A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 19 November 2011

NO MEU SILENCIO ( LUZ INFINITA )



Nas profundezas do silêncio,
Jugo imperial do isolamento,
Há uma denúncia de todos
Mas que não é de ninguém.
Nele existe a fraqueza
E dele se faz a coragem,
A chave do coração.
Silêncio que embala os sentidos
E arrebata a paz, ímpar éden.
Sem mascaras, sem dons,
Apenas meu eu para mudar.
Nele vivem músicas celestiais.
É dentro do meu silêncio
Que o vento toca, para nós.
Só a alma o sabe escutar.
O silêncio tem nossa voz,
Só ele nos pode saciar.
Escraviza os sons na melodia,
Cria diálogos, em nós habita.
Montanhas se erigem no silêncio!
Só nós as podemos escalar.
Elas nos acedem à certeza
De, com nossa mão, as tomarmos
Como mares, por estranhos sulcados,
Denunciando o nosso querer
Até às fronteiras da agressão.
O silêncio anuncia a noite,
A noite que não acorda.
Fracassos se fazem presentes,
Noites de amores, eternas ausentes.
Amores em noites que não vivemos,
Auroras, luas e madrugadas
Que, entender, não podemos.
Mãos peregrinas apontam moradas
Com sentimentos misturadas.
A lágrima de dor, da consciência,
Sonhos que assustam a nossa vivência.
Dentro do silêncio se escrevem canções
Ao inferno, que convoca corações.
Há gritos abafados no silêncio,
Gelo que choca o nosso ardor,
Que esbarra em nossa emoção,
Que nos faz lembrar, com fragor,
Que ele é a nossa missão.
Encontro pedaços de céu
Nas nuvens tecidas de pranto.
Planto flores, em cada canto,
Prenhas de som e maresia
Onde elas bebem e choram,
Dentro da nossa alegria.
Nas conchas de cada praia
Há couraças de ilusão.
Clamam beijos de mar
Que confundem, sem ocultar
A monotonia mágica do silêncio.
E, a noite, chama ao desconsolo
Dos silêncios da erma solidão.
E acodem os gritos surdos do mar.
Dentro do silêncio mora o amor.
É a magia a brotar
Da fonte que é a saudade.
Entre dores e lágrimas
Tudo se pode disfarçar.
Dentro de cada alma se fazem sentir
Mãos que se enlaçam em nosso olhar
E sons proibidos de escutar.
No silêncio existe outro silêncio:
O das palavras por pronunciar.
E é, dos silêncios, o superior,
Para os que o podem imaginar.
E é dentro do meu silêncio
Que só eu posso morar.
Nele, só eu posso existir,
Só eu o sei trespassar.
É onde vou guardar meus segredos,
Os que nunca irei revelar.
Mas nele existe um recanto
Onde posso repousar.
Acharei um quarto escuro
Para as memórias depositar.
Guardará uma luz infinita,
Abrigará o verbo amar.

POR: JOAQUINA

19/11/2011

 




AS SOMBRAS DO MEU OUTONO









Tão doces são as sombras
Nas quentes manhãs de Verão.
Mas as árvores, de folhas despidas,
Anunciam o fim da estação.
No Outono tudo acontece
E a vida se escurece
E se arrasta pelo chão.
Como as folhas que foram do Verão.
E se instala o sentimento,
Outonal, cinzento,
Na voz da minha razão.
Brisa o soprar da existência
Dentro de jardins tingidos.
É a alma, a gritar, aflita,
Por não conseguir aquietar-se,
Por não poder manifestar-se.
O Outono também trás
Alguns momentos de paz.
Nas açucenas coloridas,
Abelhas fazendo zumbidos
Trabalham, arduamente.
Trabalham para mim,
Trabalham para toda a gente.
Do seu duro labor
Nasce o mel que cura.
Neste tempo de depressão
Não há tema com inspiração.
Meu Outono está à porta
E, tudo nele, parecerá morto.
Falta-me o pouco que resta
Até a flor da giesta.
Mas voltará o verde Maio
E tudo estará em festa.

POR JOAQUINA

22/10/2011

ENTRE SONOS ME PASSEIO


Sonhos sombrios se atropelam
Quando o luar não espreita,
Nas noites mais longas e escuras,
Entre trevas pejadas de lobos
Uivando no nevoeiro postado
Nos cumes das serranias.
Quando espreita a alvorada,
No portal da madrugada,
Onde meu espírito vigia
E meu corpo se deita,
De meus sonhos se derramam
Pedaços de outras vindas,
Passos de passadas vidas.
Adormecidos, os demais,
Serve a noite, aos chacais.
Nas memórias desterradas
Em que sonhar é demais,
Não encontro descanso
Para todo este espanto.
E canto, então, para mim.
Dentro da minha demanda,
Passeio-me, entre sonos,
Entre vidas por começar.
Quero ir para o espaço
Procurar aquele abraço
Que, outrora, vinha com a aurora,
Quando, em paz, divagava.
Em tempos se ausentou.
É neste quebra-cabeças
Onde, por vezes, adormeço
Que acordam meus pensamentos,
Numa dor alucinante,
Que, de mim, fizeram estante.
E é meu corpo que reclama
Na fogueira onde arde a chama.
Vão sobrar cinzas, de mim,
Que ninguém vai querer, no fim.

POR: JOAQUINA VIEIRA


22/10/2011