A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Friday, 4 January 2013

REZAM AS ESTRELAS




E em todas as batalhas,
Naquelas em que entrei,
Ouvi gritos, vi palhaços
E vidas estilhaçadas,
Desfeitas em mil pedaços,
Em reinos feitos de nadas.
Das entranhas do poder
Vem o cheiro, fétido, da dor,
Reinando sobre receios.
Impiedosos carniceiros,
No mundo, na dianteira,
Como abutres, aventureiros.
É comprado o pudor,
Por um pataco roubado.
A cabeça adormece, vazia,
No puzzle de cada dia.
Erguem-se os corpos
Rasgados, maltratados,
Neste mundo torturados,
Sem perceberem o porquê,
Da singular carnificina.
Esta que homenageio,
Era só mais uma alma
Quetrazia a sua missão.
Mas eis que é brutalizada e,
Em pleno chão, violentada.
A bestialidade triunfou
E sua alma lhe roubou.
Era jovem, para viver,
A morte para aprender,
Em sua vida, seu sofrer.
Era uma jovem menina,
Atirada para o pó da rua,
Descoberta, toda nua,
Nem pode, sequer, provar
Da vida, que era sua.
Um crime e a debandada,
Leva um povo, uma nação,
Ao protesto, à exaustão.
Ela era uma mulher,
E mãe seria, um dia,
E dos seus filhos, guia.
Roubaram-lhe a inocência.
Mentes doentes, demência,
Neste mundo a reinarem.
Assim me cruzo, intrigada,
Pela crença enraizada
Em deuses condutores.
São tantas as estrelas
Que hoje por ela rezam.
Prepararão o seu leito
Nas alvuras do perfeito,
Nas alturas do secreto.
Mas a dor fez última morada
Em seu corpo maltratado.
Ficou destroçado, em solidão,
Quem a tinha no coração.
Só lhes resta rezar
E, por ela, reclamar.
Sua alma voltou a casa,
Com a missão por acabar.
Se tal não sobreviesse,
Sabe-se lá o que faria.
Talvez que ela pudesse,
 E, um dia, salvaria,
Uma das bestas, um doente,
Que a fez mártir, inocente.
A ti, simples alma cadente,
Neste mundo que enlouqueceu,
A ti dedico, com afeição,
Este momento de dor,
De raiva, luto e aflição.
Que encontres, lá no céu,
O universal e inacabável amor.

AUTORA: JOAQUINA


DEDICADA À JOVEM INDIANA, DE APENAS 23 ANOS, SELVÁTICAMENTE BRUTALIZADA E ASSASSINADA.