A CONDESSA SEM CHETA

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MY BOOK

Wednesday, 29 June 2011

RIOS DA ALMA - O PASTOR DA GEADA




Desvendo esta página
Em branco, despida.
Ela conhece os meus jeitos,
Espontaneamente ansiosos,
Nela esquecidos, gravados.
Amores que não vivi!
A paixão que aquece,
Enternece e enlouquece
Morreu, há muito, para mim.
Os alegres vão discorrendo
Nos encantos da saudade.
Tudo me sobreveio!

Esta minha exultação
Não encontra protecção
Na noite em que me tornei.
São palavras que esqueci
Na amargura que vivi
Em meu corpo preso,
Derrotado por uma lágrima
Ao cair, assim, na página nua.
Já se desvaneceu, em mim,
A tinta que aqui deixo.
Borrão que eu não vejo,
Glória que já morreu.

Entre o eu e o que euscrevo
Existe, eu sei, caminho
Que nunca pensei pisar.
Ele atravessa o meu mar,
Longe do meu querer.
Do destino, nada sei!
Encontro o meu viver
Palmeando o mundo inteiro,
Abandonada à maré,
Procurando em mim
Uma imensidão sem fim.
O que à superfície não vem,
Está fechado dentro de mim.
A vida, como a senti!
Estou morta, estou farta
De ser perseguida e abandonada
Pelo muito que não vivi.

Quero ser o marinheiro
No seu destino embarcado.
Quero ser o pastor da geada
Que guarda rebanhos de nada.

Quero os sonhos que trago
Duma vida sem embargo,
Com tudo o que ela me der.
Quero sentir o meu destino,
Com tudo o que nele houver.
Quero sentir as palavras
Que traduzam o meu viver.
Quero ser a alma perdida!
Quero encontrar um regaço
E matar a dor que habita em mim.
Quero o calor de uns braços
Que me levem, num abraço,
À imensidão sem fim.
Quero ter, neste momento,
Tudo o que possa esperar.
Quero ser, quero amar,
Até a morte saciar.

Por: Joaquina Vieira
29/06/2011

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