Se com asas me armassem,
Para bem longe, voaria
E meu olhar se
estenderia,
Por entre o céu e o mar.
E, em voos de alegria,
Os pássaros imitaria.
E meu mundo de vitórias
Eu, lá longe,
alcançaria,
Bem para lá do horizonte,
Bem para lá do meu
olhar,
Onde tudo posso sonhar.
Tão longínquo fica o
desejo,
Que tanto tenho de
ensaiar.
Voar, voar, para além do
mar,
E nunca mais aqui
voltar.
Se, deste chão onde
habito,
Minha alma aprendesse,
Dele, a se desprender,
Voaria, soltaria seu
grito,
Um suspiro de espantar,
Um rugido de estarrecer.
Que tédio, aqui
apresada,
Nesta terra em que piso.
Pudesse, eu, ser ave e
voaria,
E noutro mundo entraria.
Então, encantada,
assistiria,
Bem dentro dos
labirintos,
Na curva do
desconhecido,
No desdobramento do
tempo,
Ao nascer de uma
estrela.
Ou à passagem de um
cometa
Que poderia interceptar
e,
Talvez, nele poisar.
E percorreria o Sistema
Solar
Dando a volta ao
Universo.
Para ver o que há para
sonhar
E que nunca foi sonhado.
Porque não posso imaginar,
Porque nunca foi gravado,
Nos genes que me
ordenam,
No código de que sou
feita,
E que, no instante de
ser gerada,
Me cederam, por
empréstimo.
Pudera eu desencarnar e,
Lá, para o alto, iria
escapar.
Para o indefinido
desertaria,
Deixando todos, aqui, a
pensar.
Queria ser leve, muito
leve,
Como o sopro duma brisa,
Como um pássaro a voar.
E atingir outras
dimensões,
Para me despir das
emoções,
E ser livre no pensar.
E da beleza do raiar
Retiraria a sua pureza.
Seria átomo, electrão,
E deixaria de ter forma,
Mas sem perder a razão!
Seria una com a
natureza,
Eu e ela em comunhão.
Tal maravilha eu pudesse
Realizar, dentro dum
voo.
Não seria eu,
certamente,
Seria um ato de amor.
Amor viajando com asas,
Quem dera as pudesse
ter,
Quem dera pudesse ser,
Ser um ser, a voar,
A voar no desconhecido,
Para lá do céu e do mar.
Bem para lá do
indefinido,
Bem para lá do meu
sonhar.
AUTORA : JOAQUINA VIEIRA