E, da beira do abismo,
Me deixei resvalar,
Para o epicentro da
guerra.
Só pretendia observar,
O desconcerto na Terra.
Senti meus pés
abrasados,
Arrastados, enterrados,
Nas cinzas ainda
quentes,
Onde, esforçados,
rastejavam,
Cavalos já impotentes.
Torturados, esfomeados,
Sedentos, esgotados,
Em conflitos envolvidos,
Sem nunca terem sido
ouvidos.
Tal como os homens
fardados,
Nas pelejas enterrados,
Em bestas transformados,
Sem nunca terem sido
ouvidos.
Em guerra, alheias,
envolvidos,
Corpos ensanguentados,
Nas bermas abandonados.
Bermas da depravação,
Fronteiras da repulsão.
Os casebres das aldeias,
Arrombados, saqueados,
Por soldados esfaimados,
Desumanos, desalmados.
Sobraram povos
escravizados,
Devastados, humilhados,
Incrédulos, apavorados,
Vítimas da alucinação.
Nas suas mãos só restava
A bandeira do fadário.
Era um símbolo da
guerra,
Era só uma mortalha.
A do corpo do jovem soldado
Que, para trás, fora
deixado,
Retalhado, saqueado.
Guerras estaladas,
Em peitos chorados,
Com a dor instalada,
Por não saberem a razão.
Filhos seus, nunca verão
Porque para a morte
arrastados,
Por outros iguais,
soldados.
Todos vítimas de
dementes,
De vermes homens,
vendidos,
Homens de mentes
doentes.
E jamais alguma mãe,
Em sua completa razão,
Doaria o seu coração.
Jamais regaria a terra,
Com sangue do seu
sangue.
Guerras tristes, fatais,
Malfadadas, brutais,
Indignas de animais,
Cruéis, irracionais.
Guerras que tudo tiram,
Contendas que nada dão.
E das terras férteis que
eram,
Sobram lodaçais
estéreis,
Incapazes de darem pão.
Terra, em cinzas,
queimada,
Pintada de sangue,
calcinada,
Também ela fica para
trás.
Como o corpo do soldado,
Em farrapos, mutilado.
Como todos os despojos
Daqueles que nada
têm.
E o homem que ainda
sobrou,
Apoderou-se do nada,
Do nada que ainda
restou.
Seu rosto deitado no
chão.
Chão onde antes reinava
Paz, amor e oração.
Tornados, vidas
vencidas,
Entre os povos, antes,
serenos,
Nas suas vidas, antes,
amenas.
Até chegarem os trovões,
Os bandos daqueles
soldados,
Até aos dentes armados,
Mas de alma desarmados,
Que tudo arrasam e
arrastam.
Montados em seus
cavalos,
Esfomeados, arrastados,
Mortos vivos, como os
soldados.
Acabarão devorados.
Com eles vem o tambor,
Nas costas do menino,
Que também entrou no
terror.
Onde antes se erguiam
casas,
Sonhos de vida, labutas,
Perdidas no meio de
lutas,
Só destroços restaram.
Onde antes viviam
donzelas,
Esventraram os seus
jardins
E levaram as suas
flores.
Pétalas, flores. E elas.
E o mundo em ebulição,
Manchado por guerras, em
vão,
Não conseguirá ter
perdão.
Que o diga Napoleão,
Depois de se tornar
soldado,
General e imperador,
Plantando feridas e dor,
Nas guerras, rei e
senhor.
Pequeno ser absoluto,
Nas vidas em que tocou,
Apenas o luto espalhou.
Tão frágil é o homem,
Quando fora do seu
poder.
Que do tudo o que
conquistou,
Mais perdeu, desonra
ficou.
E já ninguém acredita
Na sua própria desdita.
Que o digam os mortos,
Deste mundo, esquecidos.
Jovens que cedo
partiram,
Flores da vida
arrancadas,
Nas bermas abandonadas.
Nem dispuseram do tempo,
Do tempo que seria seu,
Mas que outros ceifaram.
Nem aprenderam a
amar,
Nem a sua vida a
gastarem.
Com uma arma na mão,
Obrigados a marcharem,
Entre o frio e a
depravação.
Nem a oração os salvou.
Seu sofrimento, em vão.
Seu sangue regou o chão,
Onde, em tempos, nascera
pão.
Nada resta da revolução.
E nas terras que
arrasaram,
Outros vieram e
reergueram.
E, das cinzas, fizeram
casas.
E, nas bermas do
aviltamento,
Jazem, já, sob o
cimento,
As memórias do
sofrimento.
E, nos solos
ensanguentados,
Voltou a nascer o
pão.
E pastam cavalos,
serenos,
Até que volte a
revolução.
E povos que vão
erguendo,
E povos que vão
arrasando.
Sofrimentos, cíclicos,
em vão.
ATÉ OS CAVALOS CHORARAM, NO MEIO DA BESTIALIDADE HUMANA. |
AUTORA : JOAQUINA
29/09/2012