TEMPO DE VIDA

É por ti que eu espero,

É por ti que eu caminho.

É em ti que encontro a força

Para prosseguir, de mansinho,

Na rota que me traçaram,

No momento em que surgi.

É a Força que vem de dentro,

Dos confins da criação,

Da criação não sabida,

Mas que por ti foi achada.

E a Força em ti semeada,

Foi tal que extravasou

E à minha se juntou.

E assim fomos andando,

E assim fomos crescendo.

E de searas que cultivámos,

Colhemos os frutos que esperámos.

Mas, nesta tarde, não chegas,

E faz-se tarde e eu te espero.

E sonhos passam por mim,

E cuidados e pesadelos,

Neste tempo que não tem fim.

Nesta tarde cheia de tempo,

De tempo que não acaba,

Como não acaba o tormento.

Como é longo o momento,

Este momento de espera,

Este momento com tempo.

E nesta tarde de desencontro,

Nosso encontro será marcado

Pelo peso da tua ausência.

Eu te espero e tu não chegas,

Nesta tarde que não passa,

Tarde perdida no tempo,

No tempo que não acaba.

O abraço que não se aperta,

Que com desencanto se afasta.

E o tempo que não passava,

Dissipou-se, esgotado,

Nos abraços que se perderam

E que não serão encontrados,

Porque o tempo tudo levou.

E nesta tarde não chegas

E nesta tarde te espero.

E o tempo que corre contra nós,

É o que nos foge entre os dedos.

Tempo que é a nossa tormenta.

E meu sonho que não chega,

Nesta tarde de desengano.

Sonho perdido no tempo

Que, como o tempo, passou.

Passeio meu coração combalido

Pela ausência dos poetas.

Poetas levados pelo tempo

Mas presentes na sua poesia.

Como presente é a minha vida,

Vida que é tua, também.

E o reencontro que não chega

Nesta tarde em que espero,

Em que espero que passe o tempo,

O tempo da tua ausência.

Que é tempo que não foge

E que se instala, dormente,

E que me adormece a vontade

E que me faz até esquecer,

A Força que nos criou.

E nesta tarde por ti espero,

E nesta tarde não chegas.

E foi nesta tarde de espera

Que senti o peso do tempo.

O peso do tempo da espera,

O peso da tua ausência.

Mas a força que ficou no tempo,

No tempo que foi nosso tempo,

Achou a Força que há no tempo

E te trouxe para mim.

E o tempo voltou a contar,

Porque conta cada momento.

E o meu tempo de espera,

É agora tempo de vida.

Vida feita da Força,

Da Força que há na vida. 

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA

03-03-2012

QUE VOZES ME CANTEM !

A peregrinos, em suas jornadas,

Acolherei como amigos, em abrigos,

Onde guardarei minhas filosofias.

Mas em canteiros que aprontarei,

Adentro de interessadas moradas

Que um dia serão habitadas,

Semearei poesia e prosas magoadas.

Estou fatigada de arremessar

Esmeraldas, perolas para o ar,

Sem sequer vislumbrar,

Mãos que as queiram amparar,

Vozes que as saibam cantar.

Ainda que minha mente espantada,

Pela fome que observa, do nada,

E pela barbárie circundada,

Incita-me para que disperse,

Mesmo que ninguém dê por isso,

Mensagens que a mim mesma intrigam,

Mas que um dia se poderão decifrar.

Até os Maias, povo que trajava de ouro,

Sem dar valor aos tesouros,

Que a seus pés brotavam,

Legou-nos a sua ciência,

A que no seu tempo provou.

Assim prosseguirei minha tarefa,

Em rotas que calhar encontrar.

E contarei minha história

E pedaços da minha memória

Que guarda, em algum recanto,

A simbologia de uma raça,

Da qual penso ser parte suspensa,

E a este planeta emprestada.

Mas um dia irei deixar-me levar

E nas profundezas do Universo,

Voltarei ao meu lugar.

Àquele que deste é o reverso.

E nunca mais escreverei.

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA