A VIDA DA RITA
Era tanto o que tinha
para dizer
Que, um livro, resolvi
escrever.
Gosto de histórias de
vida,
Com tempo, bem contadas.
Assim rasgo minhas
estradas.
Um dia parei e ouvi
alguém.
Só carecia de desabafar.
Vinha de uma solidão de
espantar.
Ansiava ser escutada.
Foi nesse dia que tudo
começou.
Um novelo se desenrolava.
Era uma senhora, no fim
do seu destino.
Derramou, sobre mim, todo
o seu brilho.
Carreguei, com ela, o seu
fardo
Que mais parecia um fado.
Foi assim que em sua vida
entrei.
De início escutava-a,
incrédula,
Como se tudo fosse uma
invenção.
Quando ela se me
apresentou
Como a Condessa Sem
Cheta,
Questionei aquela cabeça.
Estaria ela já fora do
mundo?
Sua mente estaria
confusa?
Mas não! Ela era uma
alma,
Um raio de Sol a
brilhar
Que até a mim iluminava.
Assim fui conduzida,
Por subidas e descidas,
Numa vida bem preenchida.
Com altos e baixos, lá
conseguiu
A atenção pretendida.
Com tal vigor e emoção
Que unimos nossos
destinos.
Eu, encantada, escutava
Aquela alma que não
chorava,
Mas que sua dor
derramava.
Fizemos então um acordo
Que era uma promessa
E que não tinha pressa.
Um dia, a seu pedido,
Escreveria a sua vida, o
seu viver.
Ela partiu. Ficou o
compromisso
De escrever o ensinamento
Que continha a sua vida.
Para que se pudesse
saber.
Dei forma ao seu pedido,
O seu último desejo.
Juntei todas as peças,
Qual puzzle já partido,
Em mil vidas vivido.
Vidas feitas de momentos,
Angústias e tormentos.
E que tormentos!
Faço minhas as suas
palavras
Que apresento com
saudade
No livro da sua vida.
Foi grande esta senhora.
Na vida teve firmeza.
Viveu tudo, até a
tristeza.
Para a recordar, sem
demora,
Eis o livro da CONDESSA.
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Carta à Rita
Rita, minha saudosa
amiga.
O teu livro, o livro
sobre a tua vida, acaba de sair. Ele te retrata muito bem. Todas as tuas
mensagens estão lá. Sabes como é a sociedade em que viveste! Ela, entretanto,
mudou para pior. No teu tempo, apesar de as coisas serem difíceis para as
mulheres, tu conseguiste construir algo. Não podes calcular como gostaria que
visses o livro sobre a tua vida. Sei que o irias aprovar. A menina da capa
parece-se contigo, na tua juventude, quando estudavas em Coimbra. Os tempos
mudaram desde a derradeira vez que nos encontrámos. E já lá vai um tempo.
Pressinto que, onde quer que te encontres, deves estar satisfeita por veres que
cumpri a promessa. O livro, apesar dos interesses económicos que minam tudo e
dos constrangimentos culturais de um povo manipulado e distraído com peripécias
de gente que conheceste bem, está em todo lado. A internet é um bom meio de
divulgação. Tal como tu, em vida, ele anda a viajar pelo mundo.
Tenho pensado muito em
ti, Rita! Recordo tanta coisa que me ensinaste! Com essa tua generosidade e boa
disposição permanentes. Irias rir muito com o que se está a passar. Estou a
lutar para que não voltes a morrer. Assim o farei, enquanto por aqui andar. Sei
que me acompanhas e te ris dos muitos imprevistos por que estou a passar. Se
pudesses, tu me dirias para não me estar a maçar com os espertalhões das
editoras que prometem muito e nada dão. Só pensam neles e no momento. No
entanto, o livro anda por aí, nas mãos de muita gente. Tua vida foi um exemplo
para mim. Será para tantos outros.
Tenho muitas saudades
tuas.
Tua amiga de coração
JOAQUINA VIEIRA HISTÓRIA DA CONDESSA (RITA)
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