A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday, 31 January 2012

RIOS DA ALMA - VAI, FILHA MINHA





Vai, filha minha,
Para onde te levar o destino.
Vai cantar com as andorinhas.
Vai, filha minha,
Para onde te levar o vento.
Vai, o mundo, descobrir
E repartir a tua alegria.
Vai, filha minha,
Vai doar-te à multidão.
Para que possa sentir tua acção,
Entra em todos os becos
E acode a gente aflita.
Entra dentro da alma,
Fala com ela, acalma-a,
Para que ela não grite mais.
Se fores, de amores, tomada,
Aí sim, será teu reino,
Aí será teu caminho.
Vai, filha minha,
Mostra a tua natureza
E distribui conhecimento
Para acordares inconscientes
Que vivem sitiados pela dureza.
Vai, filha minha,
Que te fazes urgente
 Para ajudares o Sol raiar.
Vai, filha minha,
Vai voar como um balão,
Vai para onde ele te levar.
Vai, filha minha,
Embarca na tua utopia
Que, teus pés te encaminharão,
Para onde possas dar a mão
Aos desafortunados do mundo.
Vai, filha minha,
Que, para eles, tudo serás.
Serás, até, o seu futuro.
Vai, filha minha,
E deixa as ilusões à porta,
Que elas são passageiras do tempo.
Vive agora o presente,
Que ele é, também, urgente,
Para o futuro ser gente.
Vai, filha minha.
Por esse caminho adentro,
Tudo afrontando, sem medo.
Vai, filha minha,
Até onde encontrares a paz.
Aí será a tua casa.
Vai, filha minha.
Vai, por ti,
Vai, por mim!

AUTORA : JOAQUINA VIEIRA


Saturday, 28 January 2012

NO DESCONHECIDO


Pela porta entreaberta,
Meu olhar se perde
Na largueza da penumbra,
Meu pensamento, vazio,
Ao vazio se entrega.
Pensamentos sombrios
Amontoam-se no meu pensar.
Será do dia, ou vem da noite,
A luz que quer entrar.
Corpo esguio, silencioso,
O que entra hesitante, receoso,
                Vindo da desconhecida névoa.
O mundo que, para lá, existe,
Será que me interessará?
Sou uma alma errante,
Por vezes, hesitante.
Deambulo, no silêncio,
Entre o vazio e o medo.
Frágil, minha alma avança.
Ainda que se sinta acorrentada,
Como que vá para o degredo,
Vestindo seu traje de festa.
Ela espreita, incerta, para fora,
E descobre os raios da aurora
Que ora entram, ora saem.
É neste modo de hesitar
Que nosso encontra se dá.
E as duas voamos,
Para lá deste pensar.
Minha alma abandona-me,
Desnudada, num deserto.
Pés descalços, areia quente,
Sinto que estou no inferno.
Quem me roubou o optimismo,
Com o qual, antes, me cobria.
Ainda hoje me aproximo
Da porta que está entreaberta,
Mas não sei como a passar.
Quem, de mim, roubou,
O véu que me tapava,
Que tudo me mostrava.
Já morei em castelos
Onde fiz minha mortalha.
Já fui amazona, noutras eras,
Galopando, em liberdade,
Com o rosto descoberto.
Hoje tenho medo de passar
Pela porta entreaberta.
Que ofusca meu olhar,
Neste tempo, temente.
Meu corpo treme do frio,
Onde deixou a semente.
Fundi-me, entre castanheiros
E outras árvores bravias.
Já fui lenha de lareira
E já, comigo, se construíram
Navios de ousadia.
Hoje, sinto-me temerosa,
Lendo o esvair da vida,
No fim de cada dia que acaba.
No meu corpo ainda resta
A força da antiga guerreira
Que, em outras vidas,
Antigas existências,
Ousou ser aventureira.
Mas vou ignorar esta porta
E avançarei, no desconhecido.
Farei planos, concretos,
E plantarei oásis, reais,
Nas miragens do deserto.

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA
28/01/2012

Monday, 23 January 2012

SONHOS DE REALIDADE




Solidão, amiga minha,
De entre todas, a maior.
Só tu me podes acompanhar,
E a tua mão me dares,
Quando sofro, no vazio.
E ajudas-me a pensar
Na humana condição,
Na precária existência.
É, contigo, solidão,
Que me consigo encontrar
E novos trilhos traçar,
Na minha precária presença,
No tempo que me foi cedido.
Infelizes, ai daqueles
Que nunca se detiveram,
Nem que fosse por um instante,
Para pensarem na sua pequenez.
Meus sentidos se ausentam,
Quando rodeada de gente
Que me distrai e desvia,
Do meu dilema.
És tu, solidão,
Que me destapas o véu,
Para que me aperceba
Da jangada que ainda me resta
Depois de naufragada toda a armada.
Porque tudo me desencanta,
No desencanto dos vulgares,
E passado o tempo de me dar,
De concorrer para o grupo,
Chegou o tempo para pensar,
E, só na tua companhia, viver.
Viver na mente, com simplicidade,
Com o saber que procuro
Como único alimento.
Só ele me pode aliviar o tormento,
Dos tempos duros de Inverno,
Do Inverno do corpo
Mais duro que o do tempo.
Que este passa e aquele não.
Do que sou feita, não sei.
Apenas sei, sem hesitação,
Que pertenço a algo maior
Nesta ou noutra dimensão
Que me alojou neste plano.
Eu te saúdo, solidão,
Concubina, companheira,
Dos sonhos da minha realidade.

Autora: Joaquina Vieira
23/01/2012

Thursday, 19 January 2012

MOMENTO DE ALMA - LÁGRIMAS DE SANGUE



Porque choras, muda,
Pálida boneca de porcelana?
Bem desenhada, olhos molhados,
Em tua face sem expressão.
Quem, em ti, pôs a mão?
Um rosto dentro duma face.
E selaram os teus lábios,
Para a tua boca calar.
Enfeitaram a tua cabeça
Com linhos brancos, a esvoaçarem.
Quem assim te quis pintar
Não soube ver a mutilação
Em teu rosto de assombrar.
Tua expressão de candura
Espelha a tristeza do mundo.
Como teus olhos negros, abertos,
De espanto, bem despertos.
Tuas pestanas postiças,
São só para te enfeitarem.
Não te podes defender,
Nem com palavras combateres.
E aqueles que te conceberam
Não tiveram nem um vislumbre,
Do que se é ser mulher.
És um reflexo do sonho
De quem te quis calada.
Tua expressão denuncia
A tua sorte, a tua sina.
Virá um pintor, um dia,
Que a venda te retirará.
E tua boca desenhará.
E teus lábios sequiosos,
Poderão, outros, beijar.
E, cheios de sede, se abrirão
Para palavras, por dizer.
E, com alma, se entregarão,
Ao pintor que, com sua mão,
Os desejou e pintará,
Para nunca mais se calarem.
E serás atirada, oferenda,
Para as calendas da razão,
Onde ninguém jamais prenda,
Nunca mais, teu coração.
Serás, para sempre, o vulcão
Que, com teu olhar, se incendeia.
E com tua voz de razão,
Farás palestras e adestras.
E tuas palavras mestras
Provocarão espanto e emoção.
Serão tua boca e teu coração
Que nunca mais se calarão.

Autora: Joaquina

 08/01/2012

Sunday, 15 January 2012

À TONA DOS SENTIDOS


Penso, ao momento, nos tempos
Que as memórias vêm reclamar.
Nas praias, nos areais,
Onde, cândida, me banhava,
Nas brisas que me refrescavam
E onde me sentia reconciliar.
E depois, nova etapa, recomeço.
E cada vez mais vou sentindo,
Que o tempo me vai fugindo,
Deixando marcas de fim,
Ganhando marcas de tempo.
E a vida, sorrateira, atenta,
Vai caminhando, a meu lado.
Mas, por vezes, é tão pesada
Que, todo o meu optimismo,
Nas estações, me abandona,
Dando lugar ao desânimo.
E flutuo, à tona dos sentidos,
Neste mundo complicado
Que, o sinto no fundo do meu ser,
Nos confins da minha alma,
Como um pesado fardo,
Que terei que suportar,
Porque assim terá que ser,
Porque é assim que é viver,
Porque, assim, é ser e estar.
E creio ser razão bastante,
Para tudo entender,
Para tudo ver.
É então que dou graças
E que posso agradecer
Tudo o que a vida me dá.
Mas o tempo que trás os dias
Vai trazendo, também, o fim.
Hoje, sinto todas as dores.
Elas residem, dentro de mim,
Sempre em estado de alerta.
Mas ainda me sinto viva,
Viva, atenta, desperta.

Autora: Joaquina Vieira
12/08/2008

Friday, 13 January 2012

PERDIDOS NA IMENSIDÃO


Entre o teu e o meu olhar
Habita a infinita escuridão.
Quem, enfim, somos nós
Nesta perdida imensidão?
Meus olhos, nos teus poisados,
Os teus, nos meus, mergulhados,
Procurando uma explicação.
Por trás da tolerante cortina
Cobre-nos uma luz, que ofusca.
Através dela, espreitamos,
Procurando um caminho.
Aventureiros, como sempre,
Avançamos, no desconhecido.
Para trás ficaram os recados,
Da nossa lembrança, passados,
Em que ambos navegámos
E na esperança remávamos.
E nos instantes que semeámos
Esperamos o que está para vir.
Nossos olhos vendados
Num jogo de meretriz
Entre o verde o amarelo.
Amassámos, com nossas mãos,
Um futuro de paragens
Onde poderemos repousar.
Nos segredos de cada um
Navega um barco desnorteado.
Virá a ventania, o nortear?
Se eu fosse a tua ninfa,
As velas levantaria,
O barco, pilotaria
E, de teu corpo, trataria.
Porque más são as situações
Que tens vindo a enfrentar.
Nesse teu ancoradouro,
Nesse teu templo ancorado,
Entrarei, por ele adentro,
Com um bálsamo na mão.
E curarei as tuas feridas
E aliviarei teu coração…

AUTORA: JOAQUINA

13/01/2012

Sunday, 8 January 2012

AO ENCONTRO DA INSPIRAÇÃO


É nos dias cinzentos
Que flutuam, difusas,
Fugidias atormentações.
E é com a neblina invernal,
Nestes dias tristes, sombrios,
Com a chuva por companhia
Que, minha alma nostálgica,
Me recorda que é dom, viver.
É, entre as estações, a diversa
Quando os elementos, pungentes,
Me relembram que é Inverno.
Apesar do frio e da chuva,
Do vento que corta o ânimo
E dos nevões e trovoadas,
Também espreitam raios de Sol
E o mais formosos arco-íris.
Mas é nesta temida estação
Onde encontro a inspiração.
As ruas e avenidas desertas,
Abrem fileiras, para mim.
E cumpro o meu caminho,
Entre a chuva miudinha
E as árvores que dançam.
Pode o meu corpo estremecer
Quando, se desprevenida,
O frio, incómodo, me arrefece.
Mas é, nesta minha estação,
Quando a Terra vem preparar
A Primavera que quer entrar.
E é quando desenho picos
E cordilheiras nevadas
Em páginas de inspiração.

Autora: Joaquina Vieira


10/12/2011