. À boleia, de comboio, sem medo, de peito aberto à aventura, em busca da descoberta.
Foi lá, numa praia da Normandia, onde houve batalhas, um dia. Em meu corpo libertado, nele te banhaste, ao som da maresia.
Hoje sinto o mesmo amor, no embalar da onda que ontem me derrubou. Meu amor é infinito. Dou corpo ao que sinto, na forma de aromas.
Porque te amo, ainda te chamo. Por respeito, ainda beijo o teu peito.
Porque ficaste ao meu lado és o meu anjo ancorado.
Assim será, até sermos chamados. Na cruz e no leito ficaram nossos defeitos.
Se tu soubesses como meu coração te chama nas horas sombrias, quando não estou contigo!
Isso, meu amor, é maior que todas as sombras, que todo o bater em vão. Ele preenche, de todo, o meu coração.

Meu amor, podes voar,
Dou-te asas para a imensidão.
Asas feitas por minha mão,
Para que sejas feliz, eternamente.
Para que nunca se apague o momento,
Nem te sintas numa prisão.
Porque nasceste livre, livre serás,
Sem promessas, sem credos.
Que possas voar, para lá do horizonte,
Onde nascem todas as fontes.
Que possas voltar, como naquela tarde, ao mar.
Ao tempo da fantasia.
Que te possa eu beijar,
Junto à maresia.
Vamos os dois voltar
Ao momento em que voámos.
Vamos apagar as feridas
E sentir o frio da noite
Envolvidos na luz do amanhecer,
Para que possamos renascer.
Ali ficou nosso vestígio
Enterrado no tempo.
Meus pés, teus pés são, hoje, clementes.
O sol, no horizonte, o nascer de todas as fontes.
Tu e eu sabemos da magia de crescer juntos,
Com rumos diferentes.
Mas interesses comuns levaram-nos,
Juntos, pelo mundo.
Hoje somos um amor maduro.
Seremos estrelas, no futuro.
Essa lembrança do porto seguro,
Ainda hoje a sinto no escuro.
Voa sobre todas as estradas,
Por onde outros pássaros voam
Sem destino, entre caminhos,
Pelo simples prazer de se sentirem livres. 
Vieste de longe. Talvez doutra dimensão.
Eu aqui esperava que alguém me desse a mão.
Nunca mais estive só e, antes de ti,
Até de mim sentia dó. 
Foste o raio de luz que preencheu a minha ternura.
És ainda o caminho que procuro.
Meu amor, meu amor, quanto de ti em mim mora. Porque és diferente.
Deixa quente o teu lado da cama,
Para o caso de, um dia, te fores embora.
Mas nosso amor será eterno!
Viverá em todas as eras!
Meu amor incessante.
Tua companheira,
Tua amiga de aventura.
E de ventura. 
E de ternura.


Autora: Joaquina Vieira

22/02/2014