A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday, 8 October 2012

MOMENTO DE ALMA – ONDAS DE CRIAÇÃO


























Depois da ausência tornou,
Quem nunca se quis ausentar,
Quem, sempre, teima em voltar,
Quem nunca, de mim, voou.
E para voltar ao seu ninho,
Sempre encontra o caminho,
Sem nunca se ter perdido
Nas encruzilhadas do acaso,
No ocaso das caminhadas,
Por vezes, armadilhadas,
De destinos, sortes, ciladas.
Trazia o sabor a chocolate,
Numa mistura de saudade.
Algo, dentro dele, se reparte
Mas, ainda assim, ele parte,
Apenas para poder pensar,
Para compreender e meditar.
Parte para ter que voltar.
Porque voltar é recomeçar
E partir sem separação,
É balancear a missão,
É escutar o coração.
E entre o dever e as lembranças
De quando parecíamos crianças,
De quando o mundo era anil,
Germinam saudades mil.
E pesa o feito, e o por fazer,
E logo pensa em voltar.
Seu génio reclama, insaciado,
Num emaranhado de emoções
Que não é capaz de decifrar.
Vem com a alma preenchida,
De lugares cheios, vividos,
Por povos, vários, repartidos.
Quando se instala a insatisfação,
Os seus gestos denunciam
Um ser diferente, na indiferença.
Procura, com a mente, a concepção,
Trabalhando com afinco e paixão,
Derramando por vários labores,
Suores, talento, arte e criação.
Desespera porque sem tempo,
Que se escoa com a vida,
Que a vida é feita de tempo,
Que o tempo é cheio de vida,
Que a vida é pouca de tempo.
E procura deixar sementes,
Que outros já renegaram,
Ou porque nunca tentaram,
Ou porque, receosos, tementes,
Da incerteza de falharem.
Tolhidos, na acomodação,
É a forma de secarem,
As límpidas ondas da criação. 
Frenadas logo à nascença,
Desperdício, tristeza, traição.
E neste planeta que ama,
Ele só pretende gravar
O preço da sua existência.
Uma marca que resista,
Par além do tempo que avista,
Num tempo em que não exista.
E aos elementos se entrega,
Cultivando a rebelião.
Sua história é sensação.
Seu temperamento inquieto,
Transforma-se em ansiedade.
Traz energia no regresso,
E, na bagagem, traz progresso,
Em ideias por concretizar,
Em marcas que quer deixar.
E já que nada pode levar,
Ele tudo quer tocar,
Para que algo possa ficar.
Algo que fique, sem tempo,
Algo que fique na História.
Para que uma história de vida,
Resista ao tempo, na memória.
Memória de quem, com tempo,
Possa apreciar sua história.
E findo o tempo de partir
E sem tempo para voltar,
Quer a sua pegada deixar,
Para o tempo que há-de vir.

Autora: Joaquina Vieira
08/010/2012