A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday, 28 November 2012

RIOS DA ALMA - NOS LABIRINTOS


Se com asas me armassem,
Para bem longe, voaria
E meu olhar se estenderia,
Por entre o céu e o mar.
E, em voos de alegria,
Os pássaros imitaria.
E meu mundo de vitórias
Eu, lá longe, alcançaria,
Bem para lá do horizonte,
Bem para lá do meu olhar,
Onde tudo posso sonhar.
Tão longínquo fica o desejo,
Que tanto tenho de ensaiar.
Voar, voar, para além do mar,
E nunca mais aqui voltar.
Se, deste chão onde habito,
Minha alma aprendesse,
Dele, a se desprender,
Voaria, soltaria seu grito,
Um suspiro de espantar,
Um rugido de estarrecer.
Que tédio, aqui apresada,
Nesta terra em que piso.
Pudesse, eu, ser ave e voaria,
E noutro mundo entraria.
Então, encantada, assistiria,
Bem dentro dos labirintos,
Na curva do desconhecido,
No desdobramento do tempo,
Ao nascer de uma estrela.
Ou à passagem de um cometa
Que poderia interceptar e,
Talvez, nele poisar.
E percorreria o Sistema Solar
Dando a volta ao Universo.
Para ver o que há para sonhar
E que nunca foi sonhado.
Porque não posso imaginar,
Porque nunca foi gravado,
Nos genes que me ordenam,
No código de que sou feita,
E que, no instante de ser gerada,
Me cederam, por empréstimo.
Pudera eu desencarnar e,
Lá, para o alto, iria escapar.
Para o indefinido desertaria,
Deixando todos, aqui, a pensar.
Queria ser leve, muito leve,
Como o sopro duma brisa,
Como um pássaro a voar.
E atingir outras dimensões,
Para me despir das emoções,
E ser livre no pensar.
E da beleza do raiar
Retiraria a sua pureza.
Seria átomo, electrão,
E deixaria de ter forma,
Mas sem perder a razão!
Seria una com a natureza,
Eu e ela em comunhão.
Tal maravilha eu pudesse
Realizar, dentro dum voo.
Não seria eu, certamente,
Seria um ato de amor.
Amor viajando com asas,
Quem dera as pudesse ter,
Quem dera pudesse ser,
Ser um ser, a voar,
A voar no desconhecido,
Para lá do céu e do mar.
Bem para lá do indefinido,
Bem para lá do meu sonhar.


AUTORA : JOAQUINA VIEIRA