Nesta conjuntura em que se espezinham todos os direitos individuais, sinto-me no direito de informar que me sinto traída nos meus ideais. Comecei a escrever quando o meu coração me apelou para que deixasse escrita toda a minha vivência.
Ela não é minha pertença. Pertence ao mundo, a quem a lê e a quem nela se revê.
Mas, como sempre, vingaram os comerciantes do dinheiro fácil que também
acharam ser simples roubar aquilo que não lhes pertencia. O dinheiro fala mais
alto e, para muitos, é assim. Isso levou-me a que tivesse mais cautela. Que fosse
mais esperta que eles. Aqueles que pensam que me podem roubar sem que eu nada
possa alegar, estão muito enganados! O Universo trará, para eles, o reverso.
Virá, um dia, um simples vírus que os desfará. Então, a obra roubada de nada
valerá. O seu nome, na praça, não terá valor.
Vivemos no tempo do dinheiro. Aquele que o tiver pode comprar o mundo
inteiro. Mas não pode roubar a inspiração. Nem a paz do coração. Podem ficar
ricos e viverem em palácios que eu continuarei a dormir sem soporíferos.
O que me move não é dinheiro! É a obra, por inteiro. Aquela que, um dia,
será de todos. Será lida em todos os povos. Não tenho lutas. Não tenho ambição.
Tenho, sim, uma missão.
Continuarei a escrever prosa. Sim! Mas fica para mim. Um dia, quiçá, ela
será lida por outras gerações. Onde falem, mais alto, os corações.
São publicados tantos livros que não dizem nada. São apenas a passagem dos
seus postigos. Ressalvo, no entanto, muitos que li.
Uma obra poderá ser imortal. O livro não passa de um conjunto de folhas. Os
livros vendem-se ao quilo. A obra demora a ser lançada. Ela não tem pressa de
ser apresentada.
Mas sinto-me descontente. Por não poder dar a alguns, no presente, a minha
oferenda criada. Dentro de mim achada.
A poesia não é para ser falada, mas para ser declamada. Quando é bem
escrita, por outros é lida, interpretada e sentida.
Vou continuar, mas devagar.
Minha lembrança, ancorada
Em meu peito, amordaçada,
Em meu corpo suportada.
Andarei despojada, amarga,
Nas trevas, vestida de nada.
Meu peito latejante, voltado,
Espera por ti, anjo adorado.
Autora: Joaquina Vieira
26/10/2012