A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday, 13 September 2011

A FEITICEIRA

























Sou aquela a quem chamam feiticeira,
A encantadora de palavras que,
Juntadas, formam prosas, de algum dia,
E poesias, tocantes, de amarga melancolia.
Tenho dons da flor da amendoeira e,
No regaço, refaço as cinzas da lareira.
A bordo de uma vassoura
Voo, por clareiras, entre espaços,
E raso as ondas dos mares,
Perseguindo cada traineira.
Mas, a minha elegida  faina
É a de alongar as trevas,
Pastoreando as noites,
Emagrecendo os dias.
Este é o mito da feiticeira que,
Nas bermas das ribanceira,
Uiva como o vento norte,
Escolhendo vidas, à sorte.
Mas, também curandeira,
Faço , desfaço e refaço, laços,
Entre as flores da amendoeira.
Caem, no meu regaço, milagres
Que nem eu sei resolver.
Visto-me de trapos, esvoaçantes,
E bebo a água pura das ribeiras.
Viajo de noite, noites inteiras.
Entro em templos desconhecidos
E vou observando fogueiras.
Quantas, tantas, lá vão morrendo.
Eu sou, apenas, a bruma da espuma
Que se desfaz neste mundo.
Sou, também, a venturosa feiticeira
Que, no Inverno, acende a lareira
Para aquecer os desabrigados que,
À minha volta se juntam.
E, pela noite adentro, festejamos
Com vinho tinto na mesa.
E escuto, dos comensais,
As suas alegrias e ais,
Até que a noite se esgote,
Até que o dia se faça.
Ele me desperta os sentidos,
Fazendo-me regressar à vida.
Para a continuar a encantar.

Por: Joaquina Vieira


13/09/2011

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