A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday, 2 November 2011

ORAÇÃO AO TEMPO








Em ti me embrenhei,
Por ti, o que corri.
Eu sempre a correr para ti
Tu sempre a fugir de mim.
Vieste como um mapa
Que eu não consegui abrir.
Mas o tempo que me deste,
Ainda não atingiu o seu fim.
Confesso-me a ti, tempo,
Que a ti, tempo, não perdi.
Procurei, contigo, tantos lugares,
Tu, sempre à frente, 
Eu mais devagar.
Nunca me deste tréguas,
Mas não deixei de te acompanhar,
A ti, que nunca paras no mesmo lugar.
Andei pelo mundo, sozinha,
Na esperança de te encontrar.
Tu sempre, sempre, voaste
Para lá do meu sonhar.
E como sonhei, contigo,
O que haveria de fazer
Contigo, tempo, que a mim te davas.
Hoje confesso que me perdi,
Entre ti e aquele caminho
Que nunca pude encontrar.
Concedeste-te, tempo,
Para que me pudesse realizar.
E lá fui, trabalhando,
Tentando fazer de mim,
Uma alma sempre presente.
Mas eu sempre soube, tempo,
Que eras curto, para mim.
Que terias de te dividir,
Com toda a outra gente.
Confesso que me perdi
No meio da tanta urgência
Que era a de te agarrar, tempo.
E fui fazendo asneiras,
Mas também sementeiras.
E dormi, ao relento,
Sem que ninguém se importasse.
Mas lá estavas tu, tempo, como guia.
Passaram os dias, os meses, os anos,
E passou também a semente.
A ti, por não haver quem te minta,
Não passarei uma rasteira.
Cairia, eu, na ratoeira.
Que posso fazer contigo, tempo,
Se, em ti, não existe relógio
Que conte horas, que te comande,
Nem outro elemento que te lidere?
Assim te conheci. De ti sempre ouvi dizer:
"O tempo não se apanha, não se mede,
Não se agarra, ele está perto,
Mas está sempre ausente".
Mas tu, tempo, que, na minha mente,
Também foste arquitectado,
Concede-me um pouco mais de ti, tempo.
Agora que te começas a mostrar
Por entre as dores e o sofrimento,
Será que eu te consigo agarrar?
Só, quando, na minha cama deitada
E meu corpo ficar dormente.
Creio em ti e, também,
Em tudo o que me ofereceste.
Estou grata por seres,
Para mim, um presente, presente.


POR: JOAQUINA VIEIRA