A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday 26 October 2011

O POEMA DA TERRA.


Homem que habitas o tempo,
Fora do teu oportuno tempo,
E te misturas com os elementos.
Da sociedade afastado
Não te deixas aquietar.
Vives no teu reino animal
E amas o Sol, a Lua, o mar.
Tu te libertas nas asas da borboleta.
Tu, que tudo vês, que tudo sentes,
E desarranjas a tua mente
Com destroços e desvarios
Da sociedade que te enferma.
A ti, que queres ser livre,
Como livre é a andorinha,
Não consintas que, por ti,
Alguém faça o teu ninho.
Tu que amas a natureza,
E respeitas o teu planeta,
Faz o que puderes, por ele,
Para que, depois de ti,
Ele viva e gere vidas.
Para que vinguem as sementes,
Que outros deitem à Terra,
Onde, hoje, te sentes temente.
Tu, que segues teus ideais, altivos,
E no espirito trazes a raiz
Que, da criação, conservaste,
Vai para o mar,
Vai para o mar!
Despe a tua roupa, incómoda,
E fica uno com a natureza.
Porque o novo homem será novo,
Será recto e estará desperto,
Neste mundo encoberto
Onde os espertos se safam
Acumulando riqueza
Em golpadas de avareza.
Ainda que lhes tirem o sono
Por elas se atropelam e atropelam
Nos corredores dos haveres.
Mas o novo homem é essência divina.
Ele sente-se, de tudo, libertado.
E cavalga, a praia deserta,
E entrega-se ao prazer do espirito,
Abrindo os braços a um Deus
Que, nem ele sabe se existe.
Ele é livre e sempre será livre
Porque é com os pés descalços,
Tocando a Terra, que se sente rico.
Ele despe a sua roupa, ao tempo,
E se deita na areia fria e molhada
Implorando ajuda e pedindo piedade
Para esta raça, surda de espirito e mente,
Mas que se julga divina, omnipotente.
É perante a estupidez reinante
E a impunidade castradora
Que ele se sente impotente.
Mas ele espera, também, que exista
Uma saída para sua inteligência.
O novo homem não acumula riquezas.
Faz a sua obra transparecer
E deixa a sua marca, sua semente.
Em desespero de causa,
Ele, de todos, se afasta.
E caminha, sem parar,
Sentindo-se compensado,
Aproveitando os calores do Sol,
Passeando sob a Lua, ao luar.
Nunca se cansa de procurar, na Terra,
A causa sua, a sua casa.
E só alguma felicidade deixa transparecer
Quando todos os outros adormecem.
Ele começa a DESPERTAR
E só percorre caminhos desertos,
Onde sua mente, acordada, encontra
A força do seu querer.
Ele é diferente.
Sabe que, se um dia, vai morrer
Ninguém o poderá amordaçar,
Nem com risos, nem com chalaças.
O novo homem veio, ao planeta,
Para ser ele a dar o exemplo
De como respeitar a natureza.
Veio para se afirmar, diferente,
Com toda a certeza, diferente.
Por viver em plenitude,
Estando presente,
É um solitário da mente,
Um eremita, na vida.
Rodeado por esta gente inerte,
Adormentada na embriagues,
Nada o pode contentar
E ninguém o irá deter.
Bate-te, homem novo,
Bate-te pela verdade,
Pela tua raiz, divina.

POR JOAQUINA VIEIRA
26/10/2011