A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday, 18 August 2015

A MINHA ESTRELA



Vou propagar-me nas escuridões.
Para que possa vislumbrar
O firmamento que vive, na noite,
E até mesmo a minha estrela,
A mais brilhante e mais bela,
A que foi criada só para mim,
Para ser, no Universo, o meu mundo.
Ao longo das margens dolorosas,
Das lágrimas que nasceram de mim,
Ficaram bloqueados, detidos,
Pedaços, perdidos, de vida,
As fontes de onde fluem todos os perigos.
Pedaços que expiram, lentamente,
Nas sombras inocentes,
Na casa onde nos tentamos esconder
Dos instintos das vítimas da fome.
Mas o pressentimento, brilho divino,
Timbrado nas nuvens que passam
E arremessado contra a montanha,
É uma fonte de inspiração para os Centauros.
Em cada dia que sucede à noite,
Em cada nascimento de vida,
Eu morro na boca de outras bocas
E desfaço o Verão nas minhas mãos!
Liberto os meus pensamentos
Nos trilhos dos ventos,
No fio de linho,
No amor pela vida.
Um véu, nublado, denso,
Domina os meus pensamentos
Na entrada para a porta, semiaberta,
No beijo que acordou
E que é feito de espaço, aberto.
Na fumaça de uma janela,
Com minhas mãos, esfomeadas,
Eu arranco o meu cabelo.
É quando a minha força interior,
Contrariada, faz a sua revolução
Para forçar o fluxo.
Entre as nuvens e o tempo
Eu sou um artifício, indireto.
Desagua num envelope selado,
Todo o amor que era esperado,
O tempo ardente,
O amor ainda não cantado.
Eu gostaria de visitar o mar
E ver as gaivotas pairarem.
O abrangente mar que,
Quando perturbado pelos ventos,
Me faz, até, chorar.
Eu sou o espasmo individual,
O que vai morrer, absorvido.
Eu vou morrer contigo,
Meu anjo aflito,
E em teu mundo infinito,
Vou ser um artefacto, inútil.
Eu gostaria de ver as nuvens
Serem levadas pelo vento.
Para que me seja possível
Provar a minha inocência.
Quero ver a minha palavra,
A registada nos tempos do céu,
Ser, a mim, devolvida.



AUTORA: Maria Joaquina Vieira

















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