A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday, 19 January 2012

MOMENTO DE ALMA - LÁGRIMAS DE SANGUE



Porque choras, muda,
Pálida boneca de porcelana?
Bem desenhada, olhos molhados,
Em tua face sem expressão.
Quem, em ti, pôs a mão?
Um rosto dentro duma face.
E selaram os teus lábios,
Para a tua boca calar.
Enfeitaram a tua cabeça
Com linhos brancos, a esvoaçarem.
Quem assim te quis pintar
Não soube ver a mutilação
Em teu rosto de assombrar.
Tua expressão de candura
Espelha a tristeza do mundo.
Como teus olhos negros, abertos,
De espanto, bem despertos.
Tuas pestanas postiças,
São só para te enfeitarem.
Não te podes defender,
Nem com palavras combateres.
E aqueles que te conceberam
Não tiveram nem um vislumbre,
Do que se é ser mulher.
És um reflexo do sonho
De quem te quis calada.
Tua expressão denuncia
A tua sorte, a tua sina.
Virá um pintor, um dia,
Que a venda te retirará.
E tua boca desenhará.
E teus lábios sequiosos,
Poderão, outros, beijar.
E, cheios de sede, se abrirão
Para palavras, por dizer.
E, com alma, se entregarão,
Ao pintor que, com sua mão,
Os desejou e pintará,
Para nunca mais se calarem.
E serás atirada, oferenda,
Para as calendas da razão,
Onde ninguém jamais prenda,
Nunca mais, teu coração.
Serás, para sempre, o vulcão
Que, com teu olhar, se incendeia.
E com tua voz de razão,
Farás palestras e adestras.
E tuas palavras mestras
Provocarão espanto e emoção.
Serão tua boca e teu coração
Que nunca mais se calarão.

Autora: Joaquina

 08/01/2012

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