Fui gerada neste País,
Nele está a minha raiz.
Mas o sangue, fervente,
Ferve em rios de gente,
Outrora valente,
Hoje temente.
De pequeno só tem
A terra de ninguém.
Sinto-me ultrajada
Por gente desgovernada,
Sem princípios, malvada.
Roubaram ao meu País
A seiva da sua raiz.
Fizeram dele um petiz.
Sua a herança, ultrajada,
Que me deixa envergonhada.
Quem o comanda
Perdeu a matriz.
Sem valor tudo o que diz.
O dinheiro, esmiuçado,
Todo ele emprestado,
Só serve a uns poucos,
Que parecem estar loucos.
Aparentam ser Zômbis
E, de todos, fazem servis.
Têm moedas entaladas
Nas gargantas anafadas.
Nada se pensa, neste país,
De povo amordaçado
A que queimaram a raiz.
Em que se instalou um polvo
Que o soube manietar.
Ficou, de outros tempos,
Uma história para contar,
Ainda soprada pelos ventos.
Era uma vez um povo
De intrépidos marinheiros
Que hoje está a naufragar
Em ondas de trapaceiros,
Avarentos, estrangeiros.
Meu tomado País,
Repleto de imbecis.
À deriva, desgovernado,
Desflorado por todo lado,
Por suas gentes, abandonado,
Nas rotas da emigração.
Mas quem te saqueou,
Nunca, de ti, se afastou,
Que o banquete não findou.
Mas na moribunda Nação,
Sem raça, na escravidão,
Nunca acharão perdão
Os que hoje se pavoneiam
E seus crimes branqueiam.
Entre a desgraça alheia
Serão, um dia, finitos.
Na misera morte, aflitos,
Acharão, também, boleia.
Deixarão rastos marcados
E, em caminhos depositados,
Padecimentos, devassidão,
Frutos da sua sofreguidão.
Meu pobre País vendido,
Vergastado, ofendido,
Sem justiça, sem razão,
Por apenas um tostão.
Serás, de novo, um dia,
Livre da cobardia.
Herói em novas trincheiras
E dentro das tuas fronteiras
Se hastearão novas bandeiras.
E tudo irá renascer
Porque os predadores irão morrer
Afogados em dinheiro.
E com o renascido marinheiro,
Voltará a haver povo,
Um povo inteiro.
Autora: Joaquina Vieira
26/02/2014