A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday 30 August 2011

AS ESTAÇÕES


Meu colo de nuvens, em letargia,
Trazendo, em si, a melancolia,
Vai atravessando as estações.
E assim subo e assim desço
Dentro da minha estação.
Nela aluguei meu tempo,
Nela me deitei no chão.
A terra que me fertilizou,
Era terra húmida, fértil.
Dela nasci, seu rebento.
As estações foram passando
E, nelas, me fui cunhando.
Na primeira, a Primavera,
Me rebolei e retoquei.
Aprendi, como criança,
A semear e a recolher
Mas, também, a admirar.
Nela me recriei,
Colhendo e semeando.
E alimentei o jardim
Que ia nascendo, em mim.
Tudo era belo e atraente,
Mas algo faltava ali,
Que apelasse ao sentimento.
Dele colhi flores silvestres
E enchi minha cesta, de amoras.
Admirei a variedade sem saber
Que, dela, viria a sentir saudades.
E veio o VERÃO.
Vivi, plenamente, essa estação
Que me levou para bem longe.
Para onde tudo era diferente,
E criei asas de papel
E pensamentos fieis.
Mas, também, iniciações
Que meu corpo dilaceraram.
E receptiva a experiências,
Foi no Verão que saciei,
A sede de abrigar o coração,
Tudo era quente,
Como quente era a estação.
Veio, então, o fogo,
Tentar queimar minhas mãos,
Minhas experiências em gestação.
Tudo fiz, tudo usurpei,
E a tudo me entreguei.
Eu era um pássaro alado,
Que chegava do oriente.
Era mística, descontente,
Apenas uma alma errante,  
Divagando por entre o vento.
E era o jardim verdejante
Que, também, havia em mim.
Minhas lágrimas afloraram
E, para meus rios, correram.
Rios que tive que atravessar.
E sopraram furacões
Que me abalaram as emoções
E demoliram as alegrias
Que, na Primavera, vivera.
Sonhei com a felicidade
E acordei com a saudade.
Em minha cama me deitei
E, envolta em lã, despertei.
E rumei, vida a cima, vida abaixo.
Tardava em encontrar o riacho,
Aquele que me daria,
A alegria, por um dia.
Por ele teria que remar
E não podia transbordar,
Nesse riacho sem margens.
Veio por fim, a bifurcação,
A separação de dois rios.
Eu ali sentia as margens.
Até que mereci encontrar
Minha razão de viver.
Já posso, pelo Outono, esperar
E nele mergulhar, tranquila.
Nele me entregarei ao sono
E repousar este corpo cansado,
Mas ainda acordado.
Assim, meu Outono espero,
Como quem espera uma pérola.
Até lá, minha obrigada estação.
Nunca serei dona do mundo,
Nem sequer dona de mim.
Mas encontrei meu lugar,
Na margem do meu rio,
À beira-mar do meu Mar.
Posso, agora, por fim,
Sorrir, sonhar, chorar…

Por Joaquina Vieira

30/08/2011

No comments:

Post a Comment

Note: only a member of this blog may post a comment.